sábado, 29 de maio de 2021

China e Taiwan rumo a guerra, EUA põem combustível e a Bahia neste contexto

 

Por Túlio Ribeiro


Tribuna da Bahia, Salvador
29/05/2021 06:00 | Atualizado há 9 horas e 35 minutos


Nas últimas décadas com ascensão da China como potência econômica e militar, a gigante asiática acelerou a ideia de “uma só China unificada. Neste cenário e com as disputas territoriais  no Mar da China  e suas riquezas naturais como petróleo , avança as tenções na geopolítica regional. 

Na rota desta história presente a possibilidade de uma guerra em grande escala China-Taiwan atingiu o "ponto mais alto" à medida que as tensões no Estreito de Taiwan atingiram níveis perigosos. 

Frente esta realidade as especificidades miram para fatores como a força militar dos dois lados, relações comerciais, opinião pública, eventos políticos e apoio de aliados, nos levando a uma verdade que se aproxima de uma eminente situação de conflito real, com uma situação de guerra possível. 

Neste escopo de ideias olha o território “rebelde” de Taiwan, assim considerado pela China continental, e a maior nação bélica do mundo (EUA). A potência asiática é líder econômica (considerada o conceito de diferença do valor de bens e serviços em cada país, e mensurando pelo real estoque de patrimônio dentro de cada nação) e na pratica enfrenta a maior nação bélica do planeta. 

A nação estadunidense, não têm laços diplomáticos formais com Taiwan, mas são seu avalista internacional, o mais destacado e um importante vendedor de armas para a ilha democrática. 

Repercutida em várias mídias orientais, o instituto “China Cross-Strait Academy” apresentou um estudo na última semana sobre as relações com base no estreito que separa China continental a partir de Taiwan. Uma mensuração diante de uma realidade que já nos chegam aos olhos. 

A pesquisadora é liderada por membros do comitê do partido Comunista apoiada pela Federação Juvenil de Toda a China. Especificamente, a China Cross-Strait Academy é sediada em Hong Kong e dirigida por Lei Xiying, um membro do comitê da Federação da Juventude de Toda a China, apoiada pelo Partido Comunista. 

Em suas considerações ela mensura com parâmetro um índice do nível de risco de conflito armado através do estreito, que os pesquisadores estimaram em 7,21 para 2021, em uma escala de menos 10 a 10. 

Dentre desta abordagem estão premissas da década de 1950 para chegar a índices de risco comparativos. Reportaram que no início dos anos 1950, quando as forças nacionalistas anticomunistas deixaram em fuga a parte continental para construir o governo de Taiwan, o índice era menor do que agora, em 6,7. 

Ele oscilou em patamares mais altos que 6,5 em grande parte da década de 1970, mas caiu para 4,55 em 1978, quando os EUA estabeleceram relações diplomáticas com Pequim. Durante a administração de Trump, o índice acabou de ultrapassar a marca de 6. 

Neste processo, segundo explana a análise, o risco de conflito também era baixo na década de 1990, quando o continente embarcou em reformas econômicas que atraíram investimentos de todo o mundo, incluindo Taiwan. 

A preocupação se tornou mais latente desde 2000, quando o Partido Progressista Democrático, inclinado à independência, assumiu o poder em Taiwan, encerrando os 55 anos de governo do Kuomintang, amigo de Pequim. 

A China já tinha tornado público suas críticas e preocupações expressou quando o contratorpedeiro da Marinha dos EUA navegou pelo estreito de Taiwan. Os estadunidenses escalaram seu destruidor de mísseis guiados classe Arleigh Burke, Curtis Wilbur, para “patrulhar a região”. 

Esta coletânea de preocupações encorpou quando as autoridades chinesas criticaram fortemente a medida, alertando os EUA “para não enviarem sinais errados aos elementos da 'independência de Taiwan' para evitar danos severos aos laços China-EUA”. 

Numa estratégia de manter o confronto político, a administração do presidente Joe Biden disse que seu compromisso com Taiwan é “sólido como uma rocha” e não deu sinais de recuar. 

O que se tem como verdade, é mesmo que estes capítulos tendem a sequenciar, pelo poder da potência asiática, seu conceito de uma nação unificada e a impotência de nações menores da região, algumas dependentes economicamente de uma parceria promissora com a “Grande China” .Vislumbra-se  algum tipo de anexação mesmo que negociada e com alguma troca de interesses em outro  lugar do mundo  com os rivais estadunidenses. 

Na quinta-feira passada, dois caças-bombardeiros JH-7 entraram na zona de identificação de defesa aérea do sudoeste de Taiwan junto com outras duas aeronaves chinesas, denunciaram as autoridades locais. Esse exercício ocorreu dois dias depois que o USS Curtis Wilbur passou pelo estreito de Taiwan. 

Além disso, esta terça-feira, a Marinha da China anunciou que entre os dias 17 e 20 de maio foi realizado no Mar Amarelo pelo Comando do Teatro do Norte um exercício ininterrupto de 74 horas, no qual participaram navios e forças marítimas locais de busca e resgate. 

A inércia, não tão calma assim, nos coloca no horizonte que a tendência atual é da junção com algum grau de pressão por uso da força. Uma contagem que apenas usa a seara do tempo como unidade. 

Uma China finalmente unida, aliada da “antiga irmã” Rússia e se beneficiaria, em momentos cruciais das crises conjunturais entre a Europa e Estados Unidos, nos permite vislumbrar um multilarismo começando ficar no passado e a volta de dois grandes blocos, desta vez com aliados mais amplos que na época da guerra fria. 

Esta dinâmica pode significar uma fortificação econômica da Rússia pela ajuda chinesa e um outro patamar militar bélico aos chineses com a tecnologia e aparato da nação de Vladimir Putin. Aos Estados Unidos, que ainda é a grande potência se considerarmos os conjuntos de premissas como o poder do dólar, seguiria tentando manter uma Europa aliada, cada vez mais desigual pelo leste europeu e imigração, mas que costuma ser fiel em momentos de turbulências aos interesses estadunidenses que na maioria são os seus. 

A BAHIA NESTE POSSÌVEL CONTEXTO CHINÊS 

As cadeias de valor globais estão cada vez mais em consonância, interagem e geram demandas mesmo distantes, desde que demonstrem necessárias, garantindo eficiência de preço e logística. É este paradigma mundial que também envolve a Bahia diante gigante chinês  e bem como o reflexo na ilha. As tensões no estreito de Taiwan atingiram o ponto em que um risco de conflito é o mais alto já registrado e os desdobramentos não passaria imperceptível sobre a Bahia. 

O estado baiano possui dentre da sua plataforma exportadora produtos como a soja, óleo combustível (fuel oil), celulose em pasta, algodão, bagaços de soja, celulose para dissolução, equipamentos de energia eólica, automóveis e manteiga de cacau. Neste espectro muitos dos insumos de uma produção de bens finais. Este conjunto representou em 2020 cerca de 66,8% do total exportado pela Bahia em 2020. 

Mesmo que esteja sendo remodeladas por outras demandas e novas capacidades da indústria no mundo em desenvolvimento, bem como por uma onda de novas tecnologias, é este parâmetro que se apresenta. 

Por conseguinte diante deste leque de exportações qualquer oscilação por um confronto no mar da china alteraria as exportações baianas. Os asiáticos são grandes compradores de soja, combustível e celulose. Pelo constante investimento em estrutura pala China, o minério de ferro seria diretamente influenciado. Por outro lado, Taiwan grande é exportadora de Cobre com 4,1 bilhões (1,2% de sua exportação), uma commodity concorrente ao estado nordestino, o que poderia ser uma oportunidade na demanda e preço. 

Terceira maior produtora de cobre do país e caminhando para o crescimento na produção de minério de ferro, a economia baiana estaria inserida nestas oscilações.  O minério de ferro, onde o estado possui atualmente 42 projetos relacionados, é a matéria-prima do aço e o cobre é utilizado em circuitos elétricos, fios, cabos, participam fortemente da cadeia produtiva de manufaturados chineses. 

É de difícil conclusão o desfecho desta unificação chinesa, mas a Bahia não poderia fugir desta realidade, a mensuração importante é como ganhar os mercados que o enfrentamento pode gerar com gargalos na oferta, e fugir da queda demanda se a crise se tornar mundial. Mas mesmo neste cenário, as incertezas dos mercados levam a investimento em ouro que representa 30% da produção baiana de minerais. Uma crise mostra ameaças, mas traz consigo oportunidades. 

*Túlio Ribeiro é economista, doutorado em política estratégia para o desenvolvimento (UBV-Venezuela)

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