Embora
não o tenha conhecido pessoalmente (nem mantido contato com ele), Olavo
de Carvalho foi extremamente generoso comigo em relação ao livro que
publiquei em 1999 sobre a decadência do marxismo. A propósito, republico
aqui o post que escrevi em março de 2013 sobre O marxismo brasileiro e a morte da crítica, em que reproduzo o artigo de Olavo publicado no
Agradeço ao filósofo e jornalista Olavo de Carvalho
ter lembrado de meu livro sobre a decadência do marxismo, lançado em
1999, e corroboro o que ele diz: ideias que contrariam o marxismo, no
Brasil, são sistematicamente ignoradas, dentro ou fora da academia. Nas
universidades, em geral, pensar contra a corrente (como dizia Berlin)
vale a condenação ao ostracismo, não isento de manifestações de
hostilidade. Danke, caro Olavo, ainda que eu não mereça a ilustre
companhia de Gilberto Freyre, Paulo Mercadante, José Guilherme Merquior e
todo o elenco que você cita.
Surrupio na íntegra o artigo "O plano e o fato",
publicado ontem no Diário do Comércio, de São Paulo. E, atenção,
detratores, podem me chamar de direitista, reacionário, positivista,
liberal etc. A defesa das liberdades, no Brasil lulista, constitui um
verdadeiro atrator de adjetivos por parte dos esquerdistas, que supõem
ter chegado ao fim da história com o falastrão de Garanhuns. Chegaram,
na verdade, ao pensamento único, que imputavam ao tal de
"neoliberalismo". Resumindo: mataram o pensamento e a crítica.
*****
O
caso do Dicionário Crítico, que lembrei no artigo "Devotos de um
vigarista", é somente a figura mais extrema, caricatural e grotesca que
o fenômeno assume no Terceiro Mundo, mas ignorar o pensamento do
adversário e tampar os ouvidos às objeções são hábitos gerais e
infalíveis da intelectualidade esquerdista em toda parte.
Em
Thinkers of the New Left (1985), onde examina os principais expoentes
de uma escola de pensamento que ainda é a mais influente na esquerda
hoje em dia, Roger Scruton observa que nenhum deles jamais deu o menor
sinal de querer responder às críticas feitas à teoria marxista por Max
Weber, Werner Sombart, F. W. Maitland, Raymond Aron, W. H. Mattlock,
Böhm-Bawerk, Popper, Hayek ou von Mises.
Poderia
acrescentar Eric Voegelin, Cornelio Fabro, Rosenstock-Huessy, Norman
Cohn, Dietrich von Hildebrand, Alain Besançon e uma infinidade de outros
autores merecidamente tidos também como clássicos.
No
Brasil você não verá nenhum marxista discutindo as objeções de Gilberto
Freyre, Mário Ferreira dos Santos, J. O. de Meira Penna, Paulo
Mercadante, Antonio Paim, Orlando Tambosi, Ricardo Velez Rodriguez,
Gustavo Corção, João Camilo de Oliveira Torres, José Guilherme Merquior.
O
marxismo universitário vive e prospera de ignorar a cultura universal
das ideéias e sonegá-la aos estudantes. Ao mesmo tempo, infunde neles a
impressão sedutora e enganosa de que, por terem lido os autores
aprovados pelo Partido, são muito cultos.
Trata-se
da forma mais extrema e radical da incultura organizada, da ignorância
obrigatória, da burrice prepotente e intolerante.
Enquanto
os anticomunistas de todos os matizes não cessam de analisar e refutar o
marxismo, escrevendo milhares de livros a respeito, os marxistas fogem
sistematicamente ao debate.
Quando
não se contentam em baixar sobre os adversários a mais pesada cortina
de silêncio, dedicam-se a difamá-los pelas costas, inventando a respeito
as histórias mais escabrosas, tratando-os como criminosos, colocando-os
em “listas de inimigos” e cumprindo à risca a regra de Lênin: não
discutir com o contestador, mas destrui-lo politicamente, socialmente e,
se possível, fisicamente.
Que
maior prova se poderia exigir de que essas pessoas, que se atribuem o
monopólio de todas as virtudes, são as mais perversas, malignas e
desprezíveis que já infestaram a profissão intelectual?
A
ascensão da escória marxista ao primeiro plano da vida nacional foi e é
a causa principal ou única da destruição da cultura superior e do
sistema educacional no Brasil.
Com
ares de escândalo e indignação, a Folha noticia a descoberta de um
plano do governo militar, concebido pelo ministro Alfredo Buzaid nos
anos 70, para refrear a infiltração comunista nas universidades e órgãos
de mídia. O plano não foi levado a efeito, tanto que a era dos
militares foi o período de maior prosperidade da indústria do livro
esquerdista no Brasil e a época da conquista da mídia pelos comunistas.
Mas o jornal do sr. Frias não perdoa nem a simples ideia. Que horror,
que coisa mais tirânica, mais nazista, pensar em impedir o acesso dos
comunistas a todas as cátedras, a todas as páginas de jornais, a todos
os megafones!
O
que o sr. Frias e seus empregados fingem ignorar é que aquilo que a
ditadura quis fazer e não fez é exatamente o que os comunistas já
fizeram e que já está em plena vigência neste País, com uma amplitude e
uma rigidez que ultrapassa tudo o que os militares pudessem ter sonhado
em matéria de controle hegemônico dos canais de comunicação e ensino. As
gerações mais novas, que não conheceram o Brasil dos anos 50-60, já
nasceram dentro dessa atmosfera, que lhes parece normal, e não notam a
diferença.
Mas
um simples detalhe basta para mostrar o que aconteceu: o ponto de vista
cristão-conservador, que era oficialmente o do Estadão, do Globo e
parcialmente da própria Folha naquela época, está totalmente excluído,
proibido e criminalizado em toda a mídia.
Os
editoriais escritos pelos srs. Roberto Marinho e Júlio de Mesquita
Filho jamais poderiam ser publicados, hoje, nos próprios jornais que
esses homens fundaram, onde o máximo que se permite, num espacinho
minoritário, é um pouco de liberalismo chocho e inofensivo, quando não a
pura crítica de esquerda a algum desmando ou patifaria mais vistosa do
governo petista. Se até essa oposição mole e parcial é hoje abertamente
condenada como “extremismo de direita”, é notório que a medida geral de
aferição mudou, e quem a mudou foi a própria mídia. E se jornais e
canais de TV dão alguma cobertura à Sra. Yoani Sanchez, é precisamente
porque esta é anticastrista sem ser anticomunista e suas críticas ao
governo cubano são brandas e autocensuradas em comparação com as de
outros dissidentes, que contam a história inteira. Estes jamais
aparecerão no Globo ou na Folha. E alguém é capaz de imaginar, hoje em
dia, uma novela da Globo defendendo os valores cristãos que eram tão
caros ao sr. Roberto Marinho?
Por
que uma simples intenção não realizada do governo militar deveria ser
considerada mais repugnante e assustadora do que o fato consumado, a
mesmíssima intenção realizada em muito maior escala pela esquerda
triunfante e dominadora, senhora absoluta das páginas da própria Folha? A
simples redação dessa mesma notícia já não revela a inversão de
critérios, imposta como norma universal e inquestionável que só loucos e
extremistas ousariam contestar? O sr. Frias não sabe ler o seu próprio
jornal? Não enxerga que ele mesmo foi, em pessoa, um dos artífices do
plano do ministro Buzaid realizado com signo oposto?
P. S.: Olavo já fizera referência ao meu livro (hoje esgotado na editora) ainda em 1999, em artigo publicado no Jornal da Tarde.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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