"Vigarices e alucinações à parte, a
falta de competência técnica levou-me nos últimos anos a fugir aos
debates acerca do aquecimento global, perdão, das alterações climáticas,
perdão, da emergência climática. Hoje, acabei por arranjar uma posição
convicta". A certeira crônica de Alberto Gonçalves sobre Greta, essa apocalíptica chata de galochas, e seus parvos seguidores:
Numa paródia moralista, “conscienciosa” e “correcta”, um humorista
australiano “criou” uma linha de apoio telefónico para adultos que se
irritam com a pequena Greta. É uma ideia. E uma linha de apoio para
adultos que levam, ou fingem levar, a pequena Greta a sério?
Eu próprio reconheço que a pequena Greta não é uma adolescente comum.
Os adolescentes comuns dizem disparates comuns. A pequena Greta emite
barbaridades com impressionante frequência, o que no caso dela é
compreensível. Afinal, estamos a falar não só de uma adolescente, mas de
uma adolescente que falta às aulas, que sofre de um problema mental
devidamente diagnosticado e que é explorada pelos pais com fins
económicos. Sem instrução, sem juízo e sem uma família decente, é
natural que a pequena Greta não dê uma para a caixa. E, nos tempos que
correm, é natural que as pessoas corram a ouvi-la.
Também é verdade que não houve muitos a correr, ou a conduzir
veículos poluentes, para a doca de Alcântara ou lá onde é que foi que a
pequena Greta atracou, escoltada por uma resma de lanchas “verdes” da
GNR. Tirando os repórteres, alguns deputados da esquerda e da
extrema-esquerda, aquele autarca de Lisboa e uma trupe de saltimbancos
liderada por um genro do conselheiro de Estado Francisco Anacleto Louçã,
não havia ninguém.
Por mim, estranhei a ausência de cegos e paralíticos em busca da
bênção (a dra. Joacine marcou presença e, que se saiba, continua gaga). E
estranhei a ausência de público em geral. É possível que os cidadãos se
tenham revisto na carta que o ministro do Ambiente enviou previamente à
pequena Greta, e achassem que a interacção com a moça se esgotara aí:
em matéria de ridículo era difícil conseguir melhor. As televisões
tentaram. Eu, que estava num hotel, liguei o televisor às oito e meia e
uns nove canais transmitiam a chegada em directo. Quatro horas depois,
num café, a transmissão da chegada, ainda não concretizada, prosseguia.
Por pudor, não reproduzo os comentários dos “jornalistas”. Por pirraça,
noto que a crise dos “media” é inteiramente justificada. Entretanto, a
pequena Greta já rumou a Madrid, para uma Cimeira do Clima em que todos
os participantes viajaram em meios alternativos – alternativos aos
respectivos discursos sobre a “pegada ecológica”.
Eis a grande questão: quem são os fiéis da pequena Greta? Há diversas
tendências, que às vezes se sobrepõem. Em primeiro lugar, temos os
pasmados. Os pasmados inscrevem-se numa longa linhagem. São os
descendentes em linha recta dos chalupas que passavam a vida à espera do
regresso de um profeta qualquer e gritavam “Lá vem ele! Lá vem ele!”
sempre que Matias, o bêbado da aldeia, dobrava uma esquina aos
tropeções. São indivíduos carentes de um santo que os salve da exacta
calamidade que o santo anunciou.
Em segundo lugar, temos os alarmistas. São os que não apenas
compraram a versão blu-ray do “documentário” de Al Gore como viram
aquela pessegada. Estão convencidos de que o degelo destruirá a Terra em
2030 com o fervor com que se convenceram de que o degelo destruiria a
Terra em 2010. E se não é o degelo é a seca. E se não é 2030 é 2045.
Garantido é que isto vai tudo pelos ares.
Em terceiro lugar, temos os activistas. Diferem dos alarmistas na
medida em que evitam os “documentários” e outra “informação” disponível
acerca do clima e saltam logo para as teses finais: a culpa é do
capitalismo, em particular dos EUA (menos os EUA de Obama), de Israel,
do Ocidente, das democracias representativas e de Pedro Passos Coelho.
Se terraplanássemos a modernidade, com excepção dos telemóveis deles e
dos carros deles e dos voos deles, o problema ficaria resolvido. São os
valentes que protestam contra o muro “de Trump” mas fecham a porta de
casa à chave. Face ao apocalipse iminente e indiscriminado, propõem o
apocalipse imediato e selectivo.
Em quarto lugar, temos os oportunistas. Os oportunistas são que
aproveitam aberraçõezinhas do calibre da pequena Greta para espalhar o
pânico e ganhar dinheiro ou prestígio no processo. Não estou a criticar a
energia eólica, por exemplo: estou a dizer que a defenderia com maior
empenho se fosse accionista de uma empresa de ventoinhas com compinchas
no poder.
Em quinto lugar, temos os socialistas. Da forma que costumam
descobrir no que calha, do turismo (a “preservação da identidade
histórica”) aos refrigerantes (a “educação para a saúde”), os
socialistas descobrem nas “preocupações ambientais” uma oportunidade –
para aumentar impostos.
Vigarices e alucinações à parte, a falta de competência técnica
levou-me nos últimos anos a fugir aos debates acerca do aquecimento
global, perdão, das alterações climáticas, perdão, da emergência
climática. Hoje, acabei por arranjar uma posição convicta. Devo-a ao
famoso consenso. Se criaturas como a pequena Greta, o eng. Guterres, o
dr. Costa, o prof. Marcelo, o arquitecto Louçã e o genro do arquitecto
Louçã acham que o homem está a influenciar o clima, o bom senso manda
concluir que o homem, seja ele quem for, não tem nada a ver com isso. A
pequena Greta e os seus fiéis fizeram-me acreditar: agora acredito que a
hecatombe por via do CO2 é capaz de ser uma pantominice pegada. Logo,
se as criaturas se afligem, eu ando descansado.
Mesmo que, por hipótese absurda, uma vasta quantidade de gente que
nunca teve razão na vida tivesse razão nesta história em particular eu
continuaria descansadíssimo. Desde já, porque bandas do gabarito dos
Coldplay prometeram não voltar a tocar até que inventem concertos amigos
do ambiente (estas coisas é que não se inventam). E depois porque, no
limite, dar cabo de um mundo que venera a pequena Greta não me parece
uma decisão excessivamente lamentável.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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