sábado, 2 de novembro de 2019

Pai e mãe de Marielle Franco lamentam o afastamento da promotora bolsonarista


Os pais de Marielle Franco durante solenidade por um ano de seu assassinato Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
Para os pais de Marielle. a promotora era imparcial
Vera Araújo e João Paulo Saconi
O Globo

O pai e a mãe de Marielle Franco (PSOL-RJ), assim como a viúva de Anderson Gomes, lamentam a saída da promotora Carmen Eliza Bastos da investigação sobre os assassinatos da parlamentar e do motorista. Ela decidiu se afastar do caso, conforme informou nesta sexta-feira o Ministério Público do Rio (MP-RJ). Publicações em que Carmen demonstrava apoio ao presidente Jair Bolsonaro em uma rede social vieram à tona esta semana.
Após o Jornal Nacional noticiar que o presidente foi citado por um porteiro do condomínio onde morava, na Barra da Tijuca, em dois depoimentos, o MP afirmou que ele estava errado. Nos bastidores, havia receio de que o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) abrisse um processo administrativo contra Carmen.
ÀS PRESSAS – Após a revelação dos depoimentos do porteiro, o MP concluiu, às pressas, uma perícia das gravações feitas da portaria aos moradores. O resultado, apresentado em entrevista coletiva na quarta-feira — com a participação da promotora — apontou que foi o sargento reformado da PM Ronnie Lessa, acusado pela morte de Marielle e Anderson, quem autorizou a entrada do seu comparsa Élcio de Queiroz no condomínio, e não Bolsonaro, como havia dito o porteiro.
A qualidade da perícia foi questionada pela Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais. Ontem, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) solicitou formalmente que o procedimento seja refeito.
Em uma das publicações, de outubro de 2018, Carmen aparece vestida com uma camisa estampada com o rosto de Bolsonaro.
“EMOCIONADA” – Em outro post, do dia 1º de janeiro deste ano, a promotora compartilhou uma imagem da posse presidencial e escreveu: “Há anos que não me sinto tão emocionada. Essa posse entra naquela lista de conquistas, como se fosse uma vitória”. Também há um registro dela ao lado do deputado Rodrigo Amorim (PSL-RJ), que quebrou uma placa com o nome de Marielle no ano passado.
Os textos e fotos foram publicados pelo site “The Intercept Brasil”. Diante da repercussão de suas posições políticas, Carmen preferiu deixar a apuração do crime — ela tinha até esta sexta-feira para decidir se permaneceria ou não na investigação. Consultados em reunião com o procurador-geral de Justiça do Rio Eduardo Gussem, os pais de Marielle e a mulher de Anderson se manifestaram favoráveis à permanência dela no caso.
DIZEM OS PAIS – Antônio Francisco da Silva Neto, pai da parlamentar, afirmou que a saída de Carmen foi “uma vitória do outro lado”. Para ele, a promotora conduzia o caso “de forma inteligente”.
— Foi covardia o que fizeram com ela. Independente de quem ela vote ou partido que apoie, o trabalho dela sempre foi pautado pela isenção. Somos testemunhas disso. Infelizmente, apesar do nosso apelo para ela continuar à frente das investigações e da ação penal, não nos ouviram — disse Antônio.
Ao Globo, Marinete Silva, mãe de Marielle, disse que o afastamento “foi uma perda”.
NAS REDES SOCIAIS -Na noite de sexta, em uma rede social, ela publicou uma mensagem dizendo ser necessário ter confiança no trabalho do Ministério Público do Rio:
“Sobre os últimos acontecimentos relativos à investigação da execução de Marielle Franco e Anderson Gomes, esclareço como mãe de Marielle que: precisamos confiar no trabalho do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, no que tange ao cumprimento do seu papel constitucional. Porém, existindo algum motivo de suspeição/impedimento de algum de seus membros, cabe à instituição as medidas necessárias para a regularização. Precisamos do Estado Democrático de Direito e confiamos na Justiça”


A viúva de Anderson Gomes, Agatha Arnaus Reis, também comentou positivamente a atuação de Carmen: “Não houve, durante as audiências em que estive, qualquer ato que desabonasse a atuação da doutora Carmen. Acredito que a posição partidária dela não teve qualquer influência na atuação dela. Nem para um lado, nem para outro. Afinal de contas, todos temos nossas opções, né?!”
DIZ A IRMÃ – Em publicação feita na última quinta-feira no Twitter, Anielle Franco, irmã de Marielle, se manifestou contra a atuação da promotora no caso. Procurada na sexta-feira, após a reunião em que os pais foram consultados pelo MP, ela não quis responder se mantinha a opinião do post.
“Semmm-orrr! Chama de mito, posa com camisa do mito, tira e posta foto com quem é desrespeitoso, se refere a galera da esquerda como esquerdopata, se emociona com um discurso de ódio, e tá na investigação do caso? O apocalipse já tá a caminho certo? NeeeéPosssíivelBraseel!”, escreveu Anielle na quinta.

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