A queda da popularidade digital de Lula da Silva, após elogio ao regime cubano, é uma boa medida do limite de tolerância à desfaçatez lulopetista. Editorial do Estadão:
A
popularidade digital do ex-presidente Lula da Silva caiu de 43,18
pontos para 27,48 entre os dias 12 e 14 de julho, conforme levantamento
da consultoria Quaest, publicado recentemente pelo Estado. O motivo de
queda tão abrupta foi a defesa que Lula da Silva fez do regime cubano,
que reprimiu duramente manifestantes em Cuba no dia 12.
Enquanto
o mundo civilizado se chocava com a brutalidade das forças de segurança
de Cuba contra cidadãos que ousaram protestar contra a falta de vacinas
contra a covid-19 e contra a escassez crônica de alimentos na ilha, o
chefão petista caprichou: disse que a manifestação de cubanos havia sido
uma mera “passeata” e teve a audácia de negar a violência que todo
mundo testemunhou. Para completar, o PT soltou um “comunicado de apoio
ao povo e ao governo de Cuba”, como se fosse possível apoiar, ao mesmo
tempo, quem apanha e quem bate.
A
queda da popularidade digital de Lula da Silva é uma boa medida do
limite de tolerância à desfaçatez lulopetista. Lula aparece à frente nas
pesquisas de intenção de voto menos por seus méritos, e mais porque o
presidente Jair Bolsonaro faz um governo tão ruim que, para parte do
eleitorado, a mera perspectiva de sua reeleição tornou a volta do
petista ao poder uma possibilidade aceitável, se o demiurgo de Garanhuns
for o único candidato capaz de derrotar o bolsonarismo. Mas a
indecência de Lula ao apoiar um governo que reprime selvagemente o
próprio povo certamente serviu para abalar as eventuais ilusões de
muitos eleitores ingênuos a respeito do petista.
Lula
não é um democrata, e seu apoio ao regime castrista, bem como ao
governo tirano da Venezuela, é prova eloquente disso. Seus fanáticos
seguidores dizem, cinicamente, que Lula jamais atentou contra a
democracia, mas a vocação autoritária do PT e de seu líder é
incontestável – atestada pelo aparelhamento petista da máquina do
Estado, pela desbragada corrupção e pelo estímulo ao conflito entre
“nós” e “eles”, elementos que, somados, arruínam a democracia.
A
Cuba castrista não inspira Lula da Silva por causa do socialismo. Como
se sabe, o ditador Fidel Castro alinhou-se à União Soviética só depois
da Revolução, e isso porque Moscou prometeu lhe dar generosa mesada,
comprar açúcar cubano e armar a ilha contra os Estados Unidos, e não
porque estivesse interessado no comunismo. Este era somente um pretexto
retórico para implantar, primeiro, sua ditadura pessoal, depois, um
regime familiar e, agora, um clã totalitário.
Do
mesmo modo, o discurso socialista, na boca de Lula, é apenas um embuste
para enganar universitários e artistas. Ao mesmo tempo que evocava o
socialismo como meta e ambição, o PT de Lula, ao longo de sua história,
expurgou sem dó as seitas trotskistas e marxistas-leninistas que lá se
haviam acomodado, restando somente os oportunistas que orbitam o guia
genial. Pai do sindicalismo de resultados, Lula no poder se tornaria a
mãe do capitalismo de compadrio, enquanto entretinha os grêmios
estudantis com seu falatório antiamericano e encantava os pobres com
ilusionismo demagógico.
Enquanto
Lula abraçava gostosamente o caquético castrismo, decerto com inveja da
longevidade de uma ditadura que alguns bobos veem como farol da
democracia, o Partido Socialista do Chile disse em comunicado que “é
dever do governo e das autoridades cubanas ouvir as demandas” do povo
cubano. Isso mostra que nem toda a esquerda compartilha do cinismo
lulopetista.
Isso
já havia ficado claro quando artistas de incontestáveis credenciais
esquerdistas, como o escritor português José Saramago e a cantora
argentina Mercedes Sosa, consideraram intolerável a repressão da
ditadura cubana. Em 2003, depois de mais um fuzilamento de dissidentes,
Saramago declarou que a Cuba de Fidel “perdeu a minha confiança,
danificou as minhas esperanças, defraudou as minhas ilusões”, e Mercedes
Sosa afinal se rendeu: “Creio que já é tempo de não aceitarmos tudo”.
Lula
poderia ter a grandeza de pelo menos parar de elogiar a terrível
ditadura cubana. Ao não fazê-lo, autoriza a suposição de que, no fundo,
quer mesmo é encarnar Fidel e governar até a morte – e além.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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