A discussão sobre o Oriente Médio segue a agenda de preferências ideológicas. Luiz Felipe Pondé, via FSP:
Quase um mês após o ataque americano que matou o todo-poderoso Qasem
Soleimani do Irã, podemos ver como muito da discussão especializada
sobre Oriente Médio segue a agenda de preferências ideológicas.
O Oriente Médio vive uma guerra fria entre a sunita Arábia Saudita e o
xiita Irã. Mas o número de absurdos que foram ditos sobre esse conflito
deixa claro que o debate público presta um enorme desserviço a quem
recorre à mídia para se informar sobre o tema.
Muita gente boa fez do Irã quase um regime democrático, doce e
tolerante, um coitadinho, vítima do mal americano e israelense. Que
peninha dele, que teria sido monstruosamente atacado pelo império do mal
–os Estados Unidos, que servem à cruel ditadura saudita e aos
sionistas.
Não me preocupa aqui defender os Estados Unidos, nem seus aliados.
Não existem santinhos em geopolítica. Um dos danos da contaminação
ideológica do pensamento público é a tentativa de continuar afirmando
que inimigos dos americanos são santinhos.
O Irã é um regime que alimenta grupos terroristas e guerrilheiros que
matam sistematicamente civis e que arma grupos que visam solapar a
soberania dos países à sua volta –e, assim, construir uma rede capaz de
realizar guerras por procuração, a favor dos interesses do Irã. No
Líbano, na Síria, no Iraque, em Gaza, no Iêmen...
Se é uma ingenuidade ou um mau-caratismo achar que sauditas e
israelenses são anjinhos, não é menos ingenuidade ou mau-caratismo achar
que os iranianos são os representantes dos oprimidos na região. Essa
tentativa de fazer da ditadura teocrática iraniana um governo bondoso,
vítima da violência de sauditas e americanos, toca as raias do ridículo.
Só existem três razões para alguém bem formado ir a público defender
essa ideia ridícula: 1) por vínculos afetivos com o Irã; 2) por
obsessões ideológicas, como a descrita antes aqui, daqueles que insistem
em dizer que os EUA são agressivos e que omitem a violência do regime
iraniano, uma democracia fake; 3) por grana.
O ódio ideológico aos EUA é óbvio. Só podemos supor, a menos que
existam vínculos familiares com algum dos países em conflitos ou
vínculos financeiros, que seja a cegueira ideológica que move esse
ridículo.
Uma coisa que sempre me chamou a atenção nesse clube dos alienados
(os ideológicos amantes do regime do Irã) é a ambivalência das
intelectuais nesse campo. Escondidas atrás de um relativismo de butique,
elas se esquivam do fato que as mulheres no Irã, muitas vezes, são
tratadas como brinquedos domésticos em seu país.
A crítica dura à condição da mulher do Ocidente, crítica que faz
grande parte da mídia, do cinema, do teatro e da literatura, um pé no
saco de tão repetitiva e entediante pela sua obsessão em demonizar tudo
que não for violentamente feminista, contrasta com a suavidade com que a
condição da mulher (muito pior na maioria dos países do Oriente Médio,
menos em Israel) é tratada pelo exército de simpatizantes do Irã.
Esse mesmo exército de simpatizantes trata os homens ocidentais, a
priori, como opressores evidentes das mulheres. Bem ridícula essa
contradição.
Como se os aiatolás fossem uns anjinhos a favor do empoderamento
feminino. O garrote ideológico desgraça o debate público há anos. Os
regimes que esses bobos babam para defender fariam deles mingau de
farinha se quisessem.
Com relação a Israel (que tampouco é santinho), outro odiado pela
trupe ideológica mentirosa, grupo que domina a ONU, a coisa é bem clara.
A revolução fanática que administra o Irã desde 1979 tem como uma das
suas pautas pétreas a destruição do Estado de Israel. Essa mesma trupe
gosta de afirmar que o risco de destruição de Israel passou.
Risadas? Se Israel hoje tem uma condição de segurança um pouco
melhor, é porque os países ao redor perderam todas as guerras que
visavam destruir israelenses.
Além disso, o país é uma economia que cresce vertiginosamente,
inclusive em áreas de tecnologia da informação e de inteligência, além
de ser, obviamente, uma potência nuclear que arrasaria o Irã em seis
dias. O resto é pura bravata.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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