terça-feira, 31 de março de 2020

Quais são os riscos de fazer exercícios ao ar livre durante a quarentena? Infectologistas explicam


Não é difícil encontrar pessoas fazendo exercícios pelas ruas e praças de BH
Não é difícil encontrar pessoas fazendo exercícios pelas ruas e praças de BH
Mesmo que a informação sobre a necessidade do isolamento social para enfrentar a epidemia de Covid-19 seja amplamente divulgada em meios de comunicação e mídias sociais, as praças e pistas de caminhada de Belo Horizonte continuam recebendo pessoas interessadas em realizar atividades ao ar livre. No fim de semana, não foi difícil encontrar jovens, idosos e casais com crianças em diversos espaços dedicados à prática de caminhada.
Nesta segunda-feira (30), o prefeito Alexandre Kalil afirmou, em entrevista a uma emissora de TV, que as pessoas que saem para caminhar e correr em praças e avenidas são egoístas e irresponsáveis. No mesmo dia, o ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse durante uma coletiva que não havia problema em se fazer uma caminhada. Mas qual, afinal, é a recomendação, quando o assunto é prática de exercício ao ar livre?
O infectologista e professor da UFMG Mateus Westin explica que, infelizmente, não há uma orientação clara sobre a questão por parte das autoridades públicas brasileiras (especialmente o Ministério da Saúde). Para ele, a disputa de narrativas entre o presidente Jair Bolsonaro (defensor da reabertura do comércio) e a comunidade científica (que enxerga no isolamento social a melhor solução para conter o avanço do vírus) faz com que a mensagem sobre o confinamento fique dúbia para a população. Com isso, muita gente se sente à vontade para quebrar o confinamento.
O professor explica que é difícil definir regras que permitam uma flexibilização para a prática de atividades físicas em áreas públicas porque o Brasil é muito diverso economicamente. O ideal seria que as pessoas pudessem fazer exercícios somente no quarteirão de suas casas, evitando aglomerações em pontos específicos, mas essa recomendação não poderia ser estendida a todos. “Quem mora em comunidades, vilas e favelas não tem essa mesma possibilidade de ficar em torno do quarteirão, porque ela tem que sair da comunidade para fazer exercícios”, afirma o médico.
Pela impossibilidade de se fazer orientações para todos os brasileiros sobre exercícios ao ar livre de maneira harmônica, Westin recomenda a prudência máxima: ficar em casa e só sair em caso de real necessidade. “O melhor, neste momento, é recomendar que as pessoas façam atividades alternativas e criativas dentro de casa, como polichinelo, flexões, abdominais e outros movimentos que pressupõem gastos calóricos. A maioria das pessoas tem acesso a aplicativos que dão dicas para atividades dentro de casa”, explica.
A infectologista Clara Rodrigues de Oliveira, também professora da UFMG, faz coro à recomendação feita pelo colega. Segundo ela, muitas pessoas acreditam que não vão se contaminar durante uma caminhada porque conseguiriam manter a recomendação de distanciamento de dois metros de outro indivíduo. Mas se muitos pensam assim e vão para uma praça, logo se dá uma aglomeração e um ambiente propício para a propagação da doença.
“A prática de atividade física é importante para a promoção da saúde biopsíquica do indivíduo mas, ao praticá-la em lugares públicos, principalmente nos núcleos urbanos, o indivíduo aumenta sua chance de contato social e, portanto, a chance de disseminação do vírus, mesmo que tente seguir a recomendação de se manter afastado de outras pessoas”, explica.
Para a médica, ficar em casa e fazer os exercícios físicos dentro do ambiente doméstico são ações que beneficiam não só o indivíduo, mas toda a comunidade. “Se os espaços públicos estão mais vazios atualmente é justamente pelo fato de outras pessoas estarem entendendo a importância de mantermos, neste momento, o distanciamento social. É fundamental que todos nós, como cidadãos, respeitemos essas orientações. Precisamos agir coletivamente”, afirma.

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