Até o momento, dois países do continente não receberam nenhuma dose
Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil
Dificuldades logísticas, escassez de doses e forte desigualdade entre os países marcam a campanha de vacinação contra a covid-19 no continente africano. Enquanto o Marrocos conseguiu imunizantes o suficiente para 36,32% da sua população, Burundi e Eritreia não receberam nenhuma dose, segundo os dados dessa sexta-feira (30) do Africa Centres for Disease Control and Prevention (CDC África).
Outros países receberam quantidades
irrisórias de imunizantes, como Saara Ocidental, com 20 mil doses para
uma população de 600 mil pessoas, Sudão do Sul, que recebeu 60 mil doses
e tem 11,2 milhões de pessoas ou a República Centro-Africana, com 80
mil doses para 4,8 milhões de pessoas.
De acordo
com o CDC África, o país mais adiantado na vacinação é o Marrocos, que
recebeu 26,8 milhões de doses para uma população de 36,9 milhões de
pessoas, tendo aplicado as duas em 26,89% das pessoas e a primeira em
33,93%.
O segundo país que mais vacinou foi a
África do Sul. Com população de 59,3 milhões de pessoas, recebeu 8,7
milhões de doses, aplicou a primeira em 11,56% das pessoas e 0,57%
recebeu a segunda dose. O Egito, com 102,3 milhões de pessoas, recebeu
7,3 milhões de doses e imunizou completamente apenas 1,46% da população.
Um total de 3,57% dos egípcios recebeu a primeira dose.
O
país mais populoso do continente, a Nigéria, com 206 milhões de
pessoas, recebeu 3,9 milhões de doses, tendo aplicado a primeira em
1,23% da população e imunizado completamente apenas 0,68% com as duas
doses, já esgotando o estoque disponível.
Dificuldades
De acordo com o pesquisador do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Cris-Fiocruz) Augusto Paulo Silva, em entrevista ao portal da Fiocruz, a União Africana, que reúne os 55 países do continente, aderiu à iniciativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) Covax Facility, para a aquisição de vacinas contra a covid-19. Porém, as doses estão longe de ser o suficiente para o continente, que tem 1,2 bilhão de habitantes.
“A União
Africana também aderiu à Covax. Só que muito antes de os europeus
começarem a doar vacinas para a Covax, doaram dinheiro. Mas esse
dinheiro nunca foi suficiente. Para o abastecimento e fornecimento da
Covax, contava-se com China e Índia. Mas a Índia teve uma explosão de
casos, as vacinas começaram a não ser suficientes, e a Covax passou um
tempo quase seca”.
Segundo o escritório regional
da OMS na África, 43 países africanos aderiram ao Covax, garantindo
vacinas para 20% da população, com 600 milhões de doses. Desse total, 82
milhões já foram entregues e 63,8 milhões aplicadas até o momento. O
pesquisador explica que a segunda opção do continente são os 400 milhões
de doses que a União Africana tentou garantir de forma suplementar, por
meio da Equipe de Intervenção para a Aquisição de Vacinas (AVATT, do
inglês African Union’s COVID-19 Vaccine Acquisition Task Team), mas os
países terão que pagar por essas vacinas.
“A
União Africana, por meio dos seus bancos de fomento, agiu como se fosse
caução para garantir o pagamento. E o Banco Mundial está fornecendo
dinheiro aos países para adquirirem essas vacinas. Mas a maioria está
endividada, tem tetos de gastos já limitados pelo Banco Mundial por
causa dos programas de ajuste estruturais”.
Silva
detalha, também, o problema logístico para a distribuição das doses, em
uma região carente de infraestrutura de transporte e de saúde.
“Um
programa de imunização tem toda uma logística por trás. E essa
logística tem gastos. Por isso, muitos desses 55 países tiveram que
devolver vacinas porque não conseguiram aplicá-las por falta de dinheiro
para sustentar as campanhas. Precisam de câmaras frias, geradores. E
como o Estado está endividado, não tem como bancar isso. São problemas
estruturais que vêm lá de trás e que foram exacerbados pela pandemia. É
por isso que a vacinação na África é muito lenta, não só por falta de
imunizantes, mas por toda a cadeia de infraestrutura e logística”.
Covid-19 na África
De uma forma geral, o continente surpreendeu o mundo com a relativa baixa taxa de contágio o óbitos pelo novo coronavírus. Segundo Silva, explicações possíveis para o fenômeno incluem a pouca conectividade de muitos países africanos com outros continentes e também entre si, além da faixa etária média mais baixa que a da população mundial.
O
continente todo tem população de 1,2 bilhão de pessoas e registra, até o
momento, cerca de 6,7 milhões de casos de covid-19, segundo dados do
Wordometers. O número é um terço do registrado no Brasil, que tem 210
milhões de habitantes, população seis vezes menor. Ou seja, a África
está com uma taxa de incidência da doença de 558,3 casos por 100 mil
habitantes, enquanto no Brasil a taxa é de 9.460,2, segundo dados desta
sexta-feira (30) do Ministério da Saúde.
Fonte: Agência Brasil
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