Das escolas às instituições artísticas, a elite cedeu à loucura trans. Joanna Williams, da Spiked, para a Oeste:
A
St Paul’s Girls’ School, tradicional escola britânica só para mulheres
localizada em Londres, não tem mais uma “head girl” — espécie de
presidente do conselho estudantil. A palavra “girl”, ou menina, foi
considerada binária demais e não inclusiva para esse estabelecimento
caro, voltado para apenas um sexo. O termo foi então excluído e
substituído por um cargo de gênero neutro: “head of school”.
Isso
importa. E transmite a mensagem de que a palavra “girl” está
ultrapassada e é ofensiva. Quando uma das principais escolas para
meninas do Reino Unido, sob o pretexto de ser “progressiva” e
“inclusiva”, não pode mais dar nome ao sexo de suas alunas, sabemos que
alguma coisa deu muito errado — não só na educação, mas também no
coração do establishment britânico.
Ame
ou odeie, todo o objetivo dessas escolas é oferecer uma experiência
educacional desenvolvida especificamente para as necessidades de meninos
ou meninas. Para as meninas, isso pode significar oportunidades de se
tornar mais confiante, assumir papéis de liderança ou destacar-se em
disciplinas que podem ser estereotipicamente consideradas “masculinas”,
como ciência ou matemática. Pais de estudantes da St Paul’s estão
dispostos a pagar 26 mil libras por ano por essa vantagem.
Fachada do St Paul's Girls' School. |
No
entanto, em uma sessão de treinamento recente, funcionários da escola
aprenderam que existem pelo menos “150 identidades de gênero”. Se a
administração da escola de fato acredita nessa bobagem, então não é só o
título “head girl” que precisa ser eliminado, mas também o nome da
escola junto com todos os seus critérios de admissão e seu sistema de
valores. Uma escola para meninas que não é capaz de incutir em suas
alunas o orgulho e a confiança no próprio sexo é pior que inútil.
Uma
leva de universidades e de departamentos governamentais pode ter
cortado relações com Stonewall nas últimas semanas, mas essa instituição
LGBT claramente continua influente. Na semana passada foi dada uma
orientação para que professores substituíssem “meninos e meninas” por
“estudantes”, e dessem aulas de Educação Física mistas. Recomendou-se
que estudantes trans usem os banheiros e vestiários condizentes com sua
identidade de gênero, e não com seu sexo. Centenas de escolas de ensino
fundamental e médio britânicas cadastraram-se como Stonewall School and
College Champions — e a St Paul’s foi noticiada como uma delas.
Aliás,
no começo do mês, a St Paul’s chegou às manchetes mais uma vez por
convidar uma equipe de pesquisadores norte-americanos para conversar com
as alunas sobre transição de sexo. A apresentação destacou os supostos
resultados positivos para a saúde mental de garotas que vivem como
garotos e vice-versa. Isso não é educação, é propaganda transgênero. Ela
promove uma ideologia prejudicial que pode levar garotas pelo caminho
dos binders, como são chamadas as faixas usadas para esconder o
crescimento dos seios, ou da terapia hormonal. Sem dúvida seria melhor
para as estudantes celebrar serem garotas, e para as escolas promover as
infinitas oportunidades disponíveis para as mulheres, em vez de
“transicionar” meninas e mulheres.
Infelizmente,
como já vimos repetidas vezes, não é só nas escolas que “feminino” se
tornou um palavrão. Na semana passada, a Royal Academy retirou trabalhos
da artista têxtil Jess de Wahls de sua loja depois de receber apenas
oito reclamações sobre sua “transfobia”. De Wahls é uma feminista, e seu
trabalho é uma corajosa celebração das mulheres e de seus corpos — uma
de suas exposições se chamou Big Swinging Ovaries, algo como “Grande
Ovários Balançantes”.
É
perfeitamente possível defender e celebrar o corpo feminino das
mulheres sem ser transfóbico, mas ficou claro que essa distinção não foi
compreendida pela Royal Academy. Eles simplesmente excluíram a
pecadora. Seus bordados foram retirados da loja de lembranças, e pedidos
de desculpas dramáticos foram feitos para as poucas pessoas que
afirmaram ter ficado ofendidas.
O
crime de De Wahls não estava em suas obras, mas em seus pensamentos —
em 2019 ela publicou num blog um texto crítico à questão de gênero e é
perseguida desde então. Os artistas de hoje — em especial, ao que
parece, as mulheres — precisam ser puros ideologicamente e não
desobedecer aos deuses de Stonewall e seus discípulos nas nossas
instituições culturais. Tirar artistas de circulação, impedir as
mulheres de reivindicar a propriedade sobre o próprio corpo e destruir a
criatividade é, aparentemente, um pequeno preço a pagar diante de oito
reclamações. O desejo de aquiescer é de fato impressionante.
Obra da artista plástica Jess de Wahls |
Escolas
de elite, como a St Paul’s, estão ocupadas criando a próxima geração de
estudantes da universidade woke (termo usado para identificar causas
típicas das ideologias de esquerda) que vão, por sua vez, se tornar os
futuros acadêmicos, curadores, editores e políticos. Eles podem ser
fluentes na língua da diversidade e da inclusão, mas o zelo implacável
com que esses ativistas defendem suas bandeiras não deixa espaço para a
diversidade política, para as diferenças intelectuais ou mesmo para a
empatia humana.
Infelizmente,
com frequência são as mulheres — e as feministas em especial — que se
tornam os alvos desses guerreiros woke. De Jess de Wahls a J. K.
Rowling, passando por Chimamanda Ngozi Adichie, mulheres que ousam
defender os direitos baseados no sexo repetidas vezes acabam sendo
atacadas. Uma escola para meninas de elite alinhada com aqueles que
estão preparados para apagar palavras como “menina” e “mulher” nos
mostra como a ideologia transgênero se tornou bem enraizada — e como
seus incentivadores são covardes.
Houve
algumas reações muito bem-vindas contra essa ideologia em tempos
recentes, desde instituições públicas retirando-se de Stonewall até uma
importante vitória legal para Maya Forstater — uma fiscal que perdeu o
emprego depois de escrever numa rede social que as pessoas não poderiam
mudar o sexo biológico e que acaba de ganhar uma apelação para a Justiça
—, passando pelo lançamento de uma nova rede de acadêmicos críticos das
teorias de gênero na Open University. Mas isso quase não surte efeito
contra a tirania do woke.
Joanna Williams é colunista da Spiked e diretora da Cieo, onde publicou recentemente How Woke Conquered the World.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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