Já
teve o chilique, já botou mais um fardado dentro do Governo, já pisou
no Paulo Guedes mais uma vez (e nenhum dos dois se cansa!), já prometeu
aos caminhoneiros que agora vai, que não precisam fazer greve – mas, por
via das dúvidas, já fizeram a greve em Belo Horizonte, tumultuando a
vida da cidade. Agora, é aquela questão matemática: pegue o preço da
gasolina e do Diesel antes dessa confusão toda, some o chilique, some a
promoção do fardado, multiplique pela humilhação do Superministro da
Economia, e a conta vai dar exatamente o preço da gasolina e do Diesel
antes da confusão.
Por
que a vida dos caminhoneiros está tão difícil? Comecemos lembrando que
Dilma, para agradar a categoria, financiou caminhões a juros de BNDES,
estimulando os autônomos a trocar seus veículos. Perfeito: só que,
embora baixos, os juros têm de ser pagos. Com mais caminhões do que o
necessário, a tendência dos fretes é cair. O presidente já é Temer: para
evitar uma greve, fixou um piso para o frete. Temer sabia, claro, que
isso é impossível: se um cliente vai pagar cem e um caminhoneiro sem
carga se oferece por 80, quem irá atrapalhar os dois? Mas Temer sabia
também que seu mandato estava no fim, e o problema ficaria para o
presidente seguinte. E Bolsonaro, para evitar uma greve, teve então seu
chilique, disse que ia fazer e acontecer.
Mas
não vai, não: as raízes desta crise estão fora de seu alcance. Não tem
como reduzir o número de caminhões, nem de lotá-los. É jogo jogado.
O Real e o real
Mas
por que Diesel e gasolina subiram tanto? Por dois motivos: primeiro, a
desvalorização do Real – que vem se enfraquecendo dramaticamente. Das 30
moedas mais negociadas do mundo, o Real foi a que mais valor perdeu em
2020 – já no Governo Bolsonaro. Foram 28%. Lembra do dólar a R$ 4? Pois
hoje oscila perto de R$ 5,50. São mais reais para pagar o mesmo barril
de petróleo. O barril de petróleo também já não é o mesmo: faz frio nos
EUA, o que aumenta muito o uso de combustíveis para aquecimento. O preço
do fim de 2020 oscilava perto de US$ 50. Hoje, oscila em torno de US$
65.
Ponha
30% no preço do petróleo, some mais uns 30% de desvalorização do Real, e
tente manter hoje o preço do Diesel e da gasolina em 2020, já alto.
Bolsonaro pode chilicar à vontade que não vai mudar a temperatura dos
EUA. A desvalorização do Real é água passada, diga Guedes o que disser,
tente Bolsonaro baixar o preço quanto quiser. Dilma fez isso e não deu
certo.
Hotel da sucessão
Só
quem conhece a história da TV brasileira recorda este programa de
sucesso de 1955, na época da eleição que levou Juscelino Kubitschek ao
poder. No hotel se hospedavam os personagens da campanha. Lá circulava
não muito discretamente um objeto misterioso que convencia os políticos a
mudar de opinião.
Economizar, jamais
A coluna Diário do Poder,
de Cláudio Humberto, faz uma comparação impressionante entre Brasil e
Estados Unidos. O Palácio do Planalto, sede do Governo brasileiro, tem
4.600 funcionários; a Casa Branca, sede do Governo americano, tem 460
funcionários. O presidente americano mora e trabalha na Casa Branca. O
presidente brasileiro trabalha no Palácio do Planalto, mora no Palácio
da Alvorada e dispõe da Granja do Torto; tem também à disposição o
Palácio Rio Negro, em Petrópolis.
E
a mania de palácios à vontade não é exclusiva dos presidentes, seja
qual for seu partido: o governador de São Paulo mora e trabalha no
Palácio dos Bandeirantes, tem um palácio no Horto Florestal, em São
Paulo, tem outro palácio em Campos do Jordão. Para que? Para nada.
The British way
O
primeiro-ministro britânico mora e trabalha numa casa em Downing
Street, 10. A casa foi um presente do rei George 2º a seu principal
ministro, Robert Walpole, por bons serviços prestados. Walpole aceitou o
presente, desde que não fosse algo pessoal: a casa seria utilizada por
quem quer que ocupasse o cargo.
Curiosidade
As
notas Hotel da Sucessão; Economizar, Jamais; e The British Way foram
publicadas originalmente em 2013, há quase oito anos. O mundo gira e o
Brasil fica parado. O que acontece de novo é ainda pior: o Governo fica
sossegado enquanto 250 mil pessoas morrem de Covid, mas se movimenta
para, usando incontáveis e sólidos argumentos, ganhar o apoio do
Centrão. Corte de despesas? Houve algum em qualquer dos três Poderes,
excetuando os inúmeros cortes das 700 toneladas de picanha para a turma
lá de cima?
O esperto
Daniel
Silveira só agora está descobrindo que vai pagar sozinho por sua
cafajestada. Está preso, Bolsonaro está quieto, seus colegas de Câmara
estão preparando uma lei pela qual deputado não possa ir para a cadeia.
Só ele.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário