A confabulação de 2020 em Davos foi chamada de “Great Reset” [“Grande Recomeço” ou “Grande Reajuste”] e promovia as ideias do industrialista alemão Klaus Schwab para a reconstrução da sociedade e da economia depois da pandemia de Covid-19. Michael Brendan Daugherty para a National Review, com tradução para a Gazeta do Povo:
Por que será que os nossos líderes não conseguem imaginar nada além de um futuro de privação e controle?
Veja,
todo mundo já acreditou em uma ou outra teoria da conspiração. Os
americanos confessam exatamente isso em pesquisas. Em 2018, 66% dos
Democratas em uma pesquisa do YouGov disseram que era crível que a Rússia tivesse interferido na contagem de votos em 2016 para eleger Trump. Em 2022, o YouGov pesquisou os Republicanos e só 22% disseram que a eleição de Joe Biden foi legítima.
Estranhamente,
esses resultados inquietantes de pesquisas são em si um tipo de
conspiração em voga. Eis a minha teoria. Sem qualquer coordenação entre
eles, os respondentes a essas pesquisas usam a vantagem do anonimato
para dizer que acreditam no pior a respeito de seus inimigos políticos.
Ao expressar dessa forma a sua animosidade política, acabam
alimentando-a pelo outro lado. Esses respondentes partidarizados criam
desinformação por acidente a respeito de si próprios, isto é, que eles
são malucos com quem não se pode conversar racionalmente, só derrotar.
Assim, indivíduos agindo racionalmente acabam produzindo uma maior
irracionalidade.
E
isso me leva à reunião de muitos chefes de Estado, chefes executivos de
empresas e outras pessoas de elite no Fórum Econômico Mundial (WEF),
que está acontecendo mais uma vez em Davos, Suíça. O Fórum Econômico
Mundial é fonte permanente para teóricos da conspiração e adeptos do
QAnon, tendo superado há tempos a Comissão Trilateral, o Grupo Bildeberg
e o Bohemian Grove. [N. do T.: QAnon se baseia na alegação de que uma
ou mais pessoas com codinome “Q” revelaram que um grupo de pedófilos
poderosos que extraem substâncias misteriosas de crianças para sua
própria longevidade tramaram contra a reeleição de Trump; Comissão
Trilateral é uma ONG fundada em 1973 pelo banqueiro e filantropo David
Rockefeller para estimular cooperação entre o Japão, a Europa ocidental e
os EUA; Grupo Bildeberg é uma conferência anual iniciada no Hotel
Bildeberg nos Países Baixos em 1954 para evitar guerras mundiais e
fomentar o livre mercado no mundo; Bohemian Grove é um acampamento na
Califórnia pertencente ao “Clube Boêmio”, um clube exclusivamente
masculino que se reúne desde 1899 por duas semanas durante o verão, tem
homens ricos e famosos, da cultura e da política, como membros.]
A confabulação de 2020 em Davos foi chamada de “Great Reset”
[“Grande Recomeço” ou “Grande Reajuste”] e promovia as ideias do
industrialista alemão Klaus Schwab para a reconstrução da sociedade e da
economia depois da pandemia de Covid-19. Foi dos vídeos esquisitos de promoção do WEF, que faziam “Oito Previsões para o Mundo em 2030”, que veio a frase alarmante “Você não terá nada e será feliz”.
As
outras previsões diziam que haverá novos impostos climáticos, que você
terá órgãos feitos em impressoras 3D em vez de doados, que os imigrantes
serão bem recebidos, e que você provavelmente não comerá muita carne. A
palavra “reajuste” começou a aparecer em discursos do Joe Biden, do
primeiro-ministro canadense Justin Trudeau e da primeira-ministra
neozelandesa Jacinda Ardern. Pode-se ver resistência ao estilo de vida
descrito pelo Grande Reset sempre que um jovem conservador diz “Não
viverei em uma cápsula. Não comerei insetos.”
Davos
é uma valiosa oportunidade de networking para os seus participantes.
Permite que os chefes de empresas tenham uma boa chance de fazer lobby
junto ao governo americano para ganhar ajuda e advertir o
primeiro-ministro irlandês contra aumentar impostos, tudo no mesmo
almoço. Mas as obsessões de Schwab com a cooperação política global, com
o ambientalismo e “a quarta revolução industrial” — a ideia dele de que
o próximo grande salto na produtividade capitalista se dará pela
integração da tecnologia com a própria pessoa humana — garante que as
apresentações serão um misto de globalismo utópico que de alguma forma
combina visões de austeridade global (para reduzir emissões de carbono)
com pesadelos a respeito de um punhado de líderes corporativos e
políticos terem acesso direto à tua amígdala.
Eis a empolgação de um executivo da Pfizer com a ideia da obediência humana global ao tomar pílulas da Pfizer:
“O
presidente executivo da Pfizer Albert Bourla explica uma nova
tecnologia da Pfizer para uma plateia em Davos: ‘pílulas ingeríveis’ —
uma pílula com um pequeno chip que manda um sinal sem fio às autoridades
relevantes quando o fármaco tiver sido digerido. ‘Imaginem a
conformidade [dos pacientes com ordens médicas]’, diz ele.”
— Jeremy Loffredo, no Twitter, 20 de maio de 2022.
Ou
veja o presidente de uma das maiores multinacionais chinesas imaginando
um futuro em que todos os seus movimentos e tudo o que você come são
rastreados para dar a você uma nota que reflita o quão ruim é a sua vida
para o planeta.
“O
presidente do Grupo Alibaba, J. Michael Evans, no Fórum Econômico
Mundial, orgulha-se do desenvolvimento de um ‘rastreador de pegada
individual de carbono’ para monitorar o que você compra, come e para
onde viaja.”
— Andrew Lawton, no Twitter, 24 de maio de 2022.
E
eis o presidente executivo da Microsoft contando como os
desenvolvedores de software estão ganhando assistência da inteligência
artificial enquanto escrevem seus códigos. De forma que talvez todos os
trabalhos de escritório, ou todos os humanos, em breve terão um
“copiloto para toda tarefa cognitiva”.
“Satya
Nadella [CEO da Microsoft] diz que ‘ter um copiloto para toda tarefa
cognitiva está bem ao seu alcance’ graças ao poder da inteligência
artificial. Assista à sessão ao vivo aqui.”
— Fórum Econômico Mundial, no Twitter, 24 de maio de 2022.
Pensar-se-ia
que um futuro tecnológico com impressão 3D finalmente aumentaria a
produtividade de grandes artesãos, que permaneceu estagnada por séculos e
se tornou tão proibitiva que essas artes e profissões estão sendo
perdidas completamente para produtos pré-fabricados. Uma descoberta
desse tipo permitiria a reconstrução do ambiente físico nos estilos mais
luxuosos como o georgiano, Tudor ou espanhol colonial, porém
disponíveis para as massas. As fazendas e pastagens praticamente se
administrariam sozinhas, fazendo alimentos melhores, mais baratos e
entregando-os mais frescos. Os grandes educadores dariam aulas a todos
aqueles que as quisessem. As novas descobertas tecnológicas limpariam a
atmosfera.
Mas
de forma nenhuma é isso o que estão imaginando. Para a davosia [N. do
T.: trocadilho com burguesia], o futuro é que as suas tripas lhe delatem
e então chegue uma mensagem vibrando em todos os dispositivos da casa e
alertando a seus bichos de estimação que saiam da sala enquanto ela é
feita de câmara de gás sedativo para que você seja dopado em
conformidade com a Pfizer. Depois, uma multinacional chinesa lhe informa
que o incidente do gás sedativo e do esquadrão da Pfizer trouxe sérias
penalidades à sua nota de carbono, dessa forma adiando em muitos anos a
mais a sua tão esperada porção racionada de carne. Como auxílio no
futuro, o copiloto cognitivo da Microsoft tomará para si ainda mais
responsabilidades e tarefas antes creditadas a você.
Na
verdade, é uma crise para as elites globais que todas as ideias que têm
para a solução de problemas vão no sentido de subtrair mais da nossa
humanidade e mais da liberdade da nossa civilização. A única visão que
têm do futuro é a de uma população dopada, alimentada à base de comida
falsa, entretida por telefones grudados em sua cara e controlada por
máquinas. Elas veem a nossa reação negativa a isso e imaginam só mais
truques elaborados para nós, e sonham com labirintos insolúveis nos
quais possam nos jogar.
Essas
ideias parecem, quase ao pé da letra, os clichês das primeiras linhas
de um rascunho para um filme distópico, as palavras metidas na boca de
personagens para que sejam identificados como os supervilões do enredo
antes que o James Bond, ou o Jason Bourne, ou o Ethan Hunt apareça para
empalá-los com seus talheres caros.
E
eu digo essas coisas com toda a seriedade. Como os respondentes das
pesquisas do YouGov, as elites de Davos se apresentam como vilãs
incorrigíveis. As pessoas que falam desse jeito estão quase implorando
por homens de sangue quente que se levantem raivosos para destituí-las
violentamente. Sério. Parece até um desafio. Preocupo-me que o meu
próprio escore oculto de crédito social agora esteja sendo penalizado
severamente só por notar que essas pessoas estão dizendo coisas tão
doidas que a propulsão narrativa da história na qual estão se inserindo
só pode terminar com o seu arrependimento e conversão, ou com a sua
deleitosa derrocada.
***
Michael Brendan Dougherty é redator sênior do National Review Online.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

Nenhum comentário:
Postar um comentário