Inovação poderá ajudar a combater doenças que atingem cacaueiros e prejudicam o desenvolvimento econômico no Sul da Bahia
Foto: Ascom / SECTI
Em 1980, o Brasil liderava o ranking de produtores de amêndoas de cacau, uma das principais matérias-primas para a fabricação do chocolate. Atualmente, o país ocupa a sétima posição e a pesquisadora da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), Natasha Lopes, acredita que um dos motivos para esta queda esteja entre as pragas enfrentadas pelas plantações cacaueiras, entre elas, a vassoura-de-bruxa. Causada por um fungo, a doença, que é responsável por diversos impactos socioeconômicos, preocupa a população do Sul da Bahia até hoje, mas o problema pode ter encontrado uma solução, ou ao menos uma medida de contenção mais eficaz. É que a pesquisadora realizou um estudo a fim de investigar o potencial biotecnológico de uma proteína modificada do próprio cacau para combater esta doença. A boa notícia é que testes em laboratório já indicaram a possibilidade de inibir o fungo.
Natasha
ressalta que desde a chegada da vassoura-de-bruxa no Sul da Bahia os
cacauicultores têm sofrido grandes perdas. “Embora existam alguns
métodos de controle, a doença ainda causa perdas anuais na produção das
amêndoas de cacau, o que prejudica a produção do chocolate. O nosso
produto irá beneficiar os pequenos produtores da Bahia que ainda são
responsáveis pela maior parte da produção nacional”, disse a
pesquisadora, destacando que atualmente existe um produto para controlar
a doença, desenvolvido a partir do extrato de outro fungo, o
Trichoderma, mas que o principal diferencial deste novo trabalho está em
utilizar uma única molécula própria do cacau para proteger a plantação.
“Este diferencial é de grande importância, pois limita os impactos ao
meio ambiente e reduz a probabilidade do nosso produto interferir em
outras características das amêndoas de cacau”, completou.
Em
termos mais técnicos, a cientista explica como funciona a ação do
biofungicida. “A proteína modificada do cacau tem atividade antifúngica
contra M. perniciosa, via internalização da proteína pelo fungo, gerando
estresse oxidativo nas suas hifas e, consequentemente, queda em sua
viabilidade. Assim, propomos a produção de um fungicida à base dessa
proteína, que irá atuar de forma precisa em dois estágios cruciais do
desenvolvimento do fungo, na fase de infecção e na fase anterior à
formação dos basidiósporos, a única forma de disseminação do fungo,
diminuindo sua incidência nas plantações de cacau, sem causar impactos
ao meio ambiente”, declarou.
De acordo com Natasha, sua equipe
sempre teve um incômodo a respeito de como o conhecimento desenvolvido
na pesquisa, dentro das universidades no Brasil, e o investimento
público nesse setor, retornam à sociedade. “A nossa inspiração partiu da
ideia de aplicar o conhecimento que produzimos no laboratório de forma
prática. Como consequência, daríamos um retorno àqueles que muitas vezes
desconhecem a relevância do nosso papel social como cientistas. Além
disso, a molécula escolhida para compor o biofungicida é o meu objeto de
estudo e, ao observar seu potencial, percebemos que poderíamos
explorá-la para outras modalidades de controle da doença em prazos mais
curtos”, finalizou.
Bahia Faz Ciência
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