sábado, 2 de novembro de 2019

Confira o que falta investigar para saber se o porteiro mentiu sobre Bolsonaro


Controle mostra que o ex-PM disse que iria para a casa 58
Carlos Newton
O assunto é explosivo, os admiradores de Bolsonaro apressadamente acreditaram na versão presidencial de que se trata de um complô contra ele, para derrubá-lo do governo, mas não é nada disso. O fato concreto é que o porteiro do condomínio “Vivendas da Barra” teria de prestar depoimento sobre o morador da casa 66, o sargento reformado Ronnie Lessa, da PM, que está preso sob suspeita de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes.
A grande surpresa foi o porteiro ter afirmado, em dois depoimentos, que no dia da morte de Marielle o ex-PM Élcio Queiroz entrou no condomínio com autorização da casa 58, residência de Bolsonaro, e não da casa 66, onde mora o sargento Ronnie Lessa. E a autorização teria sido dada pelo próprio Jair Bolsonaro, identificado pelo porteiro como “JB” na planilha de controle de visitantes, embora o então deputado federal do PSC estivesse em Brasília.
PLANILHA É A PROVA – A primeira questão a ser apurada é o caso da ficha que registra a entrada e saída de visitantes. Para efeitos de prova judicial, o  principal controle que pode ser usado é a planilha original, preenchida por manuscrito do porteiro, que tem de preencher todos os quesitos.
No dia da morte de Marielle Franco, às 17h10m, o empregado do condomínio ele anotou todas as informações: nome do visitante (Élcio), modelo do veículo (Logan), cor (prata), placa (AGH-8202), casa (58), autorizador (JB). Todas as informações estão corretas. Não é verossímil que o porteiro tenha “inventado” que o visitante mencionou a casa 58, tanto assim que ele estranhou, ao acompanhar o Logan pelas câmaras de segurança e ver que ele se dirigiu para a cada 66.
Ao depor, disse que interfonou de novo para a casa 58 e quem atendeu lhe confirmou que estava tudo certo. A única dúvida que ainda resta é saber quem atendeu ao interfone e se responsabilizou por autorizar a entrada.  
TIPO DE INTERFONE – Para elucidar o assunto, outra questão que precisa ser investigada é o sistema de interfone: se é do tipo mais comum ou se funciona acoplado ao computador, num aplicativo que opera com telefones comuns e celulares. 
Na primeira hipótese, caso se trate de um interfone, a ligação teria caído na casa 58, mas foi atendida por outro homem, jamais pelo presidente Bolsonaro, que se encontrava em Brasília. E o porteiro pode ter se enganado ao julgar que se tratava do dono da casa, porque esses interfones têm interferências e estáticas, às vezes é difícil reconhecer quem está falando.
Porém, na hipótese de se tratar de interfone operado por computador, quando não há ninguém em casa para atender, a chamada é repassada automaticamente ao celular do morador – no caso, o presidente Bolsonaro, que estava em Brasília.
Às 15h58. uma ligação da portaria para a casa 58 que precisa ser ouvida
CASA VAZIA – Portanto. para saber se Bolsonaro atendeu, é preciso confirmar se a casa 58 estava vazia. O mais provável, no entanto, é que havia alguém lá.
Embora na quarta-feira o vereador Carlos Bolsonaro tenha proclamado que não houve ligações entre a portaria e a casa 58 no dia do assassinato de Marielle, as próprias imagens que ele exibiu nas redes sociais desmentem essa informação. Na planilha do áudio, há uma ligação entre a portaria e a casa 58 às 15h58m, mas esse áudio Carlos Bolsonaro esqueceu de exibir nas redes sociais.
É importante que a Polícia ouça essa gravação, porque assim se saberá quem estava atendendo ao interfone da casa 58 uma hora antes da visita do ex-PM Élcio Queiroz (será parente do famoso Queiroz, assessor de Flávio Bolsonaro?).
TRÊS MINUTOS – Outro ponto a ser investigado é que, nas redes sociais, Carlos Bolsonaro exibiu um áudio das 17h13 minutos do dia 14 de março de 2018, dia do assassinato de Marielle e Anderson, em que está registrada uma conversa do porteiro com o morador da casa 66, o sargento reformado Ronnie Lessa.
Ou seja, há um hiato de três minutos entre a anotação do porteiro e o registro da ligação para Lessa, ainda não esclarecido. É preciso saber se as ligações do porteiro para a casa 58 foram apagadas. Tudo indica que sim. Uma perícia no computador mostrará a verdade facilmente.
Bem, essas são algumas das questões que ainda precisam ser investigadas antes que um trabalhador brasileiro seja acusado de ter prestado falsos depoimentos, sem haver provas que comprovem o fato.

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