sábado, 29 de maio de 2021

Para evitar crise com Bolsonaro, Exército deve apenas repreender general Pazuello

 


Charge: Junião

Charge do Junião (Arquivo Google)

Felipe Frazão
Estadão

A participação do general da ativa Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, em uma manifestação política ao lado do presidente Jair Bolsonaro, no domingo, agitou a caserna. Generais ouvidos pelo Estadão avaliam que cresce o risco dessa transgressão disciplinar virar motivo para novo embate entre o Palácio do Planalto e o Comando do Exército.

Para contornar o confronto, o Exército pode aplicar apenas uma repreensão, em vez de optar pela mais grave punição possível, uma prisão disciplinar do general. O receio é que a tentativa de blindagem de Pazuello, por parte do presidente Jair Bolsonaro, leve à renúncia do comandante, Paulo Sérgio Nogueira.

SOLUÇÃO MEIO-TERMO – Pazuello deve ter apresentado sua defesa nesta quinta-feira, último dia do prazo estabelecido pela corporação. Há quase dois meses no cargo, Paulo Sérgio Nogueira por sua vez, se afastou das redes sociais e evita manifestações públicas. O general parece decidido a aplicar uma punição ao ex-ministro da Saúde.

Generais a par das conversas avaliam que o ministro da Defesa, Braga Netto, deve tentar uma solução meio-termo, para evitar uma crise entre o presidente e o comandante. Para eles, será preciso mediar a vontade do general Paulo Sérgio, a opinião do ministro Braga Netto e a de Bolsonaro.

A solução “média” prevista no regulamento é a repreensão, descrita como uma forma de censura “enérgica”, feita por escrito pelo comandante. Ela é publicada em boletim interno da caserna e, por vir a público nas Forças Armadas, é considerada uma mácula no currículo de um general em topo de carreira.

OUTRAS PUNIÇÕES – A repreensão é mais grave do que uma advertência verbal (a mais branda das punições) e menos grave do que uma prisão disciplinar por trinta dias (a mais dura delas). A prisão vem sendo considerada hipótese remota por fontes que acompanham o caso, justamente porque poderia amplificar a crise política.

A transgressão foi fartamente documentada, em público, e vem de um militar no topo da carreira, o que agrava a situação. Mas o bom comportamento e a inexistência de antecedentes podem ser considerados como atenuantes.

Se houver uma intervenção política no Exército, porém, Bolsonaro estará desautorizando o comandante. Essa percepção aumentou depois que o presidente proibiu a divulgação de nota pública comunicando a abertura do procedimento disciplinar contra seu obediente ex-ministro, como revelou o Estadão. Uma intervenção poderia provocar a renúncia de Paulo Sérgio, porque, na avaliação de oficiais, ele perderia a autoridade para punir casos de indisciplina.

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