No TCU, o Estado de Direito está sendo queimado por charutos de gente embriagada pelo poder (e por vinhos de 30 mil reais a garrafa). Mario Sabino para O Antagonista:
O
que está ocorrendo no Tribunal de Contas de União (TCU) é espantoso. Um
procurador que gosta de holofotes, Lucas Furtado (foto à direita) ,
oficia dentro de um processo de outro procurador, Julio Marcelo de
Oliveira, para promover uma caçada política a Sergio Moro, com uma
história sem pé nem cabeça. Tudo em combinação com um ministro do
tribunal, Bruno Dantas, homem de confiança de Renan Calheiros. A
vigarice ficou mais explícita depois que Luca Furtado havia resolvido
cair fora dessas história, mas voltou à carga, para pedir a
indisponibilidade dos bens de Sergio Moro, porque ele teria cometido
sonegação fiscal com os ganhos obtidos no emprego na empresa americana
de consultoria e compliance. Sergio Moro não só revelou seus
rendimentos, como não cometeu sonegação. O mais espantoso é que Lucas
Furtado, além de tentar surrupiar o caso de Júlio Marcelo de Oliveira no
TCU, agora quer se imiscuir no trabalho da Receita Federal. A falta de
vergonha é tanta que, como publicamos, ele disse a O Globo, pelo
WhatsApp, que Júlio Marcelo de Oliveira “queria entrar para blindar o
Moro e toda a Lava Jato”, e que o ministro Bruno Dantas poderia usar o
seu novo pedido para abrir outro inquérito no qual o procurador natural
do caso não poderia atuar. A manobra fede de tão podre, e está claro que
se trata também de perseguir Júlio Marcelo de Oliveira, o procurador
que descobriu as pedaladas fiscais de Dilma Rousseff.
É
monstruosidade jurídica atrás de monstruosidade jurídica. O fato leva a
um pergunta retórica e a uma conclusão óbvia. A pergunta: onde estão
aqueles ministros do Supremo garantistas, aqueles parlamentares
exaltados, aqueles jornalistas abnegados, aqueles militantes em redes
sociais, aqueles advogados do clube do vinho e do charuto Prerrogativas,
que enlamearam a Lava Jato, uma operação anticorrupção feita dentro da
lei, acusando-a de ferir o Estado de Direito? Tão preocupados com a
preservação do Estado de Direito, e apenas com isso, eles não deveriam
estar defendendo o Estado de Direito nessa história contra Sergio Moro?
Não,
eles estão ou calados, e possivelmente com um sorriso nos lábios, ou
agindo nas sombras para inviabilizar a candidatura do ex-juiz, ou
comemorando abertamente, na linha de que o feitiço virou contra o
feiticeiro: “Moro agora está experimentando o que o Lula e outros
injustiçados sofreram nas mãos dos procuradores da Lava Jato”. Mas,
ainda que fosse remotamente verdadeiro que a operação tivesse perseguido
injustamente os implicados no escândalo de corrupção na Petrobras (e
não há uma migalha de verdade nisso), Estado de Direito é Estado de
Direito, vale para todo mundo, certo? Quem teria cometido
arbitrariedades não pode ser vítima de arbitrariedades. A lei do Talião é
o contrário do Estado de Direito.
A
conclusão é que o apoio — silencioso ou barulhento — a essa malandragem
no TCU despiu de vez essa gente toda da fantasia de democratas
intransigentes. Nunca foram defensores do Estado de Direito coisa
nenhuma. São militantes petistas interessados apenas em livrar o seu
chefão da cadeia e colocá-lo outra vez no Palácio do Planalto, para
felicidade do partido e o mal-estar geral da nação. E contam para isso
com o suporte de gente muito graúda interessada em que nada mude para
que tudo continue como sempre foi. O Estado de Direito está sendo
queimado por charutos de gente embriagada pelo poder (e por vinhos de 30
mil reais a garrafa).
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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