terça-feira, 18 de maio de 2021

Araújo diz que Itamaraty atuou por cloroquina, nega ter atacado China e é chamado de mentiroso

 


Ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo

Mesmo sob juramento, Araújo mentiu para valer

Julia Lindner e André de Souza
O Globo

O ex-ministro de Relações Exteriores Ernesto Araújo afirmou à CPI da Covid, na manhã desta terça-feira, que não fez nenhuma declaração antichinesa e que não houve nenhuma hostilidade ao país por sua parte. O presidente da CPI, Omar Aziz, disse que Ernesto mentia sobre declarações em relação à China. Aziz lembrou Araújo de seus ataques aos chineses nas redes sociais.

Durante o depoimento, Araújo confirmou negociações do Itamaraty para comprar cloroquina no começo da pandemia. Mas disse que não conversou em outubro com Bolsonaro sobre a aquisição da Coronavac, e não tem conhecimento de quem falou sobre isso com o presidente, que, na época, desdenhou dessa vacina.

MENTINDO À VONTADE – Questionado sobre o impacto de suas declarações anti-chinesas, Araújo respondeu: “Eu não entendo nenhuma declaração que tenha feita como antichinesa. Houve determinados momentos em que por atos oficiais, por minha decisão, nos queixamos de comportamentos do embaixador da China. Não há impacto de algo que não existiu”.

Omar Aziz o alertou que ele deve dizer a verdade à CPI e lembrou declarações anti-chinesas. “Tem várias declarações. Posso ler o seu artigo (“Comunavirus”). Na minha análise, Vossa Excelência está faltando com a verdade. Peço que não faça isso. Escreveu no seu Twitter, escreveu artigo. Chegar aqui e desmerecer o que Vossa Excelência já praticou e que nunca se indispôs com a China, aí está faltando com a verdade” — disse Aziz.

O ex-chanceler afirmou que, apesar de posicionamentos dele e de Bolsonaro no passado, o Brasil é o que mais recebe insumos da China na pandemia e isso reflete uma relação positiva entre os países.

MAIS MENTIRAS – Otto Alencar (PSD-BA) disse ter juntado 15 declarações de Bolsonaro contrárias à vacinas. Questionado se concordava, Araújo foi evasivo e não quis responder objetivamente. “Eu sempre determinei, o Itamaraty sempre executou o que era necessário para adquirir vacinas” — afirmou Araújo.

Questionado sobre a carta da Pfizer ao governo brasileiro para tratar da aquisição de vacinas em 2020, Araújo disse ter tomado conhecimento do documento, que foi enviado à embaixada brasileira em Washington, mas não avisou Bolsonaro por presumir que o presidente já sabia disso.

Araújo disse que a embaixada informou também a assessoria internacional do Ministério da Saúde.

CONFLITO COM EMBAIXADOR – Questionado sobre o motivo de ter entrado em conflito com o embaixador chinês, em março do ano passado, após uma mensagem do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) contra a China, Ernesto disse que houve ofensa ao presidente da República e que se posicionou por isso.

“Não saí em defesa do filho do presidente. Na nota que eu fiz e publiquei como chanceler eu disse que o governo brasileiro não endossava as declarações de Eduardo Bolsonaro. No entanto, o embaixador da China tinha se excedido ao republicar uma publicação do Twitter que dizia que a família Bolsonaro é o veneno do Brasil. Procurei chamar atenção para isso” — justificou.

Na época, Ernesto escreveu que é “inaceitável que o embaixador da China endosse ou compartilhe postagem ofensiva ao chefe de  Estado do Brasil e aos seus eleitores”, afirmou Araújo na ocasião, em nota.

COMPRA DE CLOROQUINA – Durante o depoimento, Araújo confirmou negociações do Itamaraty para comprar cloroquina no começo da pandemia. Ele destacou que na época havia uma expectativa sobre a eficácia do remédio. Também lembrou que o estoque no Brasil havia diminuído e que o medicamento tem outros usos importantes. A cloroquina é utilizada em pacientes com malária, por exemplo.

Questionado por que foi contra à adesão do consórcio Covax Facility, da Organização Mundial da Saúde (OMS), que prevê a distribuição de vacinas, ele disse que não foi contra. Depois, perguntado por que o Brasil optou pelo quantitativo mínimo, suficiente para atender 10% da população, em vez de 50%, ele respondeu: “Essa decisão não foi minha. Foi do Ministério da Saúde”.

O ex-ministro refutou a avaliação de que ele fazia parte da ‘ala ideológica’ e deixou claro que sempre atuou sob supervisão do presidente Jair Bolsonaro.

OXIGÊNIO DA VENEZUELA – Randolfe Rodrigues (Rede-AP) questionou Araújo sobre a vinda de oxigênio da Venezuela para o Amazonas em janeiro.

— Ligou para alguém na Venezuela? — questionou Rodrigues.

— Não — respondeu Araújo.

— Agradeceu o gesto?  — perguntou novamente o senador.

— Não — respondeu novamente o ex-chanceler.

O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), então destacou que o suprimento chegou ao Brasil por rodovia, quando poderia ter sido por via área. Isso teria feito chegar mais rapidamente, salvando vidas.

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