Como é que estes Açores foram tão domesticados no plano político, que têm hoje medo de abrir um negócio sem passar pelo Governo Regional? Têm medo de se manifestar publicamente contra o PS? Um partido que faz descaradamente propaganda eleitoral com as ações do Governo Regional? Artigo de do escritor e argumentista Alexandre Borges, candidato a deputado da Região Autônoma dos Açores pela Iniciativa Liberal:
Costumava
dizer, brincando com a verdade, que só era sócio de uma instituição: o
Sport Lisboa e Benfica – depois, também “amigo” da Cinemateca
Portuguesa. Fui simpatizante do PSD de Sá Carneiro, Cavaco Silva e
Passos Coelho (embora lamentasse nos últimos dois a falta de uma
dimensão mais humanista) e colaborei com o partido em determinados
momentos, com o maior empenho e orgulho, no contexto da minha actividade
profissional. Nunca fui militante, talvez porque um liberal é
essencialmente contrário ao que significam os grandes partidos: um
liberal, fundamentalmente, vive e deixa viver.
Nos
últimos anos, porém, vieram populismos e demagogias, a direcção
nacional do PSD seguiu um caminho em que este simpatizante, em
particular, deixou de se rever e, enquanto o centro político se vai
redesenhando, surgiu um partido com ideias novas e consistentes, sem
medo de se afirmar liberal, sem medo de ser de direita, mas de uma
direita que é, finalmente, liberal não só no plano económico, mas também
no social. E, agora que esse partido dá os primeiros passos nos Açores,
decidi, por fim, militar num projecto político.
E porque é, na modesta opinião de açoriano desterrado, que o liberalismo faz falta aos Açores e à Ilha Terceira em particular?
Porque
custa ver os anos passar e toda a actividade económica cada vez mais
dependente de um Governo Regional mais centralista do que o central.
Custa ver o comércio fechar. Custa perceber que não se abre uma loja, um
restaurante, um projecto turístico sem um subsídio. Custa discutir uma
iniciativa cultural ou filantrópica e a primeira pergunta ser: “E como é
que podemos candidatar-nos a um apoio?” Custa perceber que tudo depende
do Governo regional porque o Governo Regional tudo fez para que tudo
dependesse dele, do seu crivo, da sua autorização, da sua escolha, da
“fidelidade” dos “súbditos”.
Custa
que, apesar de os Portugueses em geral terem hoje um conhecimento
extraordinariamente mais amplo da região do que talvez alguma vez
tiveram antes, ser cada vez mais surpreendente dizer-lhes que não, os
Açores não têm uma capital. Quase não acreditam, porque são
constantemente bombardeados com mensagens e comportamentos que indicam o
contrário. Custa ver que, em 44 anos de autonomia, escolhemos 20 anos
uns e 24 anos outros, como se nada mais houvesse, prova cruel do medo
que temos de mudar.
E porque é que temos medo?
Os
Açores que foram povoados por gente que deixou tudo e ergueu a
civilização no meio do mar. Os Açores aonde os americanos vinham
recrutar os baleeiros devido à bravura. Os Açores que vivem em união de
facto com sismos e vulcões. Os Açores que recusaram o domínio espanhol,
os Açores que recusaram o absolutismo miguelista, os Açores da gente
famosamente dura e resistente, que ergue a própria casa, produz a
própria comida, enfrenta temporais, que noutro qualquer do país
fechariam estradas e escolas, com o ar de quem sabe que é só mais um dia
no mundo e que, em o tempo abrindo, ainda se vai dar um mergulho depois
do trabalho.
Como
é que estes Açores foram tão domesticados no plano político, que têm
hoje medo de abrir um negócio sem passar pelo Governo Regional? Têm medo
de se manifestar publicamente contra o PS? Um partido que faz
descaradamente propaganda eleitoral com as acções do Governo Regional?
Que confunde deliberadamente as duas coisas, como se o orçamento
regional fosse o orçamento de campanha do partido? Como é que temos medo
de mudar uma política que, depois de 24 anos, deixa os Açores na
liderança nacional do RSI e do desemprego jovem?
Que
pensaria disto Brianda Pereira? Que pensaria disto Almeida Garrett? Que
pensaria disto Ciprião de Figueiredo? Que pensaria disto Dom Pedro IV?
Os Açores com medo de mudarem o seu próprio Governo? A Ilha Terceira,
com medo de bater o pé a um mero partido político?
Não
acreditariam. Não achariam possível. E teriam razão. Não somos assim –
não nos podemos deixar ser. Já lã vão 24 anos de socialismo – quanto
tempo mais estamos dispostos a esperar até dizer: “se calhar, já é de
mais”, “se calhar, já mudávamos”? 30? 40? 50 anos? Quanto mais anos
passarem, mais difícil será mudar. Mais o poder desse partido que há
tanto tempo ocupa o Governo Regional será absoluto. E teremos sido nós a
escolher viver debaixo desse outro “capacete”.
Temos
medo de viver sem o dinheiro do Governo Regional? O dinheiro não é do
Governo Regional; é dos Açorianos. O dinheiro do Governo Regional é o
dinheiro dos Açorianos menos o que gasta na máquina do Governo Regional.
No
turismo, no comércio, na agricultura, na ciência, na cultura, na vida
em geral, precisamos de liberdade. Precisamos de autonomia da autonomia.
Precisamos que nos deixem escolher o que queremos fazer. Precisamos de
poder lutar pelos nossos projectos pessoais e enquanto comunidade de uma
freguesia, de um concelho e de uma ilha, sem medo de pensar de forma
diferente, sem medo de arriscar, sem ter de pedir para tudo o aval do
Governo Regional.
Precisamos de ser nós mesmos. Precisamos de liberalismo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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