terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Na vida moderna, a melhor opção é o ecumenismo, com total respeito ao Estado laico


Papa Francisco posa para foto ao lado de diversos líderes religiosos após assinatura de declaração contra a escravidão no Vaticano nesta terça-feira (2) (Foto: Osservatore Romano/Reuters)
No Vaticano, o papa Francisco é um grande defensor do ecumenismo
Carlos Newton
O Natal e a chegada do Ano Novo representam uma época propícia a que se reflita sobre Religião e Política, duas práticas que sempre estiveram interligadas e só começaram a verdadeiramente se separar na Era Moderna, mas apenas em alguns países  Longe de extremismos,  é preciso defender forma ardorosa o ecumenismo e o Estado laico, não é possível concordar com retrocessos num país pluralista como o Brasil.
Há quem defenda a tese de que Jesus Cristo não aceitava o ecumenismo, e a base dessa crença estaria em (Mateus 6.24), pois Jesus disse: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro”.
DISSE JESUS – As aparências enganam. Quando a citação dessa mensagem é feita por inteiro, surge uma visão mais ampla, mostrando que Cristo não estava se referindo a outro Deus ou religião. “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom” – relatou o apóstolo Mateus.
A meu ver, não se pode considerar Mamom como um Deus, pois a palavra grega “mammonas” significa Riqueza e Dinheiro. E justamente é nesta importantíssima parte da Bíblia que Jesus prega o desprendimento dos bens materiais, ao dizer: “Olhai os lírios do campo”, defendendo a humildade e o desprezo à riqueza, ao mesmo tempo em que fazia críticas aos “homens de pequena fé”.
Posso estar errado, é claro, mas a meu ver, Cristo estaria a condenar o chamado Deus Dinheiro, que continua a dar as cartas no jogo político-administrativo das nações, mais de 2 mil depois.
FÉ EM DEUS – No meu modo de ver, todas as religiões que enaltecem Deus merecem respeito, devido à diversidade das culturas existentes na humanidade. Enquanto o pensamento do mundo ocidental se volta para a extraordinária presença de Jesus Cristo, é sempre bom lembrar também os outros enviados de Deus, que estruturaram as bases da religiosidade em outras partes do mundo dito civilizado, embora até hoje ainda não se possa dizer que já exista realmente civilização em sua expressão mais verdadeira, digamos assim.
Com justa razão, o genial historiador inglês Kenneth Clark (1903-1983) costumava ironizar, dizendo: “Civilização? Nunca conheci nenhuma. Mas se algum dia encontrar alguma, sei que saberei reconhecê-la...”
LEMA DA BASTILHA – Toda religião que se preza defende a igualdade, a fraternidade e a liberdade. Não foram os revolucionários franceses de 1789 que inventaram esse lema na Queda da Bastilha, apenas copiaram o que aprenderam na Igreja. Não incluíram caridade, dignidade, honestidade e humildade, porque assim o lema ficaria muito extenso e perderia o impacto.
E tudo isso vem desde Krishna na Índia (3 mil anos antes de Cristo); Lao Tse na China (1.300 a.C.); Moisés no Egito e Oriente Médio (1.291 a.C); Buda na região do Nepal/Himalaia (600 anos a.C.); Confúcio no Nordeste da China (550 anos a.C.); Sócrates na Grécia (469 a.C.); Jesus Cristo na Palestina, com a abertura da atual nova Era; e Maomé (570 depois de Cristo).
Não foi à toa que o portentoso filósofo tcheco-austríaco Karl Kautsky (1854/1938) estudou tanto a História do Cristianismo, os evangelhos, as relações de Jesus  com os essênios, seita judaica socialmente evoluída
CRISTO REVOLUCIONÁRIO – Assim como outros grandes historiadores, em sua obra “As Origens do Cristianismo”, Kautsky dizia que Pôncio Pilatos, governador da Judeia, ao julgar Jesus Cristo, não o considerou um simples pregador religioso, mas um líder revolucionário que lutava para desestabilizar o Império Romano na Palestina. Por isso, condenou-o à crucificação, castigo reservado aos rebeldes e outros inimigos da sociedade, como os ladrões.
Naquela época, os rebeldes eram chamados de “zelotes”, expressão que agora entrou em moda aqui no Brasil, na caça aos corruptos. E no entender de quem almeja ser todo-poderoso na Terra, os líderes religiosos continuam a ser revolucionários e ameaçadores, embora defendam os pobres apenas por compaixão e jamais atuem visando a alcançar o Poder, por saberem que isso pouco significa.
É justamente por isso que a grande maioria dos líderes religiosos merece ser cultuada para sempre, enquanto a quase totalidade dos líderes políticos merece ser esquecida o mais rápido possível.
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P.S. – O Papa Francisco é um líder muito avançado socialmente. Sabe respeitar as demais crenças religiosas fora do Cristianismo. É um grande defensor do ecumenismo. Um nome que ficará para sempre na História. (C.N.)

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