Com o único propósito de ser anti-Trump, a mídia não saberá o que fazer se não puder culpar o bufão laranja por todo o mal que eventualmente venha a acontecer. Ana Paula Henkel para a revista Oeste:
E
a grande imprensa oficializou Joe Biden como o próximo presidente dos
Estados Unidos. Desde o dia 3 de novembro eleitores de Donald Trump
tomaram as ruas do país, vandalizam prédios e saqueiam estabelecimentos
comerciais. Veja as fotos… Não, não há fotos, e você não verá imagens
também, porque elas não existem. Parece que pessoas que pertencem aos
espectros políticos opostos reagem de maneiras diferentes quando não
conseguem o que querem. Tapumes em portas e janelas por todo o país
foram colocados como medida de segurança e proteção. Será que o
propósito era conter a fúria de grupos pró-Donald Trump?
Ah,
não importa, Trump está fora. E foram quatro anos de “problemas
intermináveis”. Desde 2016, os Estados Unidos viviam “os piores anos de
sua História”, bastava abrir os jornais, estava tudo lá. Recessões
econômicas sempre à vista, guerras prontas para ser iniciadas, índices
de desemprego nas alturas, vários processos de impeachment de um dos
piores presidentes norte-americanos, cidades sendo queimadas com
violentos protestos por culpa do bufão do Twitter e, para coroar o
inferno na América, a pandemia do novo coronavírus. Tudo culpa de Donald
Trump. Pelo menos, era isso que os jornais dos EUA — em um mundo
paralelo — noticiavam.
E,
como num passe de mágica, os Estados Unidos acordaram em plena
harmonia. Não há mais “brutalidade policial sistêmica”, não há mais
racismo. A pandemia, que estava totalmente fora de controle até 3 de
novembro, agora tem em sua rota a vacina de Joe Biden e o povo está
livre para acreditar — e entrar como um rebanho de ovelhas — em outro
lockdown que não tem data para terminar. A paz reina novamente. Quem
poderia imaginar que seria tão fácil tirar o “novo Hitler” da Casa
Branca? Com a ajuda da fé (e dos votos) do além, o xenófobo, homofóbico,
nazista e fascista finalmente vai nos deixar em paz. Você disse
recontagem e votos auditados? Batalhas judiciais? Não, não se preocupe,
os pen drives e relatórios eleitorais já estão sumindo e as cédulas
sendo destruídas. Nada para ser visto, agora é só comemorar, o bufão
laranja está de malas prontas para a Flórida.
Durante
quatro anos, a imprensa norte-americana vendeu “o caos da administração
de Donald Trump”. Todos — absolutamente todos — os fatos e feitos de
suas políticas públicas foram distorcidos ou escondidos. Seus juízes
indicados para a Suprema Corte não apenas tiveram a vida devassada, mas
foram xingados, zombados e alvo de mentiras absurdas e humilhantes. Sua
família, perseguida.
Melania
Trump, esposa do presidente, nasceu na Eslovênia e é a segunda mulher
estrangeira (cidadã norte-americana naturalizada) a deter o título de
primeira-dama, e a primeira cujo idioma nativo não é o inglês (but wait,
a imprensa me disse que Trump era xenófobo). Melania veio para os
Estados Unidos jovem, tornou-se uma supermodelo e empreendedora de
sucesso, e é uma das mulheres mais bonitas e elegantes do mundo. Em
qualquer outra situação em que houvesse um mínimo de honestidade
jornalística, ela estaria em todas as capas de revista, sendo colocada
em um pedestal como ícone fashion e modelo a ser seguido. Mas, durante
quatro anos, Melania foi uma das chacotas favoritas da mídia,
principalmente a feminina, recheada de mulheres feias rancorosas.
Mesmo
com os resultados da eleição ainda sub judice, o bufão laranja e sua
família provavelmente sairão da Casa Branca em janeiro de 2021. Mas e
aí? O que será notícia nos veículos de imprensa dos Estados Unidos sem
um bufão, sem um “novo Hiltler” para chamar de seu? Sem um caos para ser
reportado ou criado? Ou uma crise econômica para ser incentivada? Quem
será o culpado dos sentimentos jornalísticos destroçados por serem
chamados de fake news?
Uma
das eleições presidenciais mais importantes dos últimos tempos ainda
não foi oficialmente concluída, os Estados ainda não enviaram suas
certificações e o processo legal só será encerrado em 14 de dezembro,
quando os delegados se encontrarão no Colégio Eleitoral para oficializar
quem venceu a disputa. Mas, desde 4 de novembro, um dia após as
eleições, a grande imprensa já declarou Joe Biden o vencedor e vem
entrevistando o democrata como “presidente eleito”.
Conhecido
nos Estados Unidos como o rei das gafes — mesmo passando os últimos
meses escondido em seu porão durante uma campanha —, Biden tem concedido
entrevistas, no mínimo, peculiares. Além das matérias na imprensa sobre
suas meias e seu cachorrinho de estimação, as perguntas direcionadas ao
ex-vice de Barack Obama não são sobre políticas públicas ou sobre os
possíveis laços financeiros da família Biden com empresas na Ucrânia e
na China. Joe Biden é constantemente “bombardeado”, durante ho-ras, com
perguntas sobre… Donald Trump.
Biden
terá de arrumar estratégias para evitar um possível golpe para
derrubá-lo dentro do próprio partido, tudo para que a agenda globalista
seja empurrada a todo o vapor na América, e isso não será exposto pela
grande mídia. As brigas e a divisão óbvia e irreversível entre os
democratas também não serão noticiadas. Nesse tempo, será curioso
observar a imprensa não parar de falar sobre Donald Trump depois de
afirmar por quatro anos que teve o suficiente de Donald Trump.
Pouco
podemos afirmar em um cenário político tão polarizado e dividido, mas,
se existe algo claro como a luz do dia, é o fato de que Trump continuará
sendo notícia. Algo saiu errado? Culpe a administração passada. A mídia
não conseguirá ser a mídia que é sem correr atrás do último tuíte ou
declaração do orange man bad. Eles não podem e não vão deixá-lo, seu
único propósito é ser anti-Trump e eles não saberão o que fazer se não
puderem se ofender com tudo o que ele diz. Jornalistas vão perambular
pelos campos de golfe de Trump, vão acampar na frente de suas
residências na Flórida e ainda ficarão indignados com seu jeito e seus
tuítes. Watch.
E
o que pode restar para Donald Trump com apenas dois meses no cargo de
homem mais poderoso do mundo, depois de uma das mais importantes
reformas tributárias da história, depois de nomear mais de 200 juízes
federais e três juízes conservadores para a Suprema Corte (que nesta
semana já julgaram inconstitucional as medidas do governador de Nova
York de fechar igrejas e sinagogas durante a pandemia), que assinou três
acordos de paz no Oriente Médio, que trouxe de volta para o Partido
Republicano o voto de negros e latinos e da classe trabalhadora?
Trump
poderia abrir as portas da “Área 51” e matar nossa curiosidade sobre os
aliens, ou tirar o selo de sigiloso dos documentos sobre a morte de
JFK. Ou, já que Trump não começou nenhuma guerra — fato inusitado para
aquele que, segundo a imprensa, começaria a terceira guerra mundial —,
poderia invadir Portland com a Guarda Nacional, cidade que arde em
chamas e violência há meses sem que as autoridades mexam um dedo para
cessar o caos. Ou, quem sabe, Trump poderia aplicar um derradeiro golpe
no movimento Defund the Police e assinar um último pacote de estímulos
às corporações policiais.
Se
a imprensa, os democratas, os republicanos traidores, as centenas de
pessoas que foram às ruas não para celebrar a vitória de Biden mas para
gritar “Fora Trump” não gostavam do presidente Donald Trump, aguardem o
ex-presidente Donald Trump. Se ver o Godzilla em ação foi divertido, ver
o Godzilla em ação de férias será mais divertido ainda.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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