sexta-feira, 29 de julho de 2022

Manchas de óleo voltam a aparecer em praias baianas

 


A exuberância do azul do mar da Baía de Todos os Santos, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), tem sido manchada por borras pretas de óleo. Moradores de São Francisco do Conde, a 80 km de Salvador, contaram que desde a quarta-feira (20) manchas de óleo apareceram nas praias e manguezais da região e estão avançando, tendo chegado em Madre de Deus, cidade vizinha. O surgimento, ainda sem explicação, impede a atividade de pescadores e marisqueiras, além de afetar a vida marinha. Segundo a Associação de Pescadores e Maricultores de Madre de Deus e São Francisco do Conde, cerca de 10 mil pescadores atuam na região. Alex Bandeira, 56, é um deles. Ele começou o ofício há uma década por estar desempregado e encontrou na pesca uma fonte de renda. Com o surgimento das manchas, no entanto, diz que seu lucro reduziu 100%. O presidente da entidade de pescaria, José Santos, conhecido como Zé Tunel, ressalta que a atividade pesqueira é a primeira afetada. Isso porque, mesmo que o trabalhador consiga pescar, o gosto do óleo vai se impregnar no peixe e gerar desconfiança nos clientes. Do mesmo modo, as marisqueiras não conseguem gerar renda pela dificuldade em separar a borra dos siris e ostras durante o cozimento. Para além do comercial, Tunel ainda afirma que animais marinhos já foram encontrados mortos na região, em decorrência do aparecimento das manchas. Também já é notada diminuição de mariscos e ostras. Pescadores dos municípios vizinhos explicam que as correntezas conduzem o óleo a outras áreas como Madre de Deus, sendo a expansão para outros municípios a maior preocupação dos moradores. Envolvido com atividade pesqueira desde pequeno, Domingos Rosa, 63, conta que os moradores se queixam há mais de 20 anos das atividades que envolvem petróleo na região. Segundo Domingos, a colônia de pescadores e a Petrobras chegaram a concordar em um projeto para tirar objetos do mar, mas depois de 2009 - quando saiu da liderança da colônia - a situação se agravou. “O sentimento é de tristeza porque a gente chega no manguezal para tirar o marisco e está cheio de óleo. Se vai tirar caranguejo, vê a nata do óleo subir e, se vai para o mar pegar peixe, a rede vem rasgada. Além dos vazamentos de óleo [...] tem os destroços das antigas torres de petróleo”, reclama. Diretor do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Francisco Kelmo diz que ainda não teve informações acerca da causa, mas é fato que a região já registrou outros vazamentos que geram efeitos na natureza até hoje. Em nota, a Petrobras informou que “monitora suas unidades e seu entorno em tempo integral e que não identificou anormalidades ou ocorrências nas operações na Bahia. Adicionalmente informa que não é mais operadora da área citada onde ocorreu o evento”. Em 2020, a empresa assinou contrato com a Ouro Preto Energia Onshore S.A., subsidiária integral da 3R Petroleum Óleo e Gás S.A., para venda de participação em campos de exploração na Bahia, incluindo o localizado na região afetada pelo óleo na semana passada. A reportagem entrou em contato com a 3R Petroleum Óleo e Gás S.A, no entanto, não recebeu retorno até o fechamento da matéria. Já a Acelen, refinaria de Mataripe responsável por cerca de 30% da produção industrial da Bahia, informou não ter registros de vazamento até o momento. Segundo o secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente de São Francisco do Conde (Seinfma), Luiz Henrique Basanez, foi realizada ontem verificação na orla da cidade por parte da prefeitura. A coleta dos materiais foi efetuada e será enviada a Ufba para investigação de origem do óleo. O município também entrou em contato com órgãos e autoridades ambientais e aguarda posicionamento oficial a respeito do ocorrido. A Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente de Madre de Deus (Sedumam) comunicou que está acompanhando o surgimento de manchas de óleo e, a princípio, não há nenhum indício de vazamentos nas operações portuárias, de transmissão e estocagem existentes no município. Amostras do material foram recolhidas para análise em laboratório. O Instituto Do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) disse que já está investigando o caso com a equipe técnica e recomenda que qualquer situação passível de acompanhamento pelo instituto seja formalizada por denúncia pelo Disque Denúncia: 0800 071 1400 ou e-mail denuncia@inema.ba.gov.br. Já o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) informou ter conhecimento da ocorrência através do contato com a reportagem, mas o núcleo de emergência ambientais já foi acionado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário