Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais desta quarta-feira:
Discutir o que é mais importante, a vida ou os empregos, é ridículo.
Ambos são importantes. É preciso sobreviver ao vírus, mas que não seja
para morrer de fome em seguida. As eleições de 2022 podem ser discutidas
em 2022. Agora temos de tratar conjuntamente de Saúde, Alimentação,
Emprego; e da saúde econômica do país. Nessa ordem. Já deveríamos ter um
comitê de crise amplo, apartidário, comandado talvez por alguém capaz
de organizar as coisas, cuidando de harmonizar soluções para todos esses
problemas. A China fez isso: no meio da crise, deu um jeito de garantir
a comida da população (veja o ótimo texto de Jamil Chade, UOL, dia 30, https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2020/03/30/como-a-china-garantiu-abastecimento-durante-2-meses-de-quarentena.htm).
Não há quarentena que resista à fome. É preciso providenciar comida
para suprir a falta da merenda escolar, que, para muitas crianças, é a
principal refeição do dia. Comida, sim; e que deve ser entregue a
domicílio, em quantidade que permita alimentar também pais e irmãos,
privados das refeições servidas no emprego. E de graça – como é a
merenda. É preciso, também, enviar dinheiro aos desempregados. As contas
de gás e luz subiram com a quarentena. A Bolsa Família deve ter um bom
cadastro, a ser complementado. Cuidar das empresas, como já se faz,
embora timidamente, é essencial. Mas está na hora de pensar melhor no
Imposto de Renda Negativo (a Renda Mínima de Eduardo Suplicy) para
garantir o básico a todos os cidadãos.
Paulo Guedes entende disso: a tese é de seu mestre Milton Friedman, da Escola de Chicago.
Onde está o dinheiro?
Onde está o dinheiro que o caro leitor não tem, na hora de uma
emergência médica? Está nos empréstimos – sim, são saques sobre o
futuro, por um objetivo essencial. O mesmo comitê de crise deve preparar
o país para uma nova fase da economia, com reformas que reduzam custos e
simplifiquem nossa vida, há economias a fazer, para dar o exemplo.
Precisamos de vices, quando o presidente da Câmara pode assumir? No
Brasil há quase seis mil vices. Precisamos de três senadores por Estado,
quando os EUA têm dois? Por que 513 deputados não podem virar 250? Cada
deputado precisa mesmo de carro oficial, com motorista e combustível?
No Judiciário não há despesas a cortar? Por que um sistema tributário
que exige milhares de horas de trabalho para declarar impostos? Dá para
aceitar que os bancos aumentem os juros entre 50% e 70% numa hora como
essa? Se o grupo de farmácias Raia/Drogasil pôde rejeitar o aumento dos
remédios, que já estava aprovado, por que os bancos, mais ricos, não
podem ajudar?
E, convenhamos, O ministro da Economia não pode deixar Brasília, no
meio de uma crise, porque o hotel em que se hospeda não lhe serve mais
suquinho.
Os exemplos
Para que o Governo precisa gastar em anúncios? Tem algum concorrente?
Por que um parlamentar tem verba de divulgação do mandato? Cada um que
use as redes sociais à disposição, de graça. O país está estruturado
como se o dinheiro fosse infinito. Não é – e na hora em que é preciso
gastar, como agora, faltam verbas. Que se façam, então, os empréstimos,
que alguns bilhões de dólares das reservas sejam vendidos, que o
bilionário Fundo Partidário vá para o SUS, que sumam os penduricalhos
que o Tesouro paga, mas que os cidadãos possam evitar o vírus sem passar
fome em casa.
O que se faz
Quando houve sintonia entre ministros, parlamentares e sociedade
civil, fez-se alguma coisa. Dia 27, o Governo lançou programa de R$ 40
bilhões, com recursos do Tesouro, para financiar salários e garantir
empregos em pequenas e médias empresas. Está pronta a concessão de R$
600 por mês a trabalhadores informais, que de repente ficaram privados
de qualquer renda. Só falta Bolsonaro assinar para que entre em vigor. O
Governo anuncia uma proposta (ainda sem detalhes) para garantir
seguro-desemprego – total, no caso de perda do emprego; proporcional,
por redução de jornada e de salário. Há a antecipação do 13º em duas
parcelas, agora. Convenhamos, é pouco.
Luta de irmãos
Os irmãos Nasser, Jamel e Adiel Fares, que controlam a gigante do
varejo Marabraz, venceram a primeira batalha na Junta Comercial de São
Paulo, Jucesp: num prazo de 30 dias, deverão regularizar a empresa LP,
administradora do grupo, e incluir nos papéis da empresa o registro da
entrada e saída de seu irmão Fábio, que lhes move processo. A
Procuradoria da Jucesp afirmou não ter visto má fé de nenhuma das partes
na omissão do registro. A advogada de um dos filhos de Fábio, Lilia
Frankenthal, recorreu para comprovar a má fé, usando decisões do
Tribunal Regional Federal 3. A Presidência da Jucesp chamou as decisões
do TRF3 de “calhamaço”. Lilia Frankenthal disse que não daria entrevista
e só se manifestaria nos autos.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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