Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais desta quarta-feira, 22 de dezembro:
O
deputado inglês Chris Huhne foi flagrado pelo radar em velocidade não
permitida. Para não perder a carta de habilitação, pediu à esposa Vicky
Price que assumisse a culpa. Mais tarde, foi nomeado ministro. Só que o
casamento acabou, Vicky Price revelou a história, Chris Huhne se demitiu
do Ministério e renunciou ao Parlamento. Acontece que na Inglaterra é
crime mentir à Justiça (aqui também, mas lá é levado a sério). Processo
contra os dois, ambos condenados a oito meses de prisão e à multa de 120
mil libras.
Segredo
de Justiça? Não, processo público, normal. Segurança nacional? Não,
infrator é infrator, ocupe ou não algum posto importante. Como reagiu o
Governo à condenação de seu ministro? O então primeiro-ministro David
Cameron não botou a culpa na “mídia tendenciosa” ou algo parecido. O que
disse: “é bom que todos saibam que ninguém, por maior e mais poderoso
que seja, está fora do alcance dos braços da lei”. A propósito,
descobriu-se que Vicky Price, quando decidiu contar a história,
conversou primeiro com uma vizinha, a juíza Constance Briscoe, que a
orientou na divulgação da notícia de maneira a facilitar a intervenção
do Judiciário. Como lá é a Inglaterra, os juízes não podem fazer essas
coisas. A juíza foi processada, condenada a 16 meses de prisão e, ao ser
condenada, automaticamente perdeu o cargo no Poder Judiciário. É
inimaginável que alguém se mantenha como juiz depois de condenado. E
jamais se pensaria em elegê-la para algum posto político.
Esses países de Primeiro Mundo são muito estranhos.
De lá para cá
O
excesso de velocidade de Chris Huhnes ocorreu em 2003. A denúncia foi
feita por Vicky Price em 2011, quando ele a deixou. Prescrição? Nada
disso. Ela confessou sua participação, fez a delação, mas não foi
premiada: era crime, foi processada e condenada também. Descoberto o
papel da juíza Constance Briscoe, em poucos meses estava julgada,
condenada e demitida do cargo. E a história foi encontrada por este
colunista no excelente blog do jornalista Gerson Guelmann (https://gersonguelmann.com.br/blog), que a publicou originalmente em 8 de janeiro de 2018.
Onde está o dinheiro
Talvez
aconteça algum milagre, pode ser; mas, até o momento em que
encerrávamos esta coluna, o nosso dinheiro estava sendo velozmente
saindo pelo ralo (ou entrando pelo ralo, depende do ponto de vista).
Falta dinheiro para combater a fome, para ajudar as famílias que já não
tinham quase nada e ainda foram prejudicadas pelo declínio da economia,
para dar fôlego aos empresários sufocados pelos impostos, juros, multas e
correções monetárias?
Pois
nem tudo é mau: o Congresso já aprovou em todas as comissões uma
quantia galáctica para a campanha eleitoral, R$ 4,9 bilhões; uma
abundância ainda maior para as “emendas de relator”, o tal “orçamento
secreto” de R$ 16,5 bilhões, que tem o poder mágico de fazer com que
parlamentares que falam duro contra o Governo acabem votando de acordo
com o Governo; e mais um dinheirinho para dar aumento, ao que se diz, a
uma única categoria, os policiais, R$ 1,7 bilhão. A coisa ficou tão
escandalosa que até o “superministro” da Economia, Paulo Guedes, que já
havia tomado posição contra o tamanho das despesas extraordinárias,
percebeu que não havia como segurar a avalanche. Assinou a proposta
orçamentária e tirou férias, para que ninguém encha seu saco enquanto
ele puxa o do presidente.
A
verba eleitoral é mais do que o dobro da gasta nas eleições de 2018, já
atualizada pela inflação. O senador Marcelo Castro, MDB do Piauí, foi o
único a criticar a derrama de dinheiro público. Mas quem criticaria o
butim de Natal de parlamentares e do Governo Federal? Boas Festas!!!
Só no Brasil
O
Orçamento é o principal instrumento de trabalho do Governo e do
superministro da Economia. Pois o Posto Ipiranga tirou férias. Veja sua
desculpa: diz que o ministro já apresentou sua proposta e cabe ao
Congresso decidir o que deseja. Claro que todos estamos carecas de saber
direitinho o que o Congresso deseja. Se o Imposto Ipiranga não sabe,
não adiantou nada ter feito Economia na Universidade de Chicago, tendo
Milton Friedman como professor. Se não descobriu que campanha eleitoral
com esse custo é um desatino, para que o Poço Ipiranga leu Keynes três
vezes, em inglês?
Só em Brasília
A
primeira versão do financiamento de campanha multiplicado foi vetada
pelo presidente Bolsonaro – ele, sem dúvida, tinha toda a razão: se
falta verba para tirar famílias da fome, não se pode gastar dinheiro
para acusar o rival de ser mais ladrão do que os aliados. Mas, enquanto
vetava o inacreditável aumento de verbas de campanha, Bolsonaro
autorizava discretamente seus seguidores a derrubar o veto. Aproveitaram
a oportunidade: derrubaram por ampla maioria os vetos que os
incomodavam. Na Câmara, por 317 a 146; no Senado, por 53 a 21.
E, por favor, não incomodem Bolsonaro nessa época, em que ele se prepara para férias à beira-mar.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário