Coluna de Carlos Brickmann, a ser publicada nos jornais de domingo, 24 de abril:
Deu
a impressão de que iríamos falar de ¨Brasil, País do Futuro”, livro que
Stefan Zweig lançou em 1941? Não precisamos voltar tanto ao passado: em
2018, no finzinho do governo de Michel Temer, o otimismo estava de
volta. Collor reabriu os mercados, Itamar deu a Fernando Henrique a
chance de abater a inflação com o Plano Real, Lula mostrou que tinha
condições de sincronizar o programa do PT com uma boa equipe econômica.
Dilma tentou acabar com isso, mas Temer, sem ambições de reeleição,
botou a Economia em ordem, implantou a Regra de Ouro (que, obrigando o
governo a segurar os gastos, levou a inflação e os juros para perto de
zero). Mas Bolsonaro foi eleito. E seu Posto Ipiranga era um Guido
Mantega com outro nome.
E
hoje? Lula promete voltar aos tempos de antes da Carta aos Brasileiros,
quer reestatizar, quer eliminar o limite dos gastos do governo (já
pensou se o Centrão puder gastar à vontade?) Bolsonaro quer minerar
terras de índios, extrair petróleo submarino em arquipélagos hoje
preservados, e nem fala em fiscalizar o desmatamento na Amazônia. É
ruim; e vai ficar ainda pior no momento em que o Primeiro Mundo,
alegando esse pretexto, restringir as importações do Brasil. Isso sem
contar, claro, a avalanche de fardados, mais a avalanche de despesas que
vão de alimentos e bebidas requintados a Viagra em quantidades
industriais, mais próteses penianas de alto custo.
Quanto à Terceira Via, continuamos aguardando uma ideia do que faria se ganhasse.
O deserto
O
desmanche da Floresta Amazônica é coisa brava: enquanto os generais
diziam que quase não havia perda de área florestal, duas fontes oficiais
(uma, a EBC, Empresa Brasileira de Comunicação, outra o INPE, Instituto
Nacional de Atividades Espaciais) informavam que em um ano o
desmatamento cresceu mais de 20%. A fiscalização foi afrouxada. E uma
das medidas mais temidas pelos desmatadores e garimpeiros ilegais, a
destruição de suas máquinas, foi abandonada. Assim que a fiscalização
vai embora, as máquinas voltam a funcionar.
O
Brasil vende a madeira ilegal para os EUA e Europa, que sabem
direitinho de onde as árvores vêm. No momento em que quiserem, é só
impor restrições aos produtos da área desmatada.
A vontade
Já
Lula ainda lamenta a derrota de seu candidato à reeleição na Prefeitura
de São Paulo, Fernando Haddad, para João Doria. Haddad formava dupla
com Gabriel Chalita, ex-alckmista de carteirinha, famoso por publicar
livros em ritmo alucinante. Palavras de Lula: “Uma das maiores tristezas
que tive neste país foi a gente ter o Haddad candidato a prefeito, o
Chalita candidato a vice e o povo de São Paulo votou no João Doria. Qual
o critério que induz a pessoa a deixar dois educadores de fora e eleger
alguém que não tem nem passado, nem presente e certamente não tem
futuro político?”
Talvez
o mesmo critério de Lula, que se candidatou a governador de São Paulo
contra um professor universitário, Franco Montoro, e se lançou duas
vezes à Presidência contra outro professor universitário, Fernando
Henrique. Perdeu as três. A propósito, Haddad perdeu para Doria por 53% a
16,7%.
Os nem-nem
E
os candidatos que tentam se lançar pela Terceira Via, “nem Lula, nem
Bolsonaro”? Na verdade, há um terceiro “nem”: nem programa de governo.
Este colunista acha que Doria fez um bom governo em São Paulo, admira o
trabalho e o caráter da senadora Simone Tebet, acredita que Ciro Gomes é
mais palatável que Bolsonaro ou Lula. Mas que é que cada um deles
propõe para o problema da fome que se alastrou pelo país? E quais
medidas propõe para reduzir o desemprego? Como evitar que garimpeiros e
madeireiros fora da lei continuem destruindo a floresta sem que sequer
tenham comprado uma área? Alguém tem algum plano para estimular a
produção industrial?
Houve
época em que boa parte dos trens do Metrô eram feitos no Brasil e
rodavam sobre trilhos aqui produzidos. Hoje os trilhos e os vagões são
chineses. O Brasil entra com o minério de ferro, que é trabalhado na
China e revendido para nós por preços muito mais altos. E criam empregos
lá, não aqui.
O superjuiz
Ainda
é cedo para saber o que ocorrerá com o episódio do perdão a Daniel
Pereira, assinado por Bolsonaro antes que fosse publicado o acórdão de
seu julgamento. Mas já se sabe que Bolsonaro pretende manter a mesma
rota: estuda a concessão da graça presidencial a Roberto Jefferson,
presidente do PTB, e aos blogueiros Oswaldo Eustáquio e Allan dos
Santos, este foragido nos Estados Unidos.
Já
de Sara Winter, que passou do feminismo do Pussy Riot, na Rússia, ao
bolsonarismo mais extremado, e paga caro por isso, não se fala: como na
letra de Caetano Veloso, “ela é apenas uma mulher”.
Este não
Eduardo
Leite, aspirante a Terceira Via, esteve com Paulinho da Força e Aécio.
Posou numa boa com Paulinho, mas não postou a foto de Aécio.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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