domingo, 31 de julho de 2022

Inicialmente usadas por políticos populistas, redes sociais podem se posicionar contra eles

 


Festival de preconceito nas redes sociais

Charge do Duke (O Tempo)

João Gabriel de Lima
Estadão

Os rankings internacionais usam terminologias diferentes, mas, na prática, dividem as democracias entre saudáveis, doentes, na UTI e clinicamente mortas. Nos últimos dez anos, democracias como Hungria, Índia e México foram parar na UTI. Há muito que Venezuela e Nicarágua estão clinicamente mortas. O Brasil ainda não atingiu esses estágios tenebrosos, mas rankings como V-Dem, The Economist e Freedom House já nos consideram uma democracia doente.

No V-Dem deste ano, o Brasil apareceu entre as dez democracias que mais perderam qualidade. Os índices detectaram um aumento da violência política e a deterioração do debate público.

O CASO ARRUDA – O assassinato do policial petista Marcelo Arruda, perpetrado por um militante bolsonarista, é um sintoma desses males. Como apontou o Estadão em editorial, era obrigação do presidente da República condenar veementemente o crime, e ele não o fez – outro sintoma.

Como recuperar uma democracia doente? Fiz essa pergunta ao cientista político Sérgio Abranches, um dos brasileiros mais citados em publicações internacionais por seus estudos sobre presidencialismo de coalizão.

Abranches acaba de publicar um esplêndido artigo no Journal of Democracy sobre o assunto, “A metamorfose social e a democracia”.

ADAPTAÇÃO URGENTE – Para Abranches, as democracias precisam se adaptar às forças que sacudiram o planeta nas últimas décadas: a globalização, a revolução digital, a explosão da sociedade em rede e a necessidade vital de combater a mudança climática.

Essas forças revolucionaram, entre outras coisas, o mundo do trabalho, criando insegurança para os cidadãos – que se tornaram, segundo o artigo, presas fáceis para “populistas e demagogos”, que prometem “um passado idealizado, fechado e seguro para os seus”.

As mesmas forças que desestabilizaram a democracia podem, no entanto, trazer sua redenção. O mundo digital isolou os indivíduos em bolhas, mas trouxe também ferramentas para que os cidadãos fiscalizem seus representantes eleitos.

DESCONFIANÇA CÍVICA – O desencanto com as instituições pode se converter no que Sérgio Abranches chama de “desconfiança cívica”, que elevaria os níveis da participação política.

Os líderes populistas que corroem as democracias por dentro constituem um problema novo, de solução ainda incerta. A leitura do artigo de Sérgio Abranches sugere que a vida deles fica mais difícil se usarmos as ferramentas digitais como instrumentos de cidadania, desmascarando suas mentiras e contribuindo para um debate público baseado em evidências.

Cabe a nós, em última análise, melhorar a qualidade de nossa democracia.

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