segunda-feira, 17 de maio de 2021

Consumo de cigarro aumenta na pandemia e preocupa especialistas

 


Pesquisa indica que hábito foi potencializado pelo estresse e ansiedade decorrentes do isolamento social.

Tribuna da Bahia, Salvador
17/05/2021 10:15 | Atualizado há 6 horas e 56 minutos

   
Foto: Reprodução

Os reflexos da pandemia da Covid-19 na saúde mental trazem desdobramentos importantes que vêm sendo apontados em diversos estudos no país e no mundo. Uma pesquisa recente divulgada pela Fiocruz revela que 34% dos fumantes brasileiros aumentaram a quantidade de cigarros consumidos neste período.

Segundo o pneumologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo Dr. Celso Padovesi, o cenário preocupa devido a vários aspectos da saúde geral. “Além de todos os riscos que o cigarro traz para a saúde física, sendo um fator agravante para inúmeras doenças, incluindo a Covid-19, o aumento de seu uso tem relação direta com o comprometimento da saúde mental dos fumantes.”

O estudo indica ainda que os tabagistas entrevistados também apresentam deterioração da qualidade do sono e alegam ter agravados os sintomas de tristeza, irritação e sentimento de solidão.

A cirurgiã de cabeça e pescoço do Hospital São Camilo Oncologia Dra. Beatriz Cavalheiro destaca que o conjunto de condições que afetam a qualidade de vida do indivíduo interfere diretamente no processo de largar o hábito de fumar, criando uma bola de neve.

“A nicotina é altamente viciante e, quando associamos a intensificação deste hábito ao aumento do estresse e ansiedade, pode-se potencializar o risco de doenças graves”, explica a especialista.

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil conta com 22 milhões de fumantes. Estima-se, ainda, que mais de 157 mil pessoas morrem todos os anos por doenças associadas ao tabagismo.

“Pessoas que fumam ficam doentes com mais frequência em relação aos não fumantes, e o risco aumenta conforme a quantidade de cigarros e o tempo exposto ao vício”, ressalta a Dra. Beatriz, reforçando que o cigarro tem relação direta com o surgimento e o agravamento de diversos tipos de câncer.

Ela alerta que não é somente o câncer de pulmão que está diretamente associado à exposição ao cigarro. “Mais de 90% dos portadores dos cânceres de cavidade oral, incluindo a língua, garganta e esôfago são ou foram expostos ao tabagismo, com potencialização do risco de seu desenvolvimento à associação do consumo de bebidas alcóolicas em quantidades excessivas.”

A médica destaca ainda que, em geral, ao fumar, todo esse revestimento está exposto aos efeitos cancerígenos do tabaco, não sendo incomum o desenvolvimento de tumores em mais de uma região. Além disso, o tabagismo também eleva em três vezes o risco de desenvolvimento do câncer de bexiga.

O pneumologista, por sua vez, ainda destaca que o cigarro está associado também a diversas patologias como doenças cardiovasculares, osteoporose, catarata, úlceras do aparelho digestivo, impotência sexual, infertilidade e complicações na gravidez, além de problemas graves que afetam o sistema respiratório.

Ressalta, ainda, sua associação com o envelhecimento precoce da pele, o acometimento da saúde dos dentes, o surgimento de halitose (mau hálito), o espessamento das pregas vocais com consequente rouquidão e potencialização dos sintomas de refluxo gastroesofágico, entre outros.

Como parar de fumar?

A preocupação dos especialistas quanto à intensificação do tabagismo vai além da pandemia. “Pelo fato deste aumento estar associado a outros problemas que afetam a saúde mental da população fumante, há um risco de o hábito permanecer no futuro, desencorajando o fumante a reduzir ou a parar completamente”, afirmam os especialistas.

Embora difícil, parar de fumar é possível. E, segundo os médicos do São Camilo, são inúmeras as vantagens adquiridas ao longo do processo que podem atuar como importantes motivadores para largar o vício.

Os especialistas descrevem o que muda no corpo quando a pessoa fica longe do cigarro por:

1 dia:  os brônquios começam a limpar todos os resíduos deixados pelo fumo nas vias respiratórias, permitindo que os pulmões comecem a funcionar melhor.

3 meses: a função pulmonar melhora em até 30% e também há benefícios para a circulação sanguínea.

1 ano: reduz pela metade o risco de desenvolver doenças cardíacas.

5 anos: o risco de morte por infarto cai consideravelmente e o risco de AVC diminui.

10 anos: diminuem os riscos de câncer de boca, garganta, esôfago, pâncreas, rins e bexiga.

15 anos: o risco de câncer de pulmão torna-se o mesmo das pessoas não fumantes.

O pneumologista explica também que o coração do ex-fumante pode ter melhora significativa de função com o avanço dos anos longe do cigarro. “Uma pessoa que deixou de fumar há 15 anos tem os mesmos riscos de sofrer um infarto do que aquelas que nunca fumaram.”

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