A
vacina da Pfizer-BioNtech, que em Israel mostra resultados dramáticos
na queda de casos de Covid, foi criada nos Estados Unidos sob a
liderança de um filho de imigrantes que sobreviveram aos nazistas em
Tessalônica, na Grécia. Parte essencial da vacina foi desenvolvida pelo
BioNtech, laboratório alemão pertencente a um casal de turcos, ele
imigrante, ela filha de imigrantes. A Alemanha os trata como heróis.
O
Imperial College, de Oxford, universidade inglesa de elite, se aliou ao
laboratório AstraZeneca, anglo-sueco, e criou uma vacina que vem sendo
disputada; um dos clientes mais ansiosos é o Brasil. A vacina de Oxford
tem 70% de ingredientes chineses. O maior dos centros produtores é o
laboratório Serum, na Índia. Há conversas para testar em conjunto a
Oxford, inglesa com ingredientes chineses e produção indiana, e a
Sputnik russa.
A
China se lançou à produção de três vacinas – uma, a CoronaVac, com o
Butantan. Como a Oxford, a CoronaVac se baseia em ingredientes chineses.
O
francês Stéphane Bancel, ex-dirigente do laboratório bioMérieux e com
experiência anterior na Ásia, comanda a Moderna, empresa americana
próxima à Universidade Harvard. A Moderna (de Mode-RNA) criou uma vacina
com base em ácido ribonucleico, RNA, como a Pfizer, e entregou a
produção a um laboratório suíço.
É assim que as vacinas se espalham pelo mundo. Globalização é isso. E há quem ache ruim.
O não era sim, mas é não
Quando
um grupo de empresas se propôs a importar vacinas, doar metade ao SUS
e, com o restante, imunizar seu quadro de funcionários (havia também
quem quisesse buscar vacinas para vendê-las a quem quisesse furar a
fila), o Governo Federal disse não. O ministro da Saúde disse que
vacinar era tarefa do SUS, ponto final. OK, não era bem assim: o Governo
Federal tinha dado sinal verde à importação, desde que sobrasse o
suficiente para as compras oficiais.
Mas
por enquanto a ideia foi esquecida: a AstraZeneca já informou que, por
enquanto, não fará vendas à iniciativa privada. E há sinais de que a
Sinovac também não tem sobra de estoques de CoronaVac.
A comilança
Esqueça
aqueles filmes de grandes banquetes romanos: aqueles homens de túnica,
recostados, comendo uvas e tomando vinho, eram decididamente frugais. O
jornal brasiliense Metrópole levantou as despesas do Executivo com
alimentação em 2020: R$ 1,8 bilhão só em produtos, 20% mais que no ano
anterior. A maior despesa foi com leite condensado: superou os R$ 15
milhões. Tudo bem que o presidente Bolsonaro gosta de leite condensado
com pão, mas tudo isso? Numa das regiões mais caras de São Paulo, num
supermercado famoso pelos preços altos, com esse dinheiro seria possível
comprar 2,6 milhões de latas.
Mas
também se gasta muito em vinho, bacon, chicletes, frutos do mar; e R$
32,7 milhões em pizzas e refrigerantes. São R$ 123 milhões em sobremesas
diversas. Sete milhõezinhos em bacon defumado. E são dados oficiais:
estão no Painel de Compras do Ministério da Economia. Os maiores gastos
em alimentação ocorrem no Ministério da Defesa, R$ 632 milhões. A
Economia informou o Metrópoles que a maior parte do gasto é da Defesa,
“porque se refere à alimentação das tropas das Forças Armadas em
serviço”. Entre os gastos do Ministério da Defesa, há R$ 2,5 milhões em
vinho. Imaginemos aquele pessoal façanhudo, cheio de medalhas, rosto
sempre fechado, traçando seu leitinho condensado, como o presidente; e
com bacon defumado.
Está explicado um mistério: como se deu a expansão do abdome de Bolsonaro. Pão com Leite Moça, né?
A cobrança
O
senador Alessandro Vieira (Cidadania-Sergipe) e os deputados Tabata
Amaral (PDT-São Paulo) e Felipe Rigoni (PSB-Espírito Santo) enviaram
representação ao Tribunal de Contas da União pedindo investigações sobre
o aumento de gastos do Executivo com alimentação. “Em meio a uma grave
crise econômica e sanitária, o aumento de gastos apontado pelas matérias
é absolutamente preocupante, tanto pelo acréscimo de despesas como pelo
caráter supérfluo de muitos dos gêneros alimentícios mencionados”.
Exagero
Talvez
os parlamentares cobrem demais. Que mal há em comer 213 kg de geleia de
mocotó por dia? Ou, no mesmo período, tomar 30 mil iogurtes?
Agora, caminhoneiros
Representações
no TCU, pedidos de impeachment às dezenas, o que leva Bolsonaro a
trabalhar duro para eleger presidentes no Legislativo que se acomodem em
cima de tudo – e há ainda, a greve de caminhoneiros.
O
presidente já lhes prometeu prioridade na vacinação (mas eles sabem que
não há vacinas). Querem diesel mais barato. Não querem o projeto de
navegação de cabotagem, que lhes tirará o emprego. Data marcada, dia 1º.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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