O ser humano da foto está sendo açoitado por um chicote empunhado por outro ser humano, e não por um verbo. A crônica de Paulo Polzonoff via Gazeta do Povo:
A
censura, seja ela oficial ou não, é como um aborto. O que talvez
explique por que a esquerda gosta tanto desse expediente. O feto, neste
caso, é a palavra que, por uma série de mecanismos, é extirpada do
ventre intelectual e jamais se transforma em ideia. O caso da jornalista
repreendida ao vivo por usar o inocente verbo “denegrir” é só mais um
desses abortos horrendos realizados em praça pública.
E
que se tornarão mais e mais comuns. Porque a censura a determinadas
palavras não obedece a nenhuma lógica lexical ou racial. A censura a
palavras como denegrir, criado-mudo, nhaca e até boçal (claro que não
poderia faltar o boçal!) é apenas e tão-somente uma demonstração de
força da turminha do “ódio do bem”. Essa mesmo que não pensaria duas
vezes antes de botar uma bala na nuca de quem se atrever a dizer que fez
qualquer coisa nas coxas.
Eles
não querem educar. E não estão nem aí para a história da palavra. O
sentimento das improváveis vítimas dessa “violência vocabular” tampouco
está no rol de preocupações da militância. O que eles querem é mostrar
quem manda. Quem berra mais alto. Quem tem mais amigos no Supremo
Tribunal Federal ou no conselho diretor do Twitter.
Não
há nada de mais pornográfico do que uma consciência que se troca pela
aceitação do grupelho. E é justamente isso o que se vê no caso do
coitado do verbo denegrir, que nunca açoitou nenhum negro no pelourinho.
A militância sabe que o verbo é inocente, que a ele não se pode imputar
quaisquer intenções racistas. A militância sabe que as pessoas denigrem
desde que o latim era língua corrente.
Mas
há fatos que, para a militância, não merecem ser levados em conta. A
realidade, para eles, precisa se conformar a um ideal artificialmente
construído. “Você vai acreditar em mim ou no que seus olhos veem e
ouvidos escutam?”, perguntam os líderes revolucionários. E ai daquele
que decidir acreditar nos próprios sentidos!
Os
militantes do movimento negro, movidos pelo ressentimento histórico,
querem subjugar aqueles que, em suas imaginações miseráveis, herdaram de
antepassados o desejo de escravizar seus semelhantes. Eles querem
humilhar. Querem que você peça desculpas. Querem que você baixe a
cabeça. Querem colocá-lo num tronco e açoitá-lo em praça pública –
exatamente como acontecia com os antepassados deles, num tempo que é uma
das grandes vergonhas da Humanidade, mas que felizmente ficou para
trás.
Ao
exaltar as trevas no embate claro x escuro contido em verbos como
denegrir ou esclarecer, é como se a militância assumisse preferir o breu
da ignorância amargurada, abandonando de vez a busca pela verdade –
simbolicamente representada por tudo aquilo que é claro e evidente não
só aos olhos, mas também à alma.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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