terça-feira, 31 de maio de 2022

A escola nega o valor pedagógico de pequenas frustrações?

 


 

Edésio Reichert

 

Todo pai e mãe, minimamente conscientes de suas responsabilidades, sabem que para bem educar seus filhos precisam,muitas vezes, dizer não a eles.

E entre tantas razões para dizer não, está a que se refere a causar pequenas frustrações aos filhos.

Então pais querem ver seus filhos frustrados? Não. Pais conscientes desejam que seus filhos sejam resilientes, isto é, que sejam capazes de superar pequenas adversidades, sobretudo quando seus desejos e vontades não são atendidos.

E por quê? Porque na vida adultanão há pessoa que não encontre dificuldades, sofrimentos, que precisam ser superados para seguir vivendo. E por isso convém, desde criança, passar por pequenas frustrações para aprender a superá-las.

Contudo, quando estes filhos vão para escola, que ambiente lá encontram, em se tratando de exigências de esforços, de cumprimento de obrigações, de não atendimento de seus desejos e vontades?

Alunos que não cumprem prazos de entregas de trabalhos e ganham mais tempo para entregar; provas cada vez mais fáceis para facilitar a nota dos alunos; progressão continuada (passa de ano sem ter comprovado aprendizagem); aprovação por conselho de classe; indisciplinas não corrigidas, etc. Uma série de ações no sistema de ensino que desprezam o mérito, o esforço, o cumprimento de regras. Praticamente a única exigência é a frequência nas aulase, mesmo assim, ainda pode ser aliviada por um conselho de classe.

E o que é mais preocupante: esta rotina no ambiente escolar durante os anos mais importantes na formação dos hábitos – infância e adolescência – que ajudam a modular o comportamento na vida adulta.

No livro Professor não é Educador, o Armindo Moreira diz à pág.33: “O que estamos fazendo (no sistema de ensino) não prepara para a vida, porque a vida é um encontro constante com pessoas boas e com pessoas más, com competências e com incompetências, com disciplinados e com indisciplinados”.

Não se trata aqui de defender a reprovação pura e simples, de alunos que não atingem notas ou demonstrem aprendizagens, ou mesmo de criar dificuldades acima da capacidade deles. Trata-se de implantar e fazer cumprir regras simples, de prazos, de atenção em provas, de disciplina em sala de aula, etc.,e que podem ter um efeito extremamente positivo no sentido de aprendizagem e outros hábitos, e assim melhor prepará-los para a vida.

Desde os primeiros dias e anos de escola, pais e alunos devem saber quena escola há regras a cumprir, há níveis adequados de aprendizagens que se não são forem atingidoso aluno poderá reprovar.

E aqueles que apresentarem mais dificuldades de aprendizagens, sobretudo crianças, deveriam receber atenção especial nos temas em questão.

Alguém poderá alegar que, em casa, muitos estudantes não recebem uma boa educação de seus pais,e outros tantos vivem em ambientes de completa desarmonia, famílias destruídas, envolvidas com todo tipo de perversidade, e por isso apresentam muitas dificuldades no ambiente escolar. Isto é verdade. Contudo, será que a escola estará ajudando este aluno ao aceitar atos de indisciplina, passando ele de ano, entregando-lhe um diploma ao final, sem que comprove aprendizagens mínimas? 

Fica evidente quea vida tal qual se mostra para todos os adultos, que contempla frustrações, dificuldades, êxitos, precisa fazer parte da rotina no sistema de ensino, em todos os níveis. Em vista disso, a filosofia de que um aluno não pode ser frustrado precisa ser superada. E para isto, os profissionais do ensino PRECISAM de todo apoio externo, e que o tema seja olhado com muito mais atençãopela academia, pelos que preparam professores, pelos que administram o sistema de ensino, pela elite de todos os setores produtivos do paíse, por fim, pelos que pagam a conta.

Ignorar um problema por ele se mostrar difícil demaisnão parece ser a melhor atitude de quem espera viver em uma sociedade melhor, em todos os sentidos.

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