Invasão de estúdio de televisão por barbudos armados mostra a realidade do que deve ser esperado para um país sob domínio dos jihadistas. Vilma Gryzinski:
Uma
única imagem conseguiu rivalizar, em impacto global, com o vídeo de
moradores de Araçatuba amarrados em carros e usados como escudos humanos
por assaltantes de banco.
São
cenas de um estúdio de televisão invadido por oito talibãs mostrando o
apresentador de um programa de debates dizendo, sob pressão, que os
afegãos não devem ter medo do novo regime.
O
nível de surrealismo, comparável ao da velha comédia de Woody Allen
sobre uma republiqueta de bananas com guerrilheiros incrivelmente
parecidos com os barbudos cubanos, é difícil de ser superado até pelos
padrões alucinados que a queda de Cabul tem propiciado.
Por
bons motivos, o vídeo viralizou, num sinal de que nem o controle
absoluto que agora os talibãs têm sobre o país, incluindo as
comunicações por celular, está imune a fotos e vídeos reveladores.
Detalhe
importante: os invasores do estúdio de televisão tinham por objetivo
tranquilizar a população, uma mensagem que está sendo repetida pelo
“novo” Talibã, ou a versão 2.0 do movimento jihadista que resistiu
durante vinte anos e retoma o poder sob o impacto da vexaminosa retirada
americana.
“O
presidente Biden deveria assistir o vídeo e dizer se os militantes
posando atrás do apresentador visivelmente petrificado estão portando
armas americanas”, provocou Masih Alinejad, jornalista iraniana com
nacionalidade americana.
As
armas não parecem diferentes do arsenal habitual dos talibãs, mas a
jornalista tocou numa das muitas chagas deixadas pela retirada
americana: a incrível quantidade de armamentos dados pelos Estados
Unidos para as agora inexistentes forças armadas afegãs. Fora o que os
últimos americanos no país deixaram para trás.
Tudo
agora nas mãos dos talibãs, o que os transforma de guerrilheiros com
arsenal tosco, compensando pelo engajamento na jihad, na décima-quinta
maior força armada do planeta.
O
botim inclui 75 mil veículos, indo desde o Humvee – o jipão de
deslocamento rápido – uma verdadeira fortaleza móvel conhecida como MRAP
– veículos resistentes a minas que valem 500 mil dólares cada um.
Mais:
200 aeronaves, incluindo helicópteros Black Hawk e uma frota Super
Tucanos A-29, o avião de ataque fabricado pela Embraer – o Talibã vai
precisar de pilotos e técnicos altamente treinados para manter tudo isso
no ar, mas ganhou uma força estratégica simplesmente espetacular (outra
possiblidade, é que transfira segredos tecnológicos para China, Rússia
ou Irã em troca de vantagens).
Armas
de assalto são 600 mil, incluindo fuzis M4 e M16. Mais 16 mil
equipamentos de visão noturna, uma vantagem tática que os talibãs não
tinham.
Assim
que o último avião americano decolou, talibãs equipados com o que
existe de melhor dos pés à cabeça – nesta, os monóculos de visão noturna
por infravermelho, montado na frente do capacete (custo: 3.700 dólares
cada) – assumiram o controle. Os guerrilheiros de chinelos ou tênis
surrados ainda são a maioria, mas a coisa está mudando.
A
quantidade e a qualidade dos armamentos fazem dos atuais talibãs uma
força incomparavelmente mais bem equipada do que os militantes que
tomaram o poder em 1996, quando o país estava totalmente destruído pela
guerra civil e os armamentos soviéticos dados ao regime comunista
derrubado poucos anos antes não eram mais renovados.
Como
vai se comportar este Talibã triunfante, que montou uma saída
humilhante para os americanos e agora não tem, nem remotamente, rivais à
altura de seu poderio bélico e político? Quanto tempo vão durar as
promessas de moderação, mesmo dentro dos padrões da sharia?
Pessoas
comuns ou até personalidades como o apresentador do programa de
televisão invadido já estão descobrindo e muito mais virá pela frente.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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