O verdadeiro recado que Laurel estará passando às mulheres de todo o planeta é: “Um homem é melhor que as mulheres em tudo, até mesmo em ser mulher. Aceitem e batam palmas”. Luciano Trigo para a Gazeta do Povo:
Quatro
dias atrás, publiquei um artigo exaltando o fato de a meritocracia
prevalecer nos Jogos Olímpicos, por premiar o desempenho dos atletas sem
considerações de raça, gênero ou sexualidade. Nas competições
olímpicas, as condições são iguais no ponto de partida, não no ponto de
chegada; não há cotas nem mecanismos de compensação para grupos menos
favorecidos; e somente os melhores sobem no pódio: a imensa maioria dos
atletas volta para casa sem medalha.
A
beleza das competições olímpicas está aí: se a narrativa do coitadismo e
do vitimismo influenciasse os resultados, com cotas para “corpos
gordos”, anões ou atletas cujos países foram explorados por
colonizadores séculos atrás, assistir aos jogos não teria a menor graça.
Mas,
como lembraram diversos leitores na seção de comentários, faltou fazer
uma ressalva: o progressismo identitário e a insanidade politicamente
correta já começaram, sim, a perverter o espírito olímpico. Isso está
acontecendo na figura do (esperam que eu escreva “da”? "de"? "du"? "dx"?
Me poupem) halterofilista neozelandês Laurel Hubbard, o primeiro atleta
transgênero a competir nas Olimpíadas.
Apesar
de ter nascido com pênis e testículos, de seus cromossomos serem XY, de
apresentar a estrutura óssea e a força muscular de um homem – enfim, de
pertencer ao sexo masculino – Laurel, uma "mulher trans", vai competir
em Tóquio com "mulheres-mulheres", neste domingo, na categoria acima de
87 kg.
A
injustiça é absurda e acachapante, mas vivemos em uma época na qual é
preciso dizer o óbvio: atletas homens são mais fortes fisicamente que
atletas mulheres. São mais rápidos também: basta observar as provas de
revezamento misto no atletismo, uma novidade nas Olimpíadas de Tóquio:
cada equipe compete com dois homens e duas mulheres, e a estratégia de
quase todos os países foi começar e terminar a prova com os homens,
porque – evidentemente – eles são muito mais rápidos e têm mais
condições de abrir vantagem no começo da prova, ou de compensar os
tempos piores das mulheres, na parte final.
Laurel
nasceu Gavin. Competiu no levantamento de peso como homem até os 23
anos. Como homem, Gavin era um halterofilista com resultados medianos em
competições. Mas ele teve uma ideia genial: como mulher, sendo um
homem, faria parte da elite do esporte.
Aos
35, com sua massa muscular de homem já consolidada, ele fez a chamada
“transição” de gênero, procedimento que inclui, além de tomar hormônios,
amputar os órgãos sexuais masculinos e esculpir anatomicamente uma
vagina fake – o que exige acompanhamento psicológico, psiquiátrico e
endocrinológico pelo resto da vida. Até aqui, problema dele. Desde que
não prejudique ninguém, cada adulto é livre para fazer suas escolhas (e
assumir a responsabilidade por elas).
Vamos
aos fatos: por mais que tome hormônios e faça procedimentos cirúrgicos
no seu corpo, Laurel jamais poderá ser mãe: só mulheres de verdade podem
ter filhos. Mas, segundo o Comitê Olímpico Internacional, Laurel é uma
mulher, porque apresentou exames que mostraram níveis baixos de
testosterona – como se isso resolvesse a questão, como se bastasse isso
para ser mulher. (Mesmo os níveis de testosterona estipulados pelo COI
são pelo menos cinco vezes maiores que os de uma mulher biológica, é
importante lembrar).
Muitos
homens e mulheres consideram a participação de Laurel em competições
olímpicas femininas um avanço no combate ao preconceito contra pessoas
LGBTQIA+. É um equívoco. Lauren está prejudicando também, diretamente,
as atletas lésbicas (o “L” da sigla) e bissexuais (o “B”), bem como as
mulheres que se encaixam nas letras “Q” (queer), “I” (intersexo) e “A”
(assexuais). Está prejudicando, por fim, as mulheres que se encaixam no
“+” da sigla, isto é, na pluralidade de orientações sexuais que elas são
livres para escolher, como adultas responsáveis.
Mas
o discurso da lacração exige que a sociedade aceite calada que não há
diferenças entre mulheres e “trans” – mais que isso, que aplauda e
festeje quando um homem biológico conquistar uma medalha competindo com
mulheres no levantamento de peso. É o que acontece quando se estimula as
pessoas a acreditar que desejos são direitos, e que se dane a
realidade: se eu acredito que sou mulher, mesmo tendo nascido homem, eu
sou mulher, e ai de você se discordar de mim.
Evidentemente,
isso é algo muito diferente de lutar por bandeiras legítimas do
feminismo - digo, das vertentes do feminismo que buscam a igualdade de
direitos entre os sexos, não a guerra entre os sexos. Porque enquanto o
feminismo, historicamente, reconhece a verdade óbvia de que homens são
diferentes das mulheres, o ativismo progressista-identitário que promove
episódios como o de Laurel Hubbard nega essas diferenças, já que
transforma o sexo em uma questão de escolha pessoal, sem qualquer base
biológica.
É
fácil prever que, quando Laurel Hubbard ganhar sua medalha de ouro
competindo com mulheres - e for felicitado com um mal disfarçado
constrangimento pelas mulheres que conquistarem as medalhas de prata e
bronze - haverá uma enorme comemoração na mídia lacradora. Locutores
esportivos irão as lágrimas diante dessa importante conquista. Mas o
verdadeiro recado que Laurel estará passando às mulheres de todo o
planeta é: “Um homem é melhor que as mulheres em tudo, até mesmo em ser
mulher. Aceitem e batam palmas”.
Como isso pode contribuir para as lutas legítimas e necessárias das mulheres? É um mistério para mim.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário