terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Degustei o rodízio de uma pizzaria petista. Confira o cardápio.

 



Pizza Lula Livre: Recheio de calamar temperado com lágrimas de bolsonaristas e flambado na cachaça (muita cachaça). Paulo Polzonoff para a Gazeta do Povo:


Algum petista (suponho) mais preocupado com as massas do que o próprio PT abriu a pizzaria O Lulismo, em Garanhuns, cidade do interior de Pernambuco e terra natal do ex-presidente. Infelizmente a Gazeta do Povo se recusou a pagar minha viagem para degustar os excelentes sabores originais do empreendimento pizzo-político-partidário, por isso tive de recorrer a ela que sempre me salva nesses momentos: a imaginação.

Foi assim que, num piscar de olhos, me vi transportado para a terra escorchante de Garanhuns. O cenário é aquela coisa que eu só conhecia de romances cheios de consciência social que se passam na caatinga: cactos e mais cactos, casas de pau a pique e uma ou outra criança barrigudinha dizendo querer ser o futuro presidente do Brasil. E por esse retrato totalmente preconceituoso e falso o leitor já tem uma noção do quanto desconheço a cidade que, segundo a Wikipedia, é chamada de “a Suíça pernambucana”.

Cada um tem a Suíça que merece, né? Que seja. O fato é que fui até a pizzaria. Logo na porta, a primeira dificuldade nessa minha jornada do herói calvo ensopado de suor e à beira de uma insolação: um segurança muito parecido com o Tico Santa Cruz, ao ver minha cara de coxinha/fascista, pôs a mão no meu peito e perguntou qual era a senha. Cruzando os dedos, falei a primeira coisa que me veio à mente (“Lula livre”) e ele me deixou entrar.

Não sei se foi sorte ou azar, o lance da senha. O fato é que, assim que entrei no recinto, me deparei com uma decoração no mínimo curiosa. Para além dos muitos retratos de Lula nas paredes, havia toalhas bordadas com as iniciais L&M e bilhetes assinados por uma gente fina como Marcelo Odebrecht, Cerveró e, claro, José Dirceu. Num canto, havia um pedalinho no qual se lia “Eu <3 Atibaia”. Perguntei ao garçom de quem era aquilo e ele, rindo, respondeu que não era dele, e sim de um amigo.

Antes de me sentar, tateei os bolsos e, ufa, a carteira ainda estava lá. Requisitei o cardápio ao garçom e fiz algo que jurei jamais fazer na vida: pedi o serviço de rodízio, de modo que pudesse saborear cada um dos 13 sabores disponíveis.

Cardápio

Pizza Chega Mais, Alckmin: O rodízio começou com uma novidade no cardápio: a pizza Chega Mais, Alckmin. Massa bem fina e besuntada no azeite moral, com recheio de queijo Isopor, uma discreta folha de alface e uma rodela de chuchu. Servida com um delicioso copo de água fervida.

Pizza Tchau, Querida: Na pizzaria, só os que sobrevivem ao maquiavelismo indigesto da primeira fatia têm o privilégio de dar continuidade ao rodízio. E podem saborear o secondo piatto dessa experiência político-gastronômica: a pizza Tchau, Querida. Recheada com muita abobrinha e uns pedaços de mandioca (“Não é para comer; é só para saudar”, me explica o garçom), a pizza vem ainda com borda recheada de vento.

Pizza Verba Volante: Jiló, almeirão, chicória e quiabo recheiam essa pizza para lá de amarga. O cliente pode optar pela borda recheada de mesóclise. “Comê-la-ei sem mesóclise. Mas será que dá para acrescentar uns latinórios?”, perguntei ao garçom. Como o latim estivesse em falta, ele me ofereceu uns regionalismos que eu a contragosto rezistrei e aceitei.

Pizza Meus Amigo du Sindicatu: Tudo tem limite nesta vida. Inclusive meu espírito jornalístico. Assim que a pizza Meus Amigo du Sindicatu chegou à mesa, recusei. O garçom disse que eu não podia recusar, que consumir a pizza era obrigatório. “A não ser que você mande uma cartinha para o sindicato”, me instruiu o garçom. Joguei a pizza longe. Talvez eu tenha sido um pouquinho deselegante, mas paciência. O recheio era de parasitas supostamente comestíveis.

Pitça Paulo Freire/MST: Moio, calabreza, beico, orégo, mangericão, prezunto e queijo xéda. Todos os ingrediente foi produzidos em terras espopriadas por os camponeis.

Pizza Meu Chapa do STF: Esta é a pizza customizável do cardápio. São ao menos 9 opções de recheio, que variam do frango com polenta frita à lagosta. Na compra de uma pizza Meu Chapa do STF, o cliente ganha um brinde que pode ser um habeas corpus preventivo, um mandado de busca de apreensão na casa de um adversário político ou (o brinde mais cobiçado de todos) uma anulação de sentenças ratificadas pelas instâncias inferiores. Adivinha qual eu ganhei!

Pizza 3,6 Queijos. Era para ser uma pizza 4 Queijos normal, com gorgonzola, parmesão, provolone e mussarela, muçarela ou mozzarella. Mas 10% foi desviado para a consolidação do projeto socialista do PT.

Pizza à moda do PT. No cardápio, parece uma pizza honesta: molho de tomate, queijo, presunto, azeitonas, ovos e orégano. Quando chega à mesa, contudo, é um calzone recheado com uma mistura de ketchup, água e farinha. O garçom diz que “faz parte da experiência político-gastronômica da casa”. E eu finjo que acredito.

Pizza Chico Buarque Guerreiro do Povo Brasileiro: Esta pizza é servida com acompanhamento musical. Levei até um susto quando surgiu assim do nada um sósia do Chico Buarque nada parecido com ele. De qualquer forma, ele cantou:

Mulher

Você vai assar

Um montão de crostini pra acompanhar

Pepperoni, tomate seco e a malagueta

E catupiry falso pra dobrar a meta

Joga a massa, o bacon, o lombinho no fornão

E pode confiar no Partidão

Pizza Pixuleco: Esta pizza chega à sua mesa sorrateiramente. É entregue por debaixo dos panos. Literalmente! Você tem que enfiar a mão por baixo da toalha e manusear garfo e faca às escuras para degustá-la. Depois de muitas manobras, ao conseguir levar um pedaço à boca você descobre que se trata de uma simples pizza de mussarela ou mozzarella ou muçarela (nunca sei) superfaturada. O garçom me disse que muita gente pede para repetir, mas eu não acredito.

Pizza Lava Jato Golpista: Não por coincidência, depois da pizza Pixuleco você é servido com uma generosa fatia da pizza Lava Jato Golpista. Não sem antes assistir a uma longa exposição em Power Point sobre as estruturas subterrâneas do partido. “Pelo socialismo, vale tudo”, diz o vídeo. Sem muitos rodeios, trata-se de uma insossa pizza com recheio de pinhão e vina.

Pizza du Chef (de Quadrilha): Essa pizza tem história! Ela foi criada pelo chef enquanto ele estava sendo torturado nos porões da ditadura. Posteriormente, o chef foi solto, num acordo entre o governo militar e os terroristas que haviam sequestrado o embaixador dos Estados Unidos. Uma vez em liberdade, o chef foi para Cuba, onde recebeu treinamento militar. De volta ao Brasil, diz a lenda que mudou de nome e fez até plástica para não ser reconhecido. A história é boa, mas a pizza - recheio de produtos típicos de Cuba, Venezuela e Coreia do Norte (espero que não tenha sido carne de cachorro) - nem tanto. Tem gosto de fome.

Pizza Lula Livre: O rodízio termina com a pizza que é também o carro-chefe da casa. Ela chega à mesa cheia de humildade, trazida numa liteira apoiada nos ombros de três beneficiários do Bolsa Família e pela Raquel, que é milionária mas foi estudar sociologia em Berkeley com o dinheiro do Ciência Sem Fronteiras. Recheio de calamar temperado com lágrimas de bolsonaristas e flambado na cachaça (muita cachaça).

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