Entre vacinados e infectados, o alto nível de imunidade é um dos fatores que indicam uma vitória sofrida contra o vírus que matou 150 mil. Vilma Gryzinski:
Há
cinco meses sem aparecer em público, a rainha Elizabeth emergiu ontem,
usando o melhor figurino que se possa imaginar: casaco e chapéu em
verde-limão e um sorriso de alívio.
Como
os britânicos adoram associar a pessoa da rainha ao estado de espírito
nacional, é irresistível não concluir que ela refletiu a esperança geral
de que o Reino Unido saiu dessa.
Por
“essa”, entenda-se 150.116 mil mortes, segundo dados atualizados do
Instituto Nacional de Estatística, o que dá o pior resultado,
proporcionalmente, entre os grandes países europeus. Mais até que o
Brasil – com a enorme diferença que a doença avança catastroficamente
entre nós e parece domada no Reino Unido.
Um
número, entre muitos: por dois dias desta semana, não houve nenhuma
pessoa morta por Covid-19 em Londres, que, como todas as metrópoles, foi
a cidade mais duramente atingida.
Em
escala nacional, as infecções estão na casa de quatro mil por dia e as
mortes caíram para a uma média de cinco dezenas. Há dois meses e dez
dias, em 19 de janeiro, haviam chegado ao triste recorde de 1.469.
O
sucesso da campanha pioneira de vacinação, que começou em dezembro e
agora já abrangeu 31 milhões de pessoas – mais da metade da população
adulta – , se reflete nos testes para anticorpos.
Segundo
a pesquisa por amostragem, 54,7% das pessoas que moram em unidades
familiares na Inglaterra já têm anticorpos contra o vírus. No País de
Gales, são 50,5% e 42,6% na Escócia.
Como
os idosos foram o grupo prioritário, nas categorias acima dos 65 anos, a
imunidade passa de 80%, chegando a 90% na faixa dos 70 aos 74.
Se as pessoas idosas vivessem isoladas do resto da população, já teriam alcançado amplamente a imunidade de grupo.
Como
não vivem, o governo tem que fazer uma coisa muito difícil: promover a
si mesmo, como todos os governos, nesse caso com razão, por ter montado
todas as complicadas peças de uma vacinação em massa, com imunizantes
que nunca tinham sido administrados em larga escala antes, e, ao mesmo
tempo, apelar para que o sucesso não suba à cabeça e a população afrouxe
as medidas de segurança.
Um
dos grandes desejos reprimidos pela pandemia é viajar para localidades
praianas de clima mais ameno e nisso o governo não está disposto a tirar
a risca vermelha, diante do risco de que os turistas voltem infectados
com variantes resistentes a vacinas.
As
viagens ao exterior continuam proibidas, exceto por motivo de força
maior, com uma perspectiva de multa de cinco mil libras para quem
aparecer no aeroporto sem ter comprovação desse motivo.
Outro
tema em debate: se restaurantes, pubs e locais de eventos deveriam
requerer algum tipo de prova de vacinação ou de anticorpos para permitir
a entrada.
É
o tipo de problema que, nas circunstâncias atuais, parece até bom de
ter para países importantes como a Alemanha e a França, onde a tendência
da doença continua negativa e seus líderes agora, como
terceiro-mundistas atabalhoados, estão correndo atrás da Sputnik V da
Rússia.
Enquanto
Boris Johnson tenta segurar o entusiasmo com um número bom atrás do
outro, Emmanuel Macron precisou anunciar ontem um terceiro lockdown –
embora a palavra seja proibida – em escala nacional.
O
sorriso aberto da rainha, que passou a maior parte da pandemia isolada
no castelo de Windsor e atendida por uma equipe de 20 funcionários que
se revezavam, voluntariamente afastados das próprias famílias, disse
tudo: sair do sufoco da pandemia dá uma sensação de alívio que não tem
preço.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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