BLOG ORLANDO TAMBOSI
Decepção e amargura na reação à ordem cumprida pela polícia do Vaticano de reprimir até bandeiras cubanas na Praça São Pedro. Vilma Gryzinski:
Foi-se
o tempo em que fieis católicos tinham respeito reverencial pela figura
do papa, principalmente na América Latina. Pelo menos para os fieis que
sofrem sob os regimes mais repressivos e se sentem abandonados por
Francisco, o papa argentino que teria a obrigação de conhecer as
penúrias mais prementes.
“A
torpe decisão vaticana de limitar a presença de exilados e impedir a
exibição de bandeiras cubanas no Angelus dominical do Santo Padre,
alegando um suposto perigo de atentado, confirma que Francisco é um papa
falido, oportunista e isolado dentro e fora da Igreja Católica; e agora
obrigado a pedir perdão a milhões de vítimas do castrismo”, fustigou
Carlos Cabrera Perez, jornalista radicado na Espanha, escrevendo no
CiberCuba.
Foi
realmente chocante ver as autoridades vaticanas limitando a 50 pessoas o
número de exilados cubanos na Itália que poderiam entrar na Praça São
Pedro. Mais ainda, ver um policial intimando um jovem, que rezava de
joelhos, a abaixar a bandeira cubana que exibia em silêncio.
Uma
das cenas mais comuns na praça é ver grupos de fieis erguendo bandeiras
de diferentes países, esperando que o papa note, faça alguma referência
ou envie uma bênção especial. As diferentes nacionalidades atestam a
universalidade do catolicismo
É
claro que a presença dos exilados cubanos tinha uma conotação política,
mas alguém imagina João Paulo II mandando proibir bandeiras da Polônia
na época em que o comunismo ainda estava para cair, corroído por suas
próprias debilidade e pela fé inquebrantável que uniu os poloneses na
oposição ao regime?
O
coração peronista do argentino Jorge Bergoglio pende para o outro lado,
mas ele evidentemente sabe muito bem o que acontece em Cuba ou na
Venezuela, apesar de toda simpatia que possa ter por regimes que se
declaram anticapitalistas e defensores dos mais humildes.
Logo
depois das manifestações de 11 de julho, Francisco fez uma daquelas
manifestações que aludem indiretamente a acontecimentos políticos:
“Estou junto com o querido povo cubano nesses momentos difíceis. Rezo ao
Senhor para ajudar a construir uma sociedade cada vez mais justa e
fraterna em paz, diálogo e solidariedade”.
Como
os “momentos difíceis” eram e continuam a ser vividos por cubanos que
ousaram sair às ruas em protesto, num surpreendente movimento de alcance
nacional, o papa estava se solidarizando com os perseguidos (mais de
500 continuam presos).
O
que aconteceu para permitir, se assim o fez, que integrantes do
“querido povo cubano” fossem proibidos de ouvi-lo celebrar a missa no
Vaticano?
O
argumento de que exilados cubanos pudessem praticar algum ato violento
“leva a assinatura da inteligência castrista”, denunciou Cabrera Perez.
Respondendo aos que se revoltaram com o papa e o acusaram de simpatias pelo regime, ele acrescentou:
“Bergoglio
nunca foi comunista, só um jesuíta da ala conservadora, com
sensibilidade social e muito oportunista, como demonstrou na mudança de
postura em relação ao casal Kirchner; quando já instalado em Roma,
negociou uma viagem de Cristina ao Vaticano, para uma conveniente
reconciliação”.
A
calidez demonstrada com Cristina – e também com Raúl Castro durante sua
última visita a Cuba -, contrastou com a frieza e a rapidez da
audiência concedida ao então presidente Mauricio Macri.
A
cautela extrema sempre manifestada pela Igreja no relacionamento com o
regime comunista cubano, que no auge do delírio antirreligioso chegou a
proibir o Natal, pode ser conveniente na hora de negociações de
bastidores. O grupo Mulheres de Branco, reunindo mães e outras parentes
de presos políticos que saíam às ruas com ramos de flores nas mãos, em
silêncio, também se organizou à sombra da Igreja.
O
tratamento rude e injusto dispensado aos cubanos no Vaticano provocou
grande decepção entre o movimento pela democracia que começa a se formar
e está revelando personalidades extraordinárias, em geral jovens
convencidos da justiça de sua causa.
Todos
os olhares agora estão voltados para o próximo dia 15, quando
oposicionistas irão desafiar a proibição oficial para que se manifestem
pacificamente.
Depois do último domingo, o papa Francisco se colocou na obrigação de apelar pela proteção aos manifestantes.
Caso contrário, estará dando razão ao cantor e compositor venezuelano Juan Medici e sua mais nova canção. Diz a letra:
“O papa decidiu que está proibido rezar/ Com a bandeira de Cuba para pedir por liberdade”.
“Quer sequestrar Deus e assim não pode escutar/ Os povos que hoje enfrentam governos de obscuridade”.
Título da obra: “Peça perdão a Cristo”.
Ou pelo menos abra mais seu coração aos que têm fome e sede de justiça.
Amanhã,
Francisco recebe pela primeira vez Joe Biden, o católico devoto e
favorável ao aborto que está deixando grandes quantidades de
latino-americanos irregulares entrar nos Estados Unidos, uma das causas
mais caras ao papa. Talvez com exceção dos cubanos?
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