sábado, 29 de fevereiro de 2020

Maia e Alcolumbre evitam confronto para esvaziar manifestação do dia 15


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Alcolumbre e Maia são os principais alvos do protesto
Julia Chaib e Gustavo Uribe
Folha

A cúpula do Congresso decidiu evitar um embate público com o presidente Jair Bolsonaro na mais recente crise política com o Executivo. O gesto contraria apelos de líderes partidários. Um dos objetivos é não insuflar manifestações marcadas para 15 de março nem ampliar ataques que o Congresso tem sofrido de grupos de direita. Na pauta dos atos estão bandeiras contra o Legislativo e o Judiciário. O assunto foi tratado na quarta-feira (26) entre os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Os dois têm pedido cautela a deputados e senadores no esforço tanto de evitar dar munição a grupos bolsonaristas e não serem os principais alvos das manifestações no dia 15.
POSSÍVEL REUNIÃO – Alcolumbre, que retorna de viagem no domingo (1º), tem mantido interlocução com integrantes do Planalto e manifestou a aliados a intenção de se reunir com Bolsonaro no início da semana.
Na terça-feira (25), o presidente compartilhou vídeo que convoca a população a ir às ruas para defendê-lo. Na  quinta (27), fez novas críticas ao Congresso, que voltaram a ser avaliadas como graves por líderes partidários. Por trás das críticas, há a disputa entre o Executivo e o Legislativo sobre o controle do Orçamento.
O silêncio de Alcolumbre e a mensagem considerada branda do presidente da Câmara, segundo avaliação feita pelos próprios aliados do deputado, surpreenderam o Palácio do Planalto. O governo receava um discurso mais firme.
RESPOSTA FIRME – Apesar da estratégia de evitar o embate, tanto Maia como Alcolumbre vêm sendo pressionados por deputados e senadores a dar uma resposta firme a Bolsonaro na pauta de votações congressual e a estimular iniciativas contra os filhos do presidente.
Alcolumbre foi aconselhado, por exemplo, a impulsionar o seguimento do pedido de cassação do mandato do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), em um processo apresentado no Conselho de Ética por PT, Rede e PSOL.
A representação cita suposta associação do senador com a milícia e a apuração a respeito de um esquema em seu gabinete, quando era deputado estadual no Rio de Janeiro. Na Câmara, a pressão é para que se agilize a análise de duas representações, também no Conselho de Ética, contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). A duas medidas, na avaliação de senadores, seriam uma forma de tentar impor limites aos Bolsonaro.
MAIS UM ATAQUE – Maia e Alcolumbre conversaram pelo telefone após a divulgação da informação de que o presidente havia compartilhado o vídeo. Os dois concordaram, segundo relatos de aliados, que se tratava de um episódio grave e de mais um ataque.
Inicialmente, discutiram uma reação conjunta. Maia sugeriu que subissem o tom e divulgassem notas de repúdio contundentes, a exemplo de episódios anteriores.
Alcolumbre, que costuma ter posições mais governistas, não quis aderir ao apelo. Até a noite desta sexta-feira (28), estava decidido a não se manifestar. O senador disse a aliados que o diálogo entre os Poderes não pode ser feito em uma espécie de bate-boca nas redes sociais.
RECADO DE MAIA – Maia, por sua vez, fez questão de publicar mensagem. Sem citar Bolsonaro, o deputado afirmou que “criar tensão institucional não ajuda o país a evoluir” e que “o Brasil precisa de paz e responsabilidade para progredir.”
O tom adotado por Maia, no entanto, foi bem mais ameno do que o sugerido por deputados de centro e de esquerda. Eles ficaram frustrados com a declaração.
Em conversas que foram relatadas à Folha, o presidente da Câmara disse a alguns aliados que não é líder da oposição. Maia também indicou que a chance de dar prosseguimento a um eventual pedido de impeachment, o que tem sido defendido por partidos de esquerda, é zero.
COM TOFOLLI – O deputado conversou com o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, e sugeriu que houvesse uma reação conjunta e incisiva, antes de moderar o tom.
Na quarta (26), Toffoli divulgou uma nota em que não atacava Bolsonaro diretamente, mas falava que não há democracia sem um Parlamento atuante e um Judiciário independente.
Tanto o presidente da Câmara como Toffoli e Alcolumbre têm pregado a necessidade de atuar com cautela diante do modus operandi de Bolsonaro.
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