sexta-feira, 1 de maio de 2020

Próximo de ser concluída, investigação do caso Adélio não confirma tese de Bolsonaro


Para Bolsonaro, Adélio seguia ordens e houve negligência da PF 
Joelmir Tavares
Folha
Sob forte pressão do presidente Jair Bolsonaro, a investigação da PF (Polícia Federal) sobre a facada sofrida por ele em setembro de 2018 está perto de um desfecho sem confirmar a tese bolsonarista de que Adélio Bispo teria recebido auxílio de outras pessoas ou obedecido a um mandante.
O segundo inquérito sobre o episódio aberto pela corporação ainda está em curso e terá o relatório parcial divulgado nos próximos dias pela Superintendência da PF em Minas Gerais. A primeira apuração, finalizada ainda no ano do crime, chegou à conclusão de que o esfaqueador fez tudo sozinho.
LOBO SOLITÁRIO – Adélio sempre disse que agiu a mando de Deus para tentar livrar o Brasil da vitória de Bolsonaro, que via como uma ameaça. O autor está preso desde a época do fato na penitenciária federal de Campo Grande (MS). Considerado inimputável, ele foi absolvido pela Justiça, mas cumpre medida de segurança.
Nesta terça-feira, dia 28, o presidente disse que o caso foi negligenciado pela PF. Ao falar com apoiadores em Brasília, ele defendeu que a corporação reabra a investigação, sem mencionar que ainda há uma apuração em andamento.
SUGESTÃO – “A conclusão foi o ‘lobo solitário’. Como é que pode o ‘lobo solitário’ com três advogados, com quatro celulares, inclusive andando pelo Brasil?”, afirmou, acrescentando não ter provas que corroborem sua tese. “Eu tenho é sentimentos, sugestão para dar para a Polícia Federal.”
Na semana passada, o presidente já havia contestado o trabalho da PF e insinuado que a apuração falhou ao não encontrar quem supostamente estaria por trás da tentativa de matá-lo. Os advogados de Bolsonaro não recorreram da decisão judicial que inocentou Adélio.
QUEDA DE BRAÇO – As críticas foram feitas em meio à demissão de Sergio Moro do Ministério da Justiça, pasta à qual a PF é subordinada. O ex-juiz se demitiu após uma queda de braço com o mandatário envolvendo a chefia da corporação. Moro acusou o presidente de tentar interferir em investigações.
No discurso após a queda do auxiliar, Bolsonaro evidenciou sua insatisfação com a apuração da facada. Para ele, o crime que o vitimou durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG) mereceu menos dedicação da PF do que o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL).

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