Pichações antissemitas em Londres. |
Simpatizantes do nazismo continuam igualmente atrozes, mas militantes
negros americanos e imigrantes muçulmanos na Europa desequilibram a
balança. Vilma Gryzinski:
Longe de Manhattan, a coisa fica feia. Em áreas do Brooklyn como
Williamsburg e pequenas comunidades periféricas onde vivem judeus
ultraortodoxos, identificados pelas roupas pretas tradicionais, chapéu,
barba e cachinhos, as agressões antissemitas dispararam.
O último ataque, ou mais recente, pois tristemente não vão parar, foi o inacreditável caso de Grafton Thomas.
Armado com um facão, ele entrou na casa de um rabino no sábado à
noite e atacou cinco pessoas. A família estava celebrando o Chanucá, um
feriado religioso que, por simplificação ou assimilação, além da
coincidência de geralmente cair no fim de dezembro, é identificado como o
“natal dos judeus”.
É aquele em que são diariamente acesos os nove braços de um
candelabro, lembrando uma das muitas e antigas revoltas do povo judeu,
surpreendentemente vitoriosa e que levou à reconsagração do templo de
Jerusalém.
“Vou te pegar”, gritava Thomas para as vítimas atacadas dentro de casa.
Ele é um homem muito alto e forte. Chegou a jogar futebol americano profissionalmente.
Também é negro, o que expõe, para quem quiser ver, uma realidade
incômoda: nessa região dos Estados Unidos, as agressões contra judeus
são frequentemente praticadas por afro-americanos.
Os ataques dispararam desde o começo de dezembro. Vão de agressões
verbais, com empurrões, ao extremo do assassinato de quatro pessoas num
supermercado kosher, a comida dos judeus que seguem mandamentos
religiosos sobre alimentação, em Jersey City.
Os assassinos, um homem e uma mulher, eram de um grupo marginal, os Israelitas Hebraicos Negros.
Seus seguidores consideram-se os “verdadeiros” judeus, sendo que os
judeus da vida real são “impostores” malvados, responsáveis por crimes
contra negros que vão da escravidão à violência policial.
A maluquice é brava, mas não muito diferente da pregada por Louis
Farrakhan, o fundador da Nação do Islã, uma versão americanamente
própria da religião muçulmana, baseada numa espécie de supremacia negra
permeada por antissemitismo virulento.
A ideia de que uma minoria discrimine e até, nos casos extremos, agrida outra minoria é de extrema incorreção política.
Depois dos assassinatos em Jersey City, o jornal Jerusalem Post
reclamou, com razão, que “não houve protestos nem marchas”, nem as
manifestações habituais de revolta nos casos de atiradores soiitários
que praticam suas atrocidades com tanta frequência nos Estados Unidos.
“Na sociedade americana só existe lugar para um tipo de racismo, o
dos supremacistas brancos de extrema-direita”, disse o jornal.
Um ato hediondo como o praticado por Robert Gregory Bowers, o
atirador que matou onze pessoas numa sinagoga de Pittsburgh em outubro
do ano passado, preenche todos os requisitos do repúdio universal. Um
ultradireitista branco, armado com uma AR-15 e três Glocks e as mais
extremas teorias conspiratórias.
É possível dizer que tanto Bowers quanto Grafton Thomas, o esfaqueador do Chanuçá, são malucos?
Com toda certeza. Que pessoa normal sairia matando escolhidos pelo fato de serem judeus?
Como nos Estados Unidos o desequilíbrio mental, por si, não elimina a
aplicação da justiça convencional – é preciso provar que criminosos com
doenças psíquicas não tinham noção do crime praticado -, será
interessante acompanhar o julgamento de Robert Bowers e Grafton Thomas.
Não se espere nenhuma leniência com um ou outro.
A justiça americana é implacável, ao contrário de casos ocorridos na
Europa, onde a condição de refugiados ou de migrantes vindos de países
em guerra foi usada como atenuante.
A situação, por motivos óbvios, é mais complicada na Alemanha, onde a
grande onda humana que entrou pelas fronteiras abertas por Angela
Merkel propiciou casos flagrantes de antissemitismo como o do refugiado
sírio que atacou a cintadas um “judeu” de quipá – na verdade um
israelense árabe que usou de propósito o chapeuzinho religioso.
Um tribunal alemão determinou, por exemplo, que o antissemitismo não
havia sido um fator no caso de três palestinos que incendiaram uma
sinagoga em Wuppertal.
Segundo dados do Ministério do Interior, 90% dos 1 800 episódios de
antissemitismo registrados em 2018 foram procedentes da extrema-direita.
Na Holanda, 70% dos mesmos crimes são cometidos por cidadãos de origem árabe ou muçulmana.
Na França, são mais de 50% – e 100% de todos os episódios violentos.
O que acontece na Alemanha? Existe muito mais do que uma relutância
em associar o aumento da criminalidade comum ou de motivação islamista à
entrada recente de quase dois milhões de estrangeiros procedentes de
países onde o ódio aos judeus é cultivado oficialmente, incentivado por
pregadores religiosos e socialmente mais do que normalizado.
Muitas vezes, os dados são distorcidos de propósito para mascarar sua origem.
Uma pesquisa citada pelo site Times of Israel com centenas de judeus
alemães que foram alvo de episódios antissemitas mostrou um resultado
muito diferente das estatísticas oficiais.
Dos entrevistados, 41% disseram que o perpetrador tinha sido “alguém
com visão muçulmana radical” e 20% associaram a agressão à extrema
direita. Mais 12%, à extrema esquerda.
A “conversão” em massa da esquerda ao antissionismo está na origem
das explícitas e vergonhosas manifestação que, a pretexto de criticar
Israel, entram sem nenhum disfarce no campo do ódio aos judeus.
O caso de Jeremy Corbyn, o líder que deixa o comando do Partido
Trabalhista depois de uma derrota histórica, é o mais emblemático.
Corbyn e seus seguidores, reunidos na tendência chamada Momentum,
praticaram tantos atos descarados de antissemitismo que não deu para
esconder nem de tradicionais militantes trabalhistas.
A derrota nas urnas foi causada pela insurreição de eleitores
históricos. Cerca de um milhão de pessoas que sempre votaram nos
trabalhistas mudaram de lado e deram uma vitória acachapante ao Partido
Conservador.
Foram motivados pela esquerdização das lideranças trabalhistas e de partidos como o Liberal Democrata.
Logo depois da vitória de Boris Johnson e dos conservadores, Jenny
Tonga, que foi parlamentar liberal-democrata durante sete anos, resumiu
abertamente a opinião de muita gente da esquerda na Grã-Bretanha.
“O rabino-chefe deve estar dançando na rua. O lobby pró-Israel ganhou
nossa eleição geral mentindo sobre Jeremy Corbyn”, escreveu ela no
Facebook.
Detalhe: ela tem o título de baronesa (os partidos no poder ou na
oposição apresentam suas listas de candidatos à honraria) e um lugar na
Câmara dos Lordes.
Dá uma vergonha profunda em qualquer pessoa, de qualquer origem ou
simpatia ideológica, saber que manifestações assim viraram padrão entre
simpatizantes da esquerda que, no passado, marchava contra o fascismo e a
perseguição aos judeus.
A baronesa Tonga é, hoje, uma das faces muito feias, do
antissemitismo que deixou seu ninho tradicional e espalha ovos de
serpente em outras esferas.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário