terça-feira, 1 de setembro de 2020

Educação tecnológica como fator de inclusão e diversidade: a visão da 42 São Paulo


Por Karen Kanaan
“Inclusão é oportunidade para todos”. Quando comecei a estudar mais a fundo o que o termo inclusão significava para nós, eu me deparei com essa frase. No primeiro momento, ela me pareceu fazer sentido, mas, ao longo da jornada de aprendizagem, entendi que, na verdade, ela deixava de considerar um ponto fundamental: a singularidade. No livro Todos nós... ninguém – Um enfoque fenomenológico do social, de Martin Heidegger, deixa claro – no próprio título – que o que serve para mim, pode não servir para o outro; defende que cada indivíduo é único, na sua natureza, nas suas células, na sua construção física e emocional. E, se o objetivo é incluir, devemos respeitar tudo o que ele traz.
Pessoas com deficiência (físicas ou mentais, deformações congênitas, amputações) existem desde o mundo primitivo. E, ao longo da jornada humana, o que mudou foi a forma como esses cidadãos foram tratados: ora com rejeição e eliminação sumária; ora com proteção assistencialista e olhar piedoso. Óbvio que na marcha humana em direção à contemporaneidade muito se evoluiu, mas o tema da inclusão – ou melhor, a forma como lidamos com a inclusão – diz muito sobre o tipo de sociedade que estamos construindo. Essa é uma questão bem importante para nós, da 42 São Paulo. Aliás, cabe ressaltar que o olhar da 42 para a inclusão abarca PCD, LGBTQI+, pessoas em vulnerabilidade econômica e mulheres.
De acordo com o Censo 2010, o Brasil possui quase 46 milhões de pessoas que declararam ter algum tipo de deficiência; temos, aí, um contingente de cerca de 24% da população nacional, sendo que a maioria – mais de 38 milhões – vive nas áreas urbanas. Quando pensamos nas especificidades, o levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística aponta que 18,8% da população afirma ter alguma dificuldade para enxergar; 7% para se movimentar; e 5% para ouvir. No mundo, a Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que 10% da população do planeta tem algum tipo de deficiência.
Conversando com Eliane Ranieri, da Talento Incluir – consultoria que atua desde 2008 pela equidade e inclusão das pessoas com deficiência na sociedade –, ela me contou que dos 45 milhões de brasileiros PCD, o país possui cerca de 10 milhões de pessoas com deficiência em idade produtiva que não estão trabalhando por falta de capacitação e oportunidades, de acordo com o Censo 2010. Esse número será ainda maior, quando atualizarmos as informações populacionais. Os dados oficiais apontam para 486.756 pessoas empregadas formalmente, mas sabemos que houve muita demissão durante a pandemia, antes a publicação de uma lei que proíbe a demissão de pessoa com deficiência sem justa causa, durante esse período. A análise do nível educacional é essencial para entender esses números. O índice de alfabetização das pessoas de 15 anos ou mais que têm deficiência é de 81,7%; entre a população total na mesma faixa etária, a alfabetização supera os 90%. No Nordeste, temos 69,7% de taxa de alfabetização entre os PCDs, ou seja, um dado vergonhoso para o país.  
Esses dados mostram que nunca foi tão urgente olharmos para as singularidades, focando em cada ser humano como um universo de potencialidades; com essa visão do contexto singular, devemos pensar em formas de incluir – não apenas contratar. A obrigação legal que demanda que as empresas com mais de 100 funcionários contratem pessoas com deficiência – claramente regulamentada pela Lei de Cotas – não significa inclusão de fato. As empresas deveriam trabalhar para o fortalecimento da cultura e o engajamento de todos os colaboradores por meio de uma gestão que não fragmenta, mas une. Construir essa sociedade inclusiva significa fazer com que as pessoas tenham direito a fazer escolhas.
Na 42 São Paulo, olhamos para essas questões e enxergamos que o nosso papel – inclusive para combater esse desafio de aumentar a qualificação de pessoas com deficiência, mirando a área da tecnologia – é criar oportunidades para que mais PCDs estejam dentro da escola, estudando programação. Ou seja, promover a transformação digital entre essa parcela da população brasileira. Para nós, inclusão é aceitar que cada pessoa é única e oferecer-lhe a oportunidade de construir a própria história por meio da tecnologia. Com isso, essa mudança comportamental e do próprio mercado de trabalho terá como protagonistas as próprias pessoas com deficiência. Não queremos fazer uma revolução sem a participação ativa de homens e mulheres que vivenciam o problema – e que são parte de uma solução que beneficiará toda a sociedade. E por que defendo que todos seremos beneficiados? Porque o ser humano muda com a convivência; à medida que as pessoas com deficiência ocuparem todos os espaços e tiverem oportunidade de escolha, vamos vivenciar um novo padrão de humanidade. Mais do que acolher uma pessoa diferente, criamos uma existência comum a partir dessa diferença. 
Será que estamos preparados para receber, na 42 São Paulo, pessoas com deficiências?  Gostamos de pensar que sim, mas talvez não estejamos! Não estamos prontos assim como o ser humano também não está. Somos seres inacabados, em construção e é nessa busca que miramos. Mas certamente estamos abertos a adaptações e melhorias para respeitar a individualidade, fazendo da 42 um ambiente inclusivo e uma metodologia acessível, para quem busca construir um novo caminho por meio da tecnologia. 
Nesse processo, vamos errar, vamos acertar, mas vamos fazer. A nossa meta é investir nessa educação inclusiva, misturando todo mundo – e trazendo todo o tipo de diversidade, inclusive, a etária que sempre é esquecida! Nosso framework para pensar na inclusão vai além do criar oportunidades, pois acredito em construir cenários favoráveis juntos, apoiando as diferenças e olhando para o indivíduo pela sua potência. Mais do que adaptar espaços e programas, estamos diante da necessidade de adaptar comportamentos e formas de enxergar a construção da sociedade.
Para aprofundar o tema da inclusão de pessoas com deficiência e abrir o diálogo para trazer mais gente para o debate, a 42 São Paulo elegeu setembro para ser o Mês da cultura de inclusão. Na prática, vamos realizar uma série de bate-papos no Instagram Live, com a curadoria de Luciana Oliveira, cadete da 42 que tem deficiência visual.  A estreia será nessa quinta-feira, 3 de setembro, às 18 horas, com Eliane Ranieri, da Talento Incluir. Dia 10, teremos a participação de Talita Pagani, consultora de acessibilidade digital e especialista em UX; Lucas Tito, Delivery Manager na M4U, conversa com a gente no em 17 de setembro; e Marcelo Sales, designer especialista em acessibilidade e design inclusivo no Design Ops do Itaú, dia 24/9. A primeira acontece na quinta-feira, 3 de setembro, às 18 horas.
Para finalizar, gostaria de registrar um depoimento da nossa aluna Luciana: “De nada, sobre nós, sem nós. Parece clichê, mas é diferente ter a diversidade como prática natural, como cultura do que como forma de cumprir uma lei. Eu me sinto muito feliz na 42, porque de todos os lugares que passei é o primeiro que não trata a minha diferença como um problema, mas como solução. Na escola, nunca fui questionada por ser uma pessoa com deficiência visual, pelo contrário – a comunidade inteira sempre me pergunta como podemos fazer melhor. Sempre me incluem nas decisões e na construção de soluções.” Devo dizer que acho isso muito bonito! Luciana é a grande responsável por essa programação e pelo caminho que estamos trilhando para sermos cada vez mais inclusivos.
Aguardo todo mundo no @42saopaulo para debatermos mais!
| Karen Kanaan atuou por 10 anos no mercado de agências de publicidade; dirigiu a Endeavor por seis anos; fundou startups e, atualmente, lidera a comunicação da 42 São Paulo – escola de programação de ensino superior inovador e gratuita. Formada em comunicação social pela Anhembi Morumbi, Karen é board member da Artemisia; mentora do B2Mamy; e autora dos livros O impacto da cultura do “vai que vai dá” em gente que “bota pra fazer” e Unboxing Moms - a maternidade e seus vários ângulos.

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