terça-feira, 30 de março de 2021

A crise atual lembra o final da ditadura, quando Geisel demitiu o ministro do Exército

 


Geisel demitiu o ministro Frota e indicou João Figueiredo

Roberto Figueiredo

É realmente uma situação gravíssima. O presidente defenestrou mais um amigo de várias décadas, seu colega de turma na AMAN, que não aceitou usar as Forças Armadas para seus objetivos golpistas. O Exército não é do presidente. O Exército é uma Força do Estado, assim como a Aeronáutica e a Marinha. Não pode ser usado ao bel prazer do inquilino do Planalto, seja ele quem for.

Trata-se da a demissão mais esdrúxula, de todas até aqui. O general Azevedo e Silva tinha interlocução com o Supremo e era um elo de ligação com os militares, que o respeitavam.

SOUBE DIZER NÃO – Perdeu o presidente um amigo leal, mas, que soube na hora certa dizer não aos arroubos autoritários desse déspota medieval, em quem o povo acreditou, tanto da classe A, como da classe média e das classes C e D. Mas errar é humano e faz parte do aprendizado das pessoas, sobretudo nas eleições.

Quem discorda de Bolsonaro, logo é demitido, sem dó nem piedade. Os casos emblemáticos são: Gustavo Bebianno, general Santos Cruz, Sérgio Moro, Luiz Mandetta e agora o general Azevedo e Silva. Quem será o próximo?

O general Hamilton Mourão, só não teve a cabeça ceifada, porque vice é indemissível. Mas o presidente deixa claro que não o suporta.

HÁ TEMPOS ATRÁS – A crise atual lembra o final da ditadura de 64, quando o general Silvio Frota, ministro do Exército do governo Ernesto Geisel, era da linha dura. Não concordou com a distensão lenta e segura do regime e preparava um golpe contra o presidente.

Geisel chamou recebeu os comandantes militares ao Planalto e comunicou a todos que demitiria seu ministro. Escolheu o comandante do Sul, general Fernando Bethlem, como substituto. Foi pessoalmente ao Forte Apache demitir Frota. Ainda deu a ordem: Viaje para o Rio agora, que a mudança irá depois.

ABREU E FIGUEIREDO – O desenrolar de toda essa engrenagem estava a cargo do general Hugo de Abreu, chefe da Casa Militar do presidente Geisel. Tinha três estrelas e era o primeiro na lista de promoção. Mas Geisel escolheu o general João Figueiredo, chefe do SNI, também de três estrelas e quinto da lista e depois o indicou para assumir a Presidência.

Abreu foi para a reserva ressentido com o chefe e escreveu o livro: “O outro lado do Poder”. Magoado e triste com o fim melancólico de sua carreira, o general teve um enfarte fulminante.

Não foi fácil para Figueiredo restaurar a democracia. A linha dura resistiu e o ápice dessa resistência foram as bombas jogadas na Tribuna da Imprensa e no Riocentro, ambas em abril de 1981, após a aprovação da anistia ampla, geral e irrestrita.

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