sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Sr. Presidente e militares ministros, é preciso abrir a caixa preta da Petrobras


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Charge do Paixão (Gazeta do Povo)
Carlos Newton
Nessa fase pré-greve dos caminhoneiros, a pergunta mais importante que não quer calar é a seguinte: Por que o Brasil está importando mais gasolina e diesel, se tem produção recorde e se tornou mais do que autossuficiente? Para respondê-la, antes será preciso abrir a caixa-preta da Petrobras, muito mais suja e emporcalhada do que a do BNDES, cuja abertura foi uma frustração nacional, pois a corrupção tinha sido toda feita pela diretoria presidida por Luciano Coutinho, ou seja, os culpados desde sempre já eram conhecidos, nenhum funcionário do BNDES foi envolvido.
No caso da Petrobras, a coisa muda de figura. A corrupção vem desde os tempos do presidente Shigeaki Ueki, no governo Giesel, e se tornou parte integrante da estatal, cuja caixa-preta continua mais fechada do que os cofres de Fort Knox, que guardam as reservas norte-americanas de ouro.
SEM CONTROLE – A caixa-preta a ser investigada na Petrobras repousa eternamente em berço esplêndido na Diretoria de Refino e Gás, onde funcionam os Departamentos de Importação, Exportação, Industrial (Refino) e Logística.
Há alguns meses, a imprensa surpreendentemente descobriu que não havia um controle preciso sobre as importações e exportações, a empresa não arquivava nada a respeito, alegando que as negociações são diárias, sob cotação oscilante, etc. e tal, acredite se quiser.
Esta notícia, que deveria ter sido manchete da imprensa nacional, passou despercebida, é até muito difícil localizá-la na internet, vocês podem imaginar o motivo.
REFINARIAS OCIOSAS – Outro alvo da caixa-preta têm de ser as refinarias. O empresário norte-americano John Davidson Rockefeller (1839-1937) costumava dizer que “o melhor negócio do mundo é uma companhia de petróleo bem administrada e o segundo melhor é uma companhia mal administrada”.
no ramo do petróleo o melhor negócio  é o refino, porque não tem os riscos da prospecção e da extração. No Brasil, inexplicavelmente, para justificar a importação de gasolina e diesel, a Petrobras usa apenas 60% da capacidade de suas refinarias.
Por quê? Ninguém sabe.
DOIS RECORDES – O que se sabe é que em novembro do ano passado o país superou, pela primeira vez, a marca de 3 milhões de barris de petróleo produzidos diariamente. E fechou o ano com outro recorde fulgurante: 1 bilhão de barris na soma dos 12 meses, aumento de 7,8% em relação ao volume produzido em 2018.
Mas, contraditoriamente, vem aumentando a importação de gasolina e diesel. Brasil nunca comprou tanta gasolina e diesel de outros países (leia-se: Estados Unidos, como nos últimos anos.
Mas por quê? Ninguém sabe.
PRODUÇÃO DE DIESEL – Os números falam por si. Em 2014, foram produzidos quase 50 milhões de metros cúbicos de diesel no Brasil. Em novembro daquele ano começou a funcionar o primeiro trem (estágio) da refinaria Abreu e Lima, com capacidade para produzir 100 mil barris/dia de diesel S-10, com baixo teor de enxofre de acordo com os rígidos padrões internacionais.
E o que aconteceu? Mesmo com o rendimento máximo da nova refinaria, ao invés de a produção de diesel aumentar, vem caindo e em 2018 ficou em menos de 42 milhões de metros cúbicos. É inexplicável, porque em 2014, sem a produção da Abreu e Lima, já estávamos em 50 milhões de metros cúbicos.
Ao mesmo tempo, a importação de diesel disparou, assim como a de gasolina, beneficiando especialmente os produtores norte-americanos.
SEM JUSTIFICATIVA – Os números da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostram que em 2010 a importação de gasolina ficou em apenas 3,2 milhões de barris. De lá para cá houve um salto enorme na extração de petróleo, com aumento também da capacidade de refino, mas no ano passado as importações chegaram a mais de 30 milhões de barris, quase dez vezes mais que há uma década.
O mesmo aconteceu com diesel: em 2000 eram pouco mais de 36 milhões de barris importados e em 2019 o número passou de 80 milhões. Quem explica essa maluquice? Ninguém. Como dizia o genial jornalista, compositor e cronista pernambucano Antonio Maria, “eu grito e o eco responde: Ninguém”!

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