segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Pensando o segundo turno: "Dentro dessa política não há salvação".

 



Post de Fernão Lara Mesquita, em seu blog Vespeiro:


Uma bancada brilhante de analistas reuniu Aldo Rebelo, Christian Lohbauer e Cláudio Couto sob a coordenação de Marcelo d’Angelo domingo na BandNews. 

“O Brasil mostrou, nesta eleição, que é um país capaz de corrigir seus próprios erros”. Do confronto entre os equívocos da direita e os equívocos da esquerda de 2018 que empurrou o resultado para fora da política, voltou-se para o centro com a derrota de todos os extremos, e para a reafirmação da certeza de que não há salvação fora da política. 

É perfeito! Mas faltou encarar finalmente a evidência, velha como a tragédia brasileira, de que dentro DESSA POLÍTICA nossa também não há salvação. 

A coragem para dar esse salto para fora do nosso sistema deformado e confronta-lo com os fundamentos básicos da democracia é o que está faltando, não direi aos eruditos do nosso mar de siglas que interpretam suas interações esotéricas que também têm o seu lugar no debate nacional, mas ao menos à elite deles como esta que deu voos mais altos no encontro de domingo à noite na BandNews.

Os equívocos de 2018, tanto quanto o de 2002, foram erros conscientes de sua condição de erro, cometidos no desespero depois de anos de resistência, que o eleitorado finalmente se arriscou a cometer depois de esgotar todas as alternativas oferecidas pelo Sistema estreito por onde se esgueira. (Felizmente os erros pela direita levam menos tempo para serem corrigidos).

O que é preciso, agora, é construir um sistema onde as correções possam acontecer mais rápido e com maior frequência. E para isso é preciso escancarar as portas de entrada e tirar a pauta e a agenda da política das mãos dos políticos e entregá-las ao povo.

Só o povo tem legitimidade para dizer o quê e quando é preciso que os políticos processem. A políticos que representem parcelas identificáveis da população e do eleitorado nacional deve caber negociar em que doses, em que velocidade e com que nuances deve ser executado o que o povo lhe determinar que precisa ser feito. 

Só isso será capaz de restabelecer na boa direção a cadeia das lealdades, redirecionar dos grupos em disputa pelo poder para o País Real os projetos nacionais e, no limite, “despetrificar” o país e liberta-lo do compromisso com os “erros” acertados pela privilegiatura. 

Ninguém do establishment quer pôr esse bode na sala por razões óbvias mas ele está prestes a entrar triunfalmente nela. O que está eleição também mostrou de forma irrefutável é que não há mais nenhuma bandeira crível no baralho da velha política e nenhum partido vai ganhar o Brasil vendendo sexo, drogas e revolución…

Chegou a vez do “Poder para o povo” não só porque nenhuma outra moeda na história da humanidade tem tanto poder de compra, faltando apenas quem queira vendê-la com a credibilidade de quem pretende realmente entregá-la ao único agente do Sistema que ainda não tem nenhum, mas porque, ainda por cima, este é o único remédio fulminante conhecido para a corrupção, a doença que se nós não controlarmos JÁ, acaba com o Brasil.

É isso que está por trás não mais da ideia, mas da história vivida do voto distrital com recall, primeiro elo da cadeia desse círculo virtuoso. Quem resumir primeiro essa receita para o eleitorado corre imenso risco de se tornar o próximo dono do Brasil.

Postas as conclusões deles misturadas com as minhas, prossigo com uma “tradução livre” do que mais foi dito lá:

Bolsonaro – um cara que ele mesmo não “é” nada, apenas um sindicalista de fardados – está naquela clássica situação do sujeito com um santo numa orelha e um diabo na outra, sussurrando sem parar:

“Se você continuar a gastança não termina o mandato”.

“Se você não continuar a gastança não termina o mandato”.

O resultado é o imobilismo.

E é desse abismo que pende o destino do Brasil, um país exausto, paciente de altíssimo risco para sobreviver a qualquer tipo de morbidade adicional que venha a acomete-lo.

2018 foi o confronto de dois equívocos: o equívoco da direita versus o equívoco da esquerda.

Quem vai liderar a reformulação da política para 2022? O melhor da velha política já foi. Está na porta de saída. E a nova ainda não chegou.

Pela esquerda o que surgiu foram dois lobos em pele de cordeiro: o Boulos da eleição não era o Boulos real, da antipolítica e das ocupações; a Manoela da eleição não era a Manoela real, da militância identitária das redes sociais. 

O PSOL teve só 2 milhões de votos, elegeu 5 prefeitos e 88 vereadores no país inteiro. É uma criança momentaneamente encantando crianças. É a antipolítica pela esquerda. Não tem consistência programática nem quadros.

Já a esquerda tradicional, PT, PC do B, foram os grandes derrotados da eleição.

Pelo centro, as fraturas são visíveis. Há o João Doria do discurso de apoio a si mesmo na vitória de Bruno Covas e há o discurso sem João Doria de Bruno Covas e a performance do PSDB nas urnas, com destaque para Eduardo Leite no RGS. Nada está garantido sobre com quem ficará a força da social-democracia em 2022.

Pela direita o DEM, esse animal estranho com pretensões programáticas no SE mas com outra cara no NE, que cresceu muito na eleição, talvez seja um eterno condenado a atuar somente no Congresso onde não assume jamais um perfil sectário, o que o torna o grande fator de equilíbrio nos bastidores das decisões mais importantes do país.

A “bolha urbanóide” e a ignorância de tudo que está fora dela, no Grande Brasil, é a explicação para o ambientalismo delirante que persiste por aí.

***

Ao contrário dos Estados Unidos, o Brasil escreve sua história pelo que não deu certo; só cultua o que deu errado.
 
BLOG  ORLANDO  TAMBOSI

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