Há
ocasiões em que aparece alguma novidade no Brasil. A última é que o
presidente Bolsonaro se declarou imbrochável, incomível e imorrível.
A
antiga Roma, capital do mundo, achava que os poetas eram mensageiros
dos deuses, que lhes davam os divinos poderes de divinare, “adivinhar”.
Em latim e português o poeta é chamado de “vate” – daí a palavra
“vaticínio”, previsão. Ouçamos nosso poeta Vinícius de Moraes e seus
vaticínios, no ótimo Canto de Ossanha: “O homem que diz sou não é”.
Por
coincidência, Ossanha é o orixá das folhas milagrosas, das ervas que
curam; não trata de medicamentos criados por cientistas,
infectologistas, biólogos, embora os ajude com seus fitoterápicos de
ervas medicinais e de folhas milagrosas. E Bolsonaro? Mais vaticínios do
poeta Vinícius: “Coitado do homem que cai/ No canto de Ossanha traidor!
/ Coitado do homem que vai/ Atrás de mandinga de amor”. Tem coisa pior
do que se deixar enfeitiçar pelo presidente de outro país, de cabelo tão
laranja quanto... quanto... ah, deixa pra lá. O homem que conquistou
seu coração nem mais é presidente.
Quanto
a ser imorrível, só conheço um – e também falso. O Fantasma, grande
personagem de quadrinhos, tinha fama de imortal, mas não era. Por 400
anos um filho substituía o pai falecido, mantendo o nome e o uniforme do
Espírito que Anda. No nosso caso, os filhos todos se elegeram já usando
o mesmo nome do pai; quem tentará sucedê-lo na Caverna da Caveira?
As diferenças
Os
dois se declaram imorríveis, mas acabam aí as semelhanças entre ambos.
Os dois andam armados, mas o Fantasma jamais teve de entregar as armas a
algum assaltante. O Fantasma é dono de um tesouro incrível, mas vive
modestamente e nem sabe o que é uma picanha de R$ 1.800,00 o quilo.
E, lembrei-me, há outra semelhança: ambos vivem cercados de pigmeus.
Crise anunciada
O
Governo promete para agora uma linha especial de crédito na Caixa, para
caminhoneiros, com taxa inferior a 55% ao ano. Convida-os a trocar seu
veículo por outro mais moderno. Só que boa parte dos problemas do setor
vem do excesso de caminhões e da falta de carga. Aí ocorrem as
tentativas, sempre furadas, de criação de um frete mínimo, imposto pelo
Governo.
Não
dá certo: se um caminhoneiro está sem carga, preferirá cobrar menos a
ficar parado. E há dois projetos que atingirão diretamente o transporte
por caminhão: as ferrovias que, de pouquinho em pouquinho, acabam sendo
concluídas e oferecem preços muito mais baixos e poluem menos; e a BR do
Mar, um projeto estranho, que entrega o transporte de boa parte da
produção nacional a barcos estrangeiros, e que também contribuirá para
reduzir a necessidade de frete rodoviário. Os enormes caminhões para
longas viagens talvez sejam caros demais para pegar uma
mercadoria no porto e levá-la ao destino, a poucos quilômetros de
distância. Com esse problema, mais outro – estará pagando o caminhão,
mesmo com juros baixos – é crise na certa.
Aprender é preciso
Este
erro já foi cometido no governo de Dilma e foi responsável pela crise
do transporte rodoviário no governo Temer e no atual duelo por preços no
governo Bolsonaro. Claro: o ministro da Infraestrutura de Bolsonaro,
Tarcísio Gomes de Freitas, era diretor-executivo (e mais tarde
diretor-geral) do DNIT, Departamento Nacional da Infraestrutura de
Transportes, no tempo da presidente Dilma.
Naquela época, como hoje, acha que está certo.
A roupa do general
Hoje
deve ser divertido assistir ao depoimento do general Pazuello na CPI do
Senado. Depois de longa hesitação, o general parece ter decidido vestir
farda para depor – o que talvez não seja bem visto pelas Forças
Armadas, já que sugere que administrou a Saúde em nome delas. Não é
verdade: aliás, não administrou a Saúde nem em seu próprio nome, mas
como obediente preposto do presidente Bolsonaro. Deve estar pensando em
intimidar a turma da CPI.
De
certa forma, é triste saber que um general depende da roupa que usa
para que saibam quem é. Enfim, não se esperava que fosse de farda. Com a
situação que enfrenta, no estado de nervos em que dizem que está,
apostava-se que iria de terno marrom-esverdeado. Camuflagem, digamos.
A opinião do presidente
Pazuello
foi ao Supremo e conseguiu decisão que o libera de falar quando o que
disse possa incriminá-lo. Que pensa o presidente Bolsonaro desse tipo de
depoimento? Ele já disse tudo na CPI dos Bancos, de 1999, no Governo
Fernando Henrique, quando o presidente do Banco Central, Francisco
Lopes, conseguiu liminar para calar-se quando as respostas o
incriminassem.
Disse
Bolsonaro: “Dá porrada no Chico Lopes. Eu até sou favorável a que a
CPI, no caso do Chico Lopes, tivesse pau de arara lá. Ele merecia isso:
pau de arara. Funciona! Eu sou favorável à tortura, tu sabe disso. E o
povo é favorável a isso também”.
A Rede Bandeirantes transmitiu essa entrevista.
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