Numa coisa Greta tem razão: declarações apocalípticas e engarrafamento de jatinhos mostram que muitos querem pegar carona na onda salvacionista. Vilma Gryzinski:
“Chega
de blá-blá-blá”, proclama sem parar a precoce musa ambientalista, Greta
Thunberg (que já tem 18 anos, mas continua aparentando 12).
Mesmo
quem acha sua pregação exagerada e catastrofista, tem que concordar: o
nível de conversa mole, já muito alto, atingiu novos patamares com a
conferência climática em Glasgow.
Um
exemplo estarrecedor: Justin Welby, o arcebispo de Canterbury, ou
Cantuária, principal autoridade eclesiástica da Igreja Anglicana, teve
que pedir desculpas pela “ofensa causada aos judeus” quando disse que a
inação dos líderes mundiais levaria a um genocídio muito maior do que o
provocado pelo nazismo.
“Estava
tentando enfatizar a gravidade da situação com que nos defrontamos na
COP26”, alegou. Detalhe: antes de se tornar padre, ele foi executivo da
indústria petrolífera.
Por que um religioso que segue todo o manual politicamente correto faria uma comparação dessas?
Porque está havendo uma espécie de competição de declarações apocalípticas sobre a situação ambiental do planeta.
“Chega
de tratarmos a natureza como um vaso sanitário”, exaltou-se António
Guterres, o secretário-geral da ONU que fala constantemente que a
humanidade é “viciada em combustíveis fósseis”, como se usar
transportes, alimentar-se, aquecer-se e desfrutar da ampla cadeia de
produtos provenientes do petróleo fosse uma escolha doentia resultante
da toxicomania, não da necessidade.
Boris
Johnson, o primeiro-ministro que quer parecer mais verde do que Greta,
comparou a situação climática a uma “máquina do fim do mundo” como nos
filmes de James Bond. Outra comparação absurda, embora menos ofensiva do
que a do arcebispo. Ele também justificou o uso de um jatinho
particular para a viagem a Glasgow.
Tal
como o príncipe Charles, Boris está usando “combustível de aviação
sustentável”, uma mistura de gasolina comum de avião com materiais
reciclados a partir de óleo de cozinha e outros. Custa cinco vezes mais.
Pelo
menos Boris e Charles estão fazendo um esforço, o que não pode ser dito
sobre os outros 50 aviões particulares que estão congestionando as
pistas de Glasgow e arredores. No total, são esperados 400 aviões. De
Jeff Bezos a Evo Morales, ninguém quer voar em aviões comerciais.
Só
os quatro utilizados pela comitiva de Joe Biden, mais o helicóptero Air
Force One e mais 85 veículos geram mil toneladas de dióxido de carbono.
É
hipocrisia ir para uma conferência ambiental com seu próprio jatinho?
Sem dúvida, se for para pegar carona no marketing que a imagem de
preocupação com o meio ambiente gera. Ninguém, obviamente, imagina o
presidente dos Estados Unidos pegando um avião de carreira da American
Airlines. Mas por que o príncipe Albert de Mônaco não pode dar um bom
exemplo? Ou sua ausência causaria danos ambientais irreparáveis?
Jeff
Bezos foi para a Escócia direto da festa de aniversário no iate de Bill
Gates, em águas cristalinas da Turquia, ao qual chegou de helicóptero.
De
que adianta ser o homem mais rico do mundo – ou o segundo entre os mais
mais, lugar que alterna com Elon Musk – se você não pode viajar no seu
próprio Gulf Stream?
Mas
depois não vale se passar por simpático com Greta Thunberg e ouvir
sorrindo as represálias, quando não insultos, que ela profere sem parar.
A
hipocrisia pode ser a homenagem que o vício presta à virtude, mas ser
ambientalmente virtuoso exige muito mais do que promessas vazias e
jatinhos cheios.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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