segunda-feira, 27 de junho de 2022

“A eleição na Bahia ainda não está resolvida”, diz cientista político

 


O cientista político e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Jorge Almeida, acredita que a eleição para o governo da Bahia ainda não está resolvida


Tribuna da Bahia, Salvador
27/06/2022 06:00 | Atualizado há 14 horas e 42 minutos

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Foto: Reprodução

Por Rodrigo Daniel Silva, Repórter e Paulo Roberto Sampaio, Diretor de Redação

Apesar da liderança folgada do ex-prefeito soteropolitano ACM Neto (União Brasil), o cientista político e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Jorge Almeida, acredita que a eleição para o governo da Bahia ainda não está resolvida.

“Não está resolvida. A campanha não começou ainda. O quadro só vai ficar mais claro depois do início da campanha oficial. A influência do horário eleitoral está menor do que em outros tempos, mas a televisão continua tendo parte importante em uma parte do eleitorado desinformado. Que não está informado pelas redes sociais”, avaliou ele, em entrevista à Tribuna.

Para ele, a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT) é inevitável. “Isso já está colocado. Do ponto de vista eleitoral, sem dúvida. Não há outra hipótese. Agora, se isso vai se resolver no primeiro turno ou não, está pendente”, afirmou.

Jorge Almeida também considera inevitável a influência da eleição nacional no pleito baiano. “A nacionalização sempre acontece aqui na Bahia também, apesar de na última eleição ter a vitória de Rui Costa com a vitória de Bolsonaro em nível nacional. Isso foi fruto da utilização da máquina do governo e da imagem positiva. Rui era uma candidatura de reeleição. Isso facilita”, pontuou.

Tribuna – Como o senhor avalia a conjuntura política atual do Brasil? Há um risco de ruptura?

Jorge Almeida – Bolsonaro sempre defendeu um golpe, e não vai tirar isso da cabeça. Agora, entre ele ter o desejo de dar um golpe e as possibilidades da sua realização, eu acho que é uma diferença muito grande. E, portanto, a minha opinião é que nunca no seu governo existiu efetivamente o risco claro de golpe. Ele se utilizou muitas vezes disso como forma de pressão, de agitação política, de aglutinação dos setores mais ideologicamente identificados, com posições de extrema direita, mas esse tipo de efetivação nunca teve na ordem do dia. Não é de interesse (um golpe) das grandes empresas, que costumam reforçar essa possibilidade de golpe, das Forças Armadas, nem da maioria da elite política do Brasil, nem também da maioria dos meios de comunicação. Esse grupo não precisa de um golpe para continuar efetivando as principais políticas do seu interesse. Então, nesse sentido, dificilmente eles dariam um cheque em branco para Bolsonaro para poder exercitar o poder de forma controle de particular maior ou sob controle das Forças Armadas.

Tribuna – O senhor acredita que a eleição presidencial se resolve no primeiro turno?

Jorge Almeida – Isso não está claro. Vai depender do processo político. Muita coisa ainda vai acontecer daqui até as eleições. Nós temos, por um lado, contra a Bolsonaro, uma péssima situação em que o país se encontra. O Brasil se encontra numa situação deprimente do ponto de vista econômico e social. A inflação crescendo cada vez mais, desemprego, precarização do trabalho, forte empobrecimento da classe média, cada vez mais claro o favorecimento do governo a oligopólios estrangeiros.

Tribuna – Mesmo com a economia nessa situação, há a possibilidade de Bolsonaro ser reeleito?

Jorge Almeida – As chances de ele ser reeleito são muito pequenas hoje. A situação está piorando, mas ele vai utilizar de todos os recursos possíveis para fazer isso (se reeleger). Nunca o Estado brasileiro foi tão aparelhado, manipulado do ponto de vista eleitoral. Ele aparelhou para manter uma maioria no Congresso, e viabilizar um enraizamento eleitoral de forma difusa pelo país. Como também, ele aparelhou numa série de medidas específicas para atender setores sociais mais diversos, seja das igrejas, seja com auxílios-emergenciais. Então, todo dia Bolsonaro consegue fazer algum tipo de manobra, com apoio do Centrão, para viabilizar a liberação de recursos que possam ter impacto eleitoral. Isso inviabilizou a terceira via, mas, por outro lado, não tirou ainda totalmente as possibilidades de Bolsonaro.

Tribuna – O senhor acredita que é inevitável a polarização entre Lula e Bolsonaro?

Jorge Almeida – Isso já está colocado. Do ponto de vista eleitoral, sem dúvida. Não há outra hipótese. Agora, se isso vai se resolver no primeiro turno ou não, está pendente. Evidente que, se entrar numa reta final e a candidatura de Bolsonaro começa a fazer água, vai ficando cada vez mais claro a sua possibilidade de vitória, poderá ocorrer uma dissidência dos setores da direita – chamada de centrão – que sempre foi muita oportunista. Então, se a candidatura de Bolsonaro começar a fazer água na reta final de campanha, pode haver condições para uma vitória de Lula no primeiro turno.

Tribuna – O antipetismo foi considerado uma variável decisiva na eleição de 2018. O senhor concorda? Há ainda esse sentimento do antipetismo no Brasil?

Jorge Almeida – Isso realmente aconteceu em 2018, e Bolsonaro conseguiu angariar votos que não eram necessariamente de extrema-direita ou de direita. Houve muito voto de insatisfação social, econômica, com a parte final do governo Dilma, que teve uma espécie de estelionato eleitoral. Ela fez tudo diferente do que prometeu. Além das denúncias de corrupção, tudo isso criou um clima de insatisfação. Acho que, desta vez, ocorre o oposto. Acho que essa parte do eleitoral, que tem a tendência de votar de forma mais pragmática, e muitas vezes votar por rejeição, agora se desloca contra Bolsonaro. Na minha análise de comportamento político eleitoral, o brasileiro vota de duas maneiras. Uma parte do eleitorado que vota por valores, por identificação ideológica. E tem outra parte que vota numa racionalidade pragmática, com base em uma avaliação de custo-benefício mais imediatista. Então, esse eleitoral flutua. Acredito que, na eleição de 2018, esse eleitorado acabou assumindo uma posição mais antipetista. E, agora, vai dar de uma maneira oposta. A tendência é votar em Lula no primeiro ou no segundo turno.

Tribuna – Há uma fadiga dos governos do PT após 16 anos do partido no poder da Bahia?

Jorge Almeida – Eu acho que esse termo fadiga não é muito apropriado para uma avaliação de comportamento político e eleitoral. Depende muito das circunstâncias. A fadiga pode acontecer em quatro anos. Bolsonaro, por exemplo, tem uma fadiga precoce. Por outro lado, o governo pode se manter por um período mais longo. Depende como ele atende as expectativas. Acho que a candidatura de ACM Neto aparece como uma novidade. Ele tem uma boa avaliação local. Ainda tem um recall de memória do que foi o velho ACM. Mas a campanha eleitoral está começando, e o governo do estado detém a máquina. O governador tem uma imagem política positiva. Melhor do que Jaques Wagner teve nos dois mandatos. Tem a relação com a candidatura de Lula, que é forte em nível nacional e na Bahia ainda mais forte. À direita na Bahia, eu diria, falta um pouco de discurso. O governo Rui Costa não se diferencia de um governo de direita.

Tribuna – A nacionalização da eleição, o senhor acha inevitável?

Jorge Almeida – A nacionalização sempre acontece aqui na Bahia também, apesar de na última eleição ter a vitória de Rui Costa com a vitória de Bolsonaro em nível nacional. Isso foi fruto da utilização da máquina do governo e da imagem positiva. Rui era uma candidatura de reeleição. Isso facilita.

Tribuna – O governador Rui Costa tinha naquela eleição uma imagem que agradava setores da direita, não é?

Jorge Almeida – Exatamente, e continuo agradando. Agora, tem um enfrentamento com ACM Neto, que também tem a imagem positiva. Mas ele (Rui Costa) tem a máquina na mão, e tem a recuperação da imagem do PT em nível nacional e na Bahia.

Tribuna - A eleição na Bahia, então, não está resolvida?

Jorge Almeida – Não está resolvida. A campanha não começou ainda. O quadro só vai ficar mais claro depois do início da campanha oficial. A influência do horário eleitoral está menor do que em outros tempos, mas a televisão continua tendo parte importante em uma parte do eleitorado desinformado. Que não está informado pelas redes sociais.


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