Presa nos Estados Unidos, onde o maridão El Chapo ficará trancafiado para sempre, ela tem a opção de entregar tudo - ou ficar dez anos longe das filhas. Vilma Gryzinski:
Emma
Coronel é uma bomba ambulante. Não pelo marido ou os cúmplices dele no
cartel de Sinaloa – Joaquín Guzmán, o notório El Chapo, cumpre prisão
perpétua numa supermax no Colorado.
A
clone de Kim Kardashian, de quem copiou cabelo, boca, nariz, seios e
outros atributos, foi presa e deixou em posição desconfortável muita
gente do penúltimo governo mexicano, de Felipe Calderón.
O
mais de desconfortável é Genaro García Luna, ex-ministro da Segurança
Pública, igualmente preso nos Estados Unidos – o único país onde o
avassalador poder de corrupção do narcotráfico não impede algo pelo
menos parecido com justiça para os poderosos chefões e seus asseclas.
“Não
se sabia onde terminava a delinquência e começava a autoridade”,
espetou o presidente Andrés Manuel López Obrador, que fez a ligação
entre a prisão de Emma, a ex-rainha do Café e da Goiaba de uma cidade do
interior que enlouqueceu o chefão tampinha (Chapo), e o ex-ministro.
“Pode ser que o governo dos Estados Unidos dê mais informações, é um assunto deles”, desconversou AMLO.
Com
seu estilo peculiar, o presidente já lamentou a “desumanidade” da
prisão perpétua do traficante numa penitenciária de regulamentos
extremamente rígidos. Também fez um desvio numa cerimônia oficial para
falar com a mãe de El Chapo. Era o inicio da pandemia e ela ficou dentro
do carro.
Pior
ainda: numa atitude quase inacreditável, até mesmo para os padrões do
México onde reina o narcotráfico, o presidente deu ordem para soltar o
filho de El Chapo, Ovídio, preso numa operação do Exército em Culiacán.
Asseclas do traficante tomaram a cidade de assalto e provocariam “uns
duzentos mortos” se Ovídio não fosse solto, segundo o motivo alegado por
AMLO.
A
debilidade, quando não a cumplicidade, das instituições do Estado estão
na raiz do enorme poder do narcotráfico no México, impulsionado pela
proximidade com os Estados Unidos, o grande mercado consumidor, e um
“modelo de negócios” altamente bem sucedido.
El
Chapo, por exemplo, especializou-se em entregar a cocaína vinda da
Colômbia, rápida e eficientemente, por qualquer meio imaginável, desde
caixas de bananas com frutas recheadas de pó até submarinos
improvisados.
Suas
fugas espetaculares não teriam ocorrido sem cumplicidade de autoridades
constituídas. Uma das acusações contra García Luna é que facilitou as
coisas para que o traficante cavasse um túnel sob o banheiro de sua cela
na penitenciária teoricamente de segurança máxima. O diretor do serviço
penitenciário recebeu dois milhões de dólares para olhar para o outro
lado.
Suspeita
da intermediação: Emma Coronel, acusada também de levar um relógio com
GPS para posicionar exatamente a escavação do túnel.
É
esse tipo de informação que a torna explosiva. O marido já está preso
mesmo, poderia raciocinar diante da hipótese de pegar no mínimo dez anos
de cadeia e, no máximo, prisão perpétua. Como será a vida das filhas
gêmeas, María Joaquina e Emali, hoje com nove anos, sem pai nem mãe?
Quando
foi extraditado e julgado nos Estados Unidos, El Chapo assistiu,
inabalável e com o apoio diário de Emma, a sucessão de testemunhos sobre
as atrocidades que mandou cometer ou cometeu pessoalmente,
transformando centenas de rivais, cúmplices ou desafetos em “carne
assada” – a terrível expressão usada para designar os corpos dos mortos
pelos cartéis.
Tudo
o que o traficante fazia era regularmente transmitido para o DEA, a
polícia americana de combate às drogas que havia cooptado seu técnico de
informática, um jovem colombiano que convenceu El Chapo a aderir ao
mundo digital com o argumento de que poderia controlar as comunicações
das inúmeras amantes e da jovem esposa, Emma.
Com
dupla nacionalidade, mexicana e americana, ela levava até o dia em que
foi presa uma vida de celebridade. Chegou a abrir uma loja digital para
vender roupas e acessórios com a marca JGL, as iniciais de EL Chapo.
Como
influencer do mundo digital, era paparicada com presentes e outros
mimos. No Dia dos Namorados, recebeu flores, chocolates e bijuterias de
interessados em ver seus produtos divulgados.
Suas
últimas fotos no Instagram foram com um vestido de noiva de um
estilista conhecido. Estava loira. Foi presa ao desembarcar no aeroporto
de Dallas. Acusação: formação de quadrilha para o tráfico de drogas,
lavagem de dinheiro e correlatos.
As
acusações conhecidas mais diretas contra ela foram feitas por Dámaso
López Nuñéz, conhecido como El Licenciado, ex-braço direito de El Chapo
que está colaborando com a justiça americana.
Contou em detalhes como se encontrou “com minha comadre” e planejou a fuga de El Chapo em 2016.
Os
três filhos de El Chapo continuam a dominar o cartel de Sinaloa, mas
com o cabeça afastado não faltam concorrentes. Em algum momento, o
império vai ruir e Emma Coronel ficará sem a proteção dada à mulher – ou
mulher principal – do chefe.
A
perspectiva de passar anos na cadeia e sair dela para um status
diminuído não deve ser muito animadora. Pelas leis da omertà, não pode
falar uma palavra contra ele ou seus asseclas, mas muitos outros
envolvidos não devem estar dormindo tranquilos.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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