sábado, 27 de fevereiro de 2021

Pazuello tenta reduzir responsabilidade e culpa variações do vírus para tratar pandemia como surpresa

 


Pazuello desde o início rubricou o seu descompromisso com a população

Bruno Boghossian
Estadão

Eduardo Pazuello descobriu o tamanho da “gripezinha”. Depois de uma reunião nesta quinta-feira, dia 25, o ministro da Saúde culpou as mutações do coronavírus pela situação crítica registrada em várias cidades do país. “Estamos enfrentando uma nova etapa dessa pandemia. O vírus mutado nos dá três vezes mais contaminação”, declarou.

Apesar de ocupar o cargo há nove meses, o general falou como se tivesse acabado de chegar ao gabinete. O discurso da “nova etapa” parece um esforço para pintar a tragédia continuada como uma crise imprevista. O objetivo é buscar uma rota de fuga e apagar o comportamento desastroso do governo no último ano.

MUTAÇÕES – Pazuello apontou as mutações como vilãs inesperadas, mas a microbiologista Natalia Pasternak explica que o surgimento delas era previsível. “Variantes aparecem em locais onde o vírus corre solto. Não fomos pegos de surpresa”, diz. “Elas são preocupantes, mas isso não quer dizer que a situação estava sob controle. As variantes agravam o problema.”

O ministro disse ter monitorado o surgimento dessas cepas em outros países e citou o Reino Unido, onde o governo impôs medidas de restrição assim que descobriu detalhes de uma nova mutação. Pazuello quase demonstrou espanto com a variante brasileira P1 e com o colapso de hospitais pelo país. Ele só não quis dizer que essa linhagem já é conhecida por aqui há pelo menos 40 dias.

LOGÍSTICA – Em busca de imunidade, o general afirmou que havia uma “situação de estabilidade” em novembro e que esperava manter a situação com a chegada da vacina. Três meses se passaram, e o governo não consegue enviar para o lugar certo as doses que tem. Para piorar, continua brigando com laboratórios que poderiam ampliar a oferta de imunizantes.

O general acordou atrasado. O Brasil tem uma média diária superior a 1.000 mortes há mais de 35 dias, mas Pazuello só quis reconhecer o problema agora. Segundo Pasternak, há tempo para contornar a crise: “O que não se pode fazer é jogar a culpa na variante e cruzar os braços”.


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