quarta-feira, 29 de abril de 2020

Celso de Mello expõe a contradição de Bolsonaro, que pretende interferir na PF


Sergio Moro após discurso de LulaPedro do Coutto             
Em seu despacho que autorizou o pedido de abertura de inquérito contra o ex-ministro Sérgio Moro, lendo-se atentamente a decisão judicial, percebe-se que o relator Celso de Mello indiretamente mandou incluir na investigação a interferência do presidente da República na Polícia Federal, o que acarreta um sério problema para Bolsonaro.
Ele não pode negar ter tentado interferir na Polícia Federal. Basta lembrar que num dos seus pronunciamentos afirmara que não tinha cabimento ele não poder tomar conhecimento das investigações da Polícia Federal, que está apurando possíveis crimes cometidos por seus filhos.
NÃO FOI ATENDIDO – Não sendo sido atendido por parte do então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, o presidente da República passou a exigir a substituição dele e do superintendente da PF no Rio de Janeiro.
No episódio que culminou com a demissão do ministro Sérgio Moro, o presidente classificou como absurda a negativa de substituir Valeixo, por ser prerrogativa presidencial a nomeação do diretor-geral da PF. E estranhou o fato de poder nomear ou demitir um ministro, no caso Sérgio Moro, e não poder substituir um diretor de órgão do Ministério da Justiça.
A grande maioria da população tomou conhecimento direto dessas suas palavras repetidas pelas redes de televisão.
IMPOSSIBILIDADE – Dessa forma, se a lei determina a impossibilidade da Polícia Federal entregar seus relatórios antes mesmo de sua conclusão, na sexta-feira Bolsonaro reconheceu por ação tácita que estava errado quando insistiu na demissão de Valeixo.
No mesmo dia, aliás, Sérgio Moro perguntou publicamente ao presidente da República qual a razão de insistir tanto em determinar o afastamento de Maurício Valeixo.
Portanto, essa revelação impede Bolsonaro de fazer restrição ao comportamento do ex-diretor. Dessa forma ele fica impedido de reclamar do ex-ministro da Justiça.
Agora os trabalhos do STF vão começar a partir do depoimento de Sérgio Moro. O procurador Augusto Aras disse que a investigação deve estar voltada para saber se Sérgio Moro falou ou não a verdade. Ou seja, Aras quer saber do STF se o presidente da República cometeu ou não crime de responsabilidade.
APOSENTADORIA – Reportagem de Carolina Brígido, na edição de terça-feira de O Globo, focalizou amplamente a matéria. Surgiram ontem observações a respeito da aposentadoria do ministro Celso de Melo em novembro. Não muda, na minha opinião, o rumo das coisas, até porque em setembro o ministro Luiz Fux assume a presidência do Supremo.
Em meio à confusão, uma pesquisa do Datafolha coloca a posição de Bolsonaro na opinião pública. O mais novo levantamento, objeto da reportagem de Igor Gielow, edição da Folha de São Paulo de ontem, revela a posição de Jair Bolsonaro perante a opinião pública. Os resultados do levantamento assinalam uma tendência declinante do governo. A tendência é o ponto forte do trabalho do Datafolha. Vale frisar que com base na lei da gravidade, lei irrevogável, quando a tendência aponta numa direção só fatos novos podem reverter o quadro que passou a existir.
Bolsonaro encontra-se em queda mas conserva o apoio de 33% de seu eleitorado fiel. Isso implica ser essa a realidade política nos dias de hoje.
GUEDES PRESTIGIADO – Em face do problema criado no Ministério, devido a apresentação de um plano econômico pelo general Braga Netto, da Casa Civil, sem a presença de Paulo Guedes a situação estava em um ponto de difícil superação. Bolsonaro, então, afirmou ontem que quem decide a economia do Brasil chama-se Paulo Guedes.
A meu ver, Bolsonaro não colocou bem a questão: quem decide a economia no Brasil chama-se – isso sim – o presidente da República.
Por fim, reportagem de Bruno  Roxo com base em trabalho da Consultoria Conscore, revela o número de acessos nas edições on line de O Globo, Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo. Ficou claro que os acessos totais ultrapassam diariamente 118 milhões. O Globo registra 40 milhões, Folha de São Paulo 35 milhões e O Estado de São Paulo 20 milhões. Surpresa é a do Extra, também da editora Globo, que atingiu 23 milhões. A comunicação digital vem se expandindo numa forte velocidade.

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