sábado, 26 de março de 2022

Vendidos por terras e títulos

 


Adriano Marreiros

 

O homem que se vende, recebe sempre mais do que vale...

Barão de Itararé

 

Quem não assistiu ao Coração Valente?[1] Quem não teve sua nobreza, sua indignação e sua coragem renovadas pelo filme por, ao menos, alguns minutos?  Acho que até os que nunca as tiveram sentiram sua falta naquele momento ou até se enganaram, por instantes, achando que tinham.

Quantas cenas fabulosas podemos citar do filme... quantas... Mas tem uma que nunca me saiu da memória:  a hora em que William Wallace envia o sinal para as tropas de dois nobres e estes as retiram do local em vez de apoiá-lo.  Os homens de Wallace são massacrados...  É aí que o Rei da Inglaterra comenta que um deles se vendera por terras e títulos e que o outro fora ainda mais barato...

Terras e títulos... Isso nunca me saiu da cabeça.  Cada vez que vejo alguém mudar seus princípios, tornando séria a piada[2] do Groucho Marx; cada vez que vejo alguém passar a defender coisas que jamais aceitou, cada vez que vejo alguém apoiar os indignos apenas para lucrar politicamente, apenas para ganhar títulos pomposos, apenas para ocupar cargos como um fim em si mesmos: lembro das terras e títulos...

E por vezes é ainda mais barato, como o segundo nobre... É por bem pouco mesmo, por convites pra festinhas, por um titulozinho de aspone, ou pra não contrariar um grupo ou até só pra fazer média com quem não merece: e às vezes por mero medo da crítica, oh, coração covarde!

Lembro do olhar do Mel Gibson naquela cena... Eu o veria constantemente no espelho se tivesse um à mão a cada vez que vejo quem eu achava nobre trocar de lado, se omitir, trair pessoas, esquecer princípios, apoiar o mal ou lutar contra a própria Liberdade por terras, títulos e por muito menos.  E o mais triste é saber que não mudaram: apenas se revelaram...

E o “muito menos” é o mais comum, pois terras e títulos de verdade, potestades, dominações e principados das trevas guardam apenas para si enquanto usam os vendidos como peões em um xadrez infesto onde estes serão as únicas peças sacrificadas pelo jogador: ou você acredita mesmo que pra vender a alma precisa assinar um contrato com sangue na presença do Maligno?

“Lutem, e pode ser que morram. Corram, e vocês vão viver. Pelo menos por um tempo. E morrendo em suas camas, daqui a muitos anos, vocês vão querer trocar todos esses dias que tiveram por uma chance, só uma chance, de voltar aqui e dizer aos seus inimigos que eles podem tirar nossas vidas, mas não podem tirar nossa liberdade”. William Wallace, no filme Coração Valente

 P.S. Compre o livro de crônicas aqui: < https://editoraarmada.com.br/produto/2020-d-c-esquerdistas-culposos-e-outras-assombracoes-colecao-tribuna-diaria-vol-iii/ >

 Crux Sacra Sit Mihi Lux / Non Draco Sit Mihi Dux 
Vade Retro Satana / Nunquam Suade Mihi Vana 
Sunt Mala Quae Libas / Ipse Venena Bibas

(Oração de São Bento cuja proteção eu suplico) 

*       Adriano Alves-Marreiros (Que vem se decepcionando a cada dia...) é cronista, Mestre em Direito e membro do MCI e MP Pró Sociedade. Autor dos libros “2020 D.C. Esquerdistas Culposos e outras Assombrações” e “Hierarquia e Disciplinas são Garantias Constitucionais”.

**       Publicado originalmente no excelente portal Tribuna Diária - https://www.tribunadiaria.com.br/

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