O ecofundamentalismo é um verdadeiro milenarismo científico ligado ao complexo mitopoético e escatológico do aquecimento global e do apocalipse ambiental. Flavio Gordon para a Gazeta do Povo:
“Milhares
de turistas farão uma peregrinação ali, aos domingos. Terão acesso à
grandeza do nosso universo. O frontão triangular terá este mote: Os céus
proclamam a glória da eternidade. Será nossa maneira de dar aos homens
um espírito religioso, de ensinar-lhe a humildade – mas sem sacerdotes.
Para Ptolomeu, a terra era o centro do mundo. Isso mudou com Copérnico.
Hoje sabemos que nosso sistema solar é apenas um sistema solar entre
outros muitos. O que poderíamos fazer melhor do que permitir ao maior
número possível de pessoas ficar a par dessas maravilhas? Ponde um
pequeno telescópio numa vila e destruireis um mundo de superstições”
(Adolf Hitler, citado por Eric Voegelin em Hitler e os Alemães).
Além
de provável lobista e preposto do Partido Comunista Chinês, o ainda não
eleito presidente americano Joe Biden é representante da principal
religião política de nossos dias: o ecofundamentalismo, um verdadeiro
milenarismo científico ligado ao complexo mitopoético e escatológico do
aquecimento global e do apocalipse ambiental previsto pela “ciência”
globalista da ONU e de outras organizações supranacionais. Trata-se, ao
fim e ao cabo, de uma crítica neopagã ao pretenso antropocentrismo da
tradição religiosa judaico-cristã.
Sim,
Biden é um produto acabado desse contexto, algo como um sacerdote da
igreja de Al Gore e do ambientalismo onuseiro, e que, justamente por
isso, contou com o apoio da elite globalista e do conglomerado de
imprensa que lhe serve de agência de propaganda. Toda a conversa sobre
“crise civilizacional”, sobre a urgência de agir em face das assim
chamadas mudanças climáticas é fruto direto do vocabulário do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU e da
intelligentsia que o orienta.
As
raízes simbólicas e filosóficas da candidatura Biden-Harris
encontram-se exemplarmente expressas, por exemplo, no livro The Sacred
Depths of Nature, da bióloga norte-americana Ursula Goodenough, onde se
propõe a ideia de um “naturalismo religioso”. Trata-se da promessa de
uma nova teosofia planetária à la Madame Blavatsky e Alice Bailey – um
velho sonho globalista acalentado, entre outros, por Robert Müller, o
“filósofo da ONU”. Na obra, Goodenough procura descrever o componente
sagrado da interpretação científica da natureza, interpretação que chama
de “A Epopeia da Evolução”, e cuja representação iconográfica pop seria
o filme Avatar, sucesso de bilheteria do diretor hollywoodiano James
Cameron.
Como
se sabe, o filme faz apologia de um imanentismo religioso de tipo Nova
Era, onde os nativos humanoides Na’avi vivem em harmonia com a natureza
de seu planeta, Pandora, reverenciada como a deusa Eywa (espécie de Gaia
ou “Mãe-Terra” panteísta). Há, em Pandora, uma grande rede neuronal
biológica que conecta todas as criaturas viventes. Os Na’avi, por
exemplo, conectam-se aos seus animais de montaria pelas pontas de suas
tranças, que funcionam como cabos HDMI orgânicos.
A
proposta de Avatar era realizar a síntese entre duas cosmovisões
tradicional e aparentemente antitéticas: o primitivismo romântico e o
progressivismo tecnocientífico. Pandora é a imagem paradigmática da
utopia pós-moderna: um imenso sistema tecnorgânico, com uma tecnologia
de comunicação extremamente avançada, eficaz e unificadora, aliada à
harmonia total com a natureza e respeito pela diversidade
socioambiental. Pandora representa o ideal globalista do
“desenvolvimento sustentável”.
Seu
criador, James Cameron, seria como o gigante coroado no frontispício
original de O Leviatã – que detinha em suas mãos os poderes espiritual e
temporal, a cruz e a espada. Numa das mãos, Cameron leva a mais
poderosa tecnologia de ponta. Na outra, os valores da ecologia e da
sustentabilidade. Com a direita, segura o grande capital e a hegemonia
americana. Com a esquerda, o comunismo primitivo e o multiculturalismo.
O
filme insiste ainda num topos recorrente, sempre revisitado no cinema
hollywoodiano, e que cai como uma luva para a causa do
ecofundamentalismo: o simbolismo do saber versus o poder, da razão
científica contra o irracionalismo estatal-militar. Um dos principais
confrontos do filme é entre a visão de mundo pacifista e ecológica da
doutora Grace Augustine (a experiente e sensata botânica vivida pela
atriz Sigourney Weaver) e a visão bélica e colonialista do coronel Miles
Quaritch (vivido por Stephen Lang).
Evidentemente,
o simbolismo da ciência pura – “ciência, ciência, ciência”, para falar
como um certo enganador nosso conhecido – contra os interesses dos
poderosos (a doutora Grace contra o coronel Quaritch) também é
reproduzido fora da ficção. É, aliás, parte inerente do discurso dos
cientistas do aquecimento global contra todos os seus críticos. Estes,
chamados de “céticos” ou “negacionistas” (num truque semântico concebido
para associá-los aos negacionistas do Holocausto), seriam a versão real
do coronel Quaritch – fundamentalistas e arredios à verdade científica;
egoístas e movidos por ganância e ambições pessoais; financiados por
poderosos industriais cujos interesses seriam prejudicados por uma
pretensa “verdade inconveniente” (como no título do célebre documentário
de Al Gore) revelada pelos aquecimentistas.
Esses
últimos, por sua vez, seriam almas virtuosas, preocupadas única e
exclusivamente com o destino do planeta, movidas tão somente por um amor
genuíno pelos seres vivos e pela verdade científica. É claro que, nessa
narrativa, não fica bem informar, por exemplo, que Al Gore fundou em
2004 a empresa Generation Investment Management, financiadora de
projetos verdes como energias renováveis e mercados de carbono. Ninguém
precisa saber que nem só de amor ao planeta vivem os aquecimentistas.
Avatar
faz caixa de ressonância a um fenômeno contemporâneo, a notável
expansão de um renovado discurso neopagão. Recorde-se, a título de
ilustração, da Conferência Mundial dos Povos sobre Mudanças Climáticas
(em Cochabamba, na Bolívia), um evento que procurava reagir ao suposto
fracasso da Cúpula Mundial do Clima, ocorrida em Copenhague (Dinamarca),
em dezembro de 2009. No pretensamente alternativo encontro em
Cochabamba, os participantes chegaram à formulação conclusiva da
“Declaração Universal dos Direitos da Mãe Terra”, em cujo parágrafo
quinto do artigo primeiro podemos ler: “La Madre Tierra y todos los
seres que la componen son titulares de todos los derechos inherentes
reconocidos en esta Declaración sin distinción de ningún tipo, como
puede ser entre seres orgánicos e inorgánicos, especies, origen, uso
para los seres humanos, o cualquier otro estatus”.
Vê-se
que a utopia aqui não é mais, como na velha cantilena marxista,
simplesmente a abolição da sociedade de classes, mas a superação de toda
e qualquer distinção – de reino, de gênero, de espécie. Trata-se, em
suma, da proposta de um imanentismo generalizado ou, como proporiam
Madame Blavatsky e, mais tarde, Leonardo Boff, de uma “fraternidade
universal”.
A
“Epopeia da Evolução” de que fala Ursula Goodenough é como um retrato
onírico em que se misturam novos hippies, ambientalistas e
megaempresários ecologicamente corretos; onde comunidades tradicionais
marcham de mãos dadas com o casal Clinton, o casal Obama, Al Gore, a WWF
e o Greenpeace; onde George Soros, Jack Dorsey, Pierre Omidyar e Greta
Thunberg passam a integrar o panteão no qual já se encontram
imortalizados Chico Mendes, Sting, Raoni e Bono Vox. Nas palavras da
autora:
A
necessidade de uma ética planetária é tão óbvia que só preciso listar
algumas palavras-chave: clima, limpeza étnica, combustíveis fósseis,
preservação do habitat, direitos humanos, fome, doenças infecciosas,
armas nucleares, oceanos, camada de ozônio, poluição, população. Nossa
conversa global sobre esses temas são, por definição, cacofonias de
interesses próprios nacionais, culturais e religiosos. Sem uma
orientação religiosa comum, basicamente não sabemos por onde começar, o
que dizer ou como ouvir, nem temos motivação para reagir... A minha
agenda para este livro é lançar as fundações dessa ética planetária, que
não pretende suplantar as tradições existentes, mas deseja coexistir
com elas, lidando com nossas preocupações globais, enquanto, na vida
cotidiana, continuamos a nos guiar por nossos contextos culturais e
religiosos... Toda tradição global precisa partir de uma visão de mundo
comum… Portanto, o objetivo desta obra é apresentar um relato acessível
de nossa compreensão científica da natureza, e então sugerir meios para
que esse relato possa suscitar respostas religiosas impactantes – uma
abordagem que pode ser chamada de naturalismo religioso… A história da
natureza tem o potencial de servir como cosmos para o ethos global que
precisamos articular.
Joe
Biden é porta-voz desse “ethos global” e dessa “visão de mundo comum” –
leia-se, totalitária – que se pretende instituir a fórceps via o
poderoso amálgama entre ciência, política e religião que conforma a
ideologia ecofundamentalista. E a “ciência” do aquecimento global é,
hoje, o maior exemplo daquilo que a filósofa Mary Midgley chamou de
“ciência como salvação”. Como toda religião política, essa também
começou prometendo o Paraíso, mas há de terminar instaurando o inferno
na Terra.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário