O que o PT propõe é fechar os olhos para a realidade e iludir o brasileiro com a expectativa de uma aposentadoria razoável sem que sejam necessários muitos anos de trabalho, uma combinação impossível. Editorial da Gazeta do Povo:
A
série de propostas do Partido dos Trabalhadores para destruir a
economia nacional caso a legenda retorne ao Palácio do Planalto não tem
fim. Depois do teto de gastos, da reforma trabalhista e da política de
preços de combustíveis, o novo alvo do petismo é a reforma da
Previdência. A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, afirmou no
Facebook que “O PT realiza estudos para ‘reconstruir’ em eventual novo
mandato de Lula o sistema previdenciário público, destruído em parte
pela reforma da Previdência, de Jair Bolsonaro, e pela reforma
trabalhista de Michel Temer”. A deputada não entra em detalhes, mas não é
preciso especular muito para imaginar que se trata de desfazer o que
foi feito em 2019, afrouxando as exigências para obter a aposentadoria e
estabelecendo cálculos mais camaradas para o valor dos benefícios.
O
petismo segue firme na crença de que o dinheiro público brota
espontaneamente nos cofres do Tesouro Nacional e pode, então, ser gasto à
vontade, como se não houvesse amanhã – é o mesmo caminho da “nova
matriz econômica” que levou o Brasil à pior recessão dos últimos 100
anos, cortesia de Dilma Rousseff, Guido Mantega, Nelson Barbosa e Arno
Augustin. Dificuldades com a matemática – e, de uma forma mais ampla,
com o bom senso – não são exclusividade dos petistas, certamente, mas ao
propor uma reversão da reforma da Previdência eles demonstram estar um
passo à frente de outros populistas quando se trata de esfacelar as
contas públicas.
Em
2021, a União fechou o ano com déficit primário de R$ 35,1 bilhões, mas
o número poderia ter sido muito diferente se os regimes previdenciários
fossem sustentáveis. Apenas o Regime Geral de Previdência Social, que
ampara os trabalhadores da iniciativa privada, teve déficit de R$ 262,2
bilhões no ano passado. O rombo dos regimes próprios de previdência, que
correspondem ao funcionalismo e a pensões e inativos militares, foi de
R$ 99,1 bilhões. Ou seja, toda a Previdência sugou R$ 361,3 bilhões. Se
não fosse pelo déficit da Previdência, o governo não só teria um
superávit primário robusto como estaria próximo até mesmo de zerar o
déficit nominal – aquele que inclui o pagamento dos juros da dívida –,
que em 2021 foi de R$ 383,7 bilhões.
No
curto prazo, a tendência é de que o rombo da Previdência continue na
casa das centenas de bilhões de reais, já que os efeitos da reforma de
2019 só devem ser sentidos no médio e longo prazos. E, se há algo que
pode ser criticado nas mudanças feitas no primeiro ano do mandato de
Jair Bolsonaro, foi o fato de elas não terem sido tão intensas quanto
deveriam. A tramitação no Congresso acabou atenuando a reforma e
perpetuando algumas distorções em benefício do funcionalismo – e, dentro
dele, para algumas categorias em especial –, negando o caráter
igualitário que estava na ideia original do Ministério da Economia. Como
resultado, a economia estimada (e “economia”, neste caso, é força de
expressão, pois se trata apenas de gastar menos, e não de efetivamente
fazer entrar dinheiro no cofre) ao longo das décadas foi bastante
reduzida, de R$ 1,2 trilhão para R$ 800 bilhões.
O
“bônus demográfico” brasileiro está sendo desperdiçado, e o país tem
tudo para envelhecer antes de enriquecer. Haverá cada vez menos
trabalhadores na ativa para sustentar aqueles que já deram sua
contribuição para o país – é assim que funciona a previdência
brasileira, no regime de repartição, ao contrário do regime de
capitalização, em que cada trabalhador constrói o próprio “bolo” para
ser usufruído quando da aposentadoria. Sem atualizações de regras que
reequilibrem constantemente as receitas e as despesas, o resultado
provável, ainda que distante, é o colapso do sistema previdenciário
público brasileiro. O que o PT propõe é fechar os olhos para a realidade
e iludir o brasileiro com a expectativa de uma aposentadoria razoável
sem que sejam necessários muitos anos de trabalho, uma combinação
impossível.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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