segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Paulo Azi: “PSL paga o preço de ser um partido sem raiz”


Presidente do DEM na Bahia, o deputado federal Paulo Azi disse que a crise do PSL afeta a relação do governo do presidente Jair Bolsonaro com os demais partidos e atrapalha as votações de projetos na Câmara

Tribuna da Bahia, Salvador
28/10/2019 15:53 | Atualizado há 4 horas e 14 minutos
   
Foto: Divulgação

Por: Osvaldo Lyra - Editor de política e Paulo Roberto Sampaio - Diretor de redação

Presidente do DEM na Bahia, o deputado federal Paulo Azi disse que a crise do PSL afeta a relação do governo do presidente Jair Bolsonaro com os demais partidos e atrapalha as votações de projetos na Câmara. Nos últimos dias, Bolsonaro entrou em confronto com o presidente nacional do PSL, Luciano Bivar, e a sigla se dividiu entre bolsonaritas e bivaristas.
“(O PSL) paga o preço de não ser um partido que tenha raízes, não tenha uma linha de pensamento única. Isso gerou esse tipo de divergência culminando neste racha que é muito ruim para o presidente, porque isso demonstra uma fragilidade nas relações dele com o partido. Isso causa um clima de desconfiança com outros partidos. No momento em que o presidente não consegue ter uma relação harmoniosa com o seu partido, isso efetivamente traz uma relação de desconfiança com os demais. E é por isso que até hoje ele não tem uma base consolidada de apoio no Congresso Nacional”, avaliou o democrata, em entrevista à Tribuna.
Para Azi, o clima de radicalização ainda não passou no país. “O que é muito ruim para o país porque atravessa há algum tempo uma crise econômica e precisa de uma agenda de reformas, que faça com quer os investimentos privados alavanquem o crescimento do país e gere emprego. E esse clima, essa situação de extremismo dificulta”, pontuou. Ainda na entrevista, ele fala sobre a eleição de 2020, 2022 e sobre as reformas do país.
Tribuna – Como o senhor avalia o momento atual da política brasileira? Muito conturbado ainda?
Paulo Azi – Permanece ainda um clima de radicalização que foi a marca da última campanha eleitoral. E infelizmente este clima ainda persiste com o protagonismo dos extremismos tanto de esquerda quanto de direita. O que é muito ruim para o país porque atravessa há algum tempo uma crise econômica e precisa de uma agenda de reformas, que faça com quer os investimentos privados alavanquem o crescimento do país e gere emprego. E esse clima, essa situação de extremismo dificulta.
Tribuna – Como o senhor vê essa crise do PSL com o governo Bolsonaro? O senhor acredita que eles vão conseguir acalmar os ânimos? Isso mostra a fragilidade política do governo?
Paulo Azi – É muito ruim para o governo, para o próprio presidente. Na realidade, o PSL é um partido que passou existir agora. Fez uma bancada muito grande fruto da vitória do presidente, que puxou muitos deputados. Mas agora paga o preço de não ser um partido que tenha raízes, não tenha uma linha de pensamento única. Isso gerou esse tipo de divergência culminando neste racha que é muito ruim para o presidente, porque isso demonstra uma fragilidade nas relações dele com o partido. Isso causa um clima de desconfiança com outros partidos. No momento em que o presidente não consegue ter uma relação harmoniosa com o seu partido, isso efetivamente traz uma relação de desconfiança com os demais. E é por isso que até hoje ele não tem uma base consolidada de apoio no Congresso Nacional.
Tribuna – Isso pode atrapalhar as votações importantes para o governo no Congresso?
Paulo Azi – Claro que atrapalha, mas é óbvio que o Congresso, sob a liderança do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e do presidente (do Senado) Davi Alcomlubre, vem conduzindo – independente desses solavancos que são originadas, criadas pelo próprio governo – uma agenda que faz com o que país retorne ao caminho do desenvolvimento. O Congresso hoje, sob a liderança dos dois presidentes, é um ponto de equilíbrio não só da política brasileira, mas também é um sinal de confiança para os mercados, investidores. É por isso que a economia, mesmo diante da dificuldade de avançar com algumas propostas e neste clima de esgarçamento, consegue dar sinais claros que retomada do crescimento está próxima. A retomada poderia ser em um ritmo muito mais acelerado, mas ainda assim todos os sinais da economia indicam que o país possivelmente no próximo ano já estará em outro patamar de desenvolvimento e geração de emprego.
Tribuna – O Democratas pode se beneficiar com essa crise no PSL, já que tem deputados que se mostram simpáticos ao partido?
Paulo Azi – Não é esse o nosso objetivo. O próprio presidente nacional do partido, ACM Neto, já deu declarações públicas que enxerga que a crise não é boa. Essa situação no partido é ruim. E a gente não está em nenhum momento buscando atrair parlamentares e muito menos incentivando essa crise. A gente preferia que as relações estivessem harmoniosas, normalizadas para que a gente pudesse criando uma relação com o PSL como temos com outros partidos. E buscar uma agenda que realmente interesse ao país.
Tribuna – O casal Dayane Pimentel e Alberto Pimentel se precipitou ao romper com o presidente Jair Bolsonaro? Isso pode impactar na aliança com o governo ACM Neto?
Paulo Azi – Eu não conversei com Dayane e com o Alberto depois desse episódio. Então, não conheço quais foram as razões que fizeram com ela adotasse o posicionamento que adotou. Não vi declarações dela no sentido de que rompeu com o presidente. Pelo que li na imprensa, ela apenas se posicionou partidariamente ao lado do presidente do partido (Luciano Bivar). Mas isso não indicou o rompimento dela com o presidente da República. Mas não posso dizer quais foram as razões que levaram ela a tomar a decisão de ficar ao lado do presidente do partido. E não vejo que isso de maneira alguma venha afetar as relações que ela mantem com o nosso grupo, com o prefeito ACM Neto. O marido dele que vem tendo uma boa atuação na pasta que comanda em Salvador.
Tribuna – Como viu as mensagens divulgadas pelo The Intercept? De alguma maneira, atingiu a Lava Jato?
Paulo Azi – Eu vi como um ataque ao próprio sistema democrático de direito. São vazamentos ilegais, que não se têm autenticidade dos diálogos que foram publicados. Mesmo que se esses diálogos fossem verdadeiros, eu absolutamente não vi nada que venha desabonar a conduta daqueles que conduziram a operação Lava Jato. Considero que a Lava Jato foi um divisor de águas no país. O país é outro depois da Lava Jato. O juiz Sergio Moro prestou um serviço inestimável ao país e a democracia brasileira quando desnudou o esquema de corrupção que estava entranhado na máquina pública e foi patrocinado pelo PT que comandava o governo. Isso (a Lava Jato) trouxe enormes benefícios e todos nós precisamos ficar vigilantes para impedir que determinadas articulações venham fazer com que a Lava Jato não chegue ao seu final, que é desmontar definitivamente toda e qualquer modelo de corrupção que tenha sido implantado no nosso país.
Tribuna – Como o senhor vê a gestão do baiano Augusto Aras como procurador-geral da República? E se há algum tipo de ameaça ao combate à corrupção no país?
Paulo Azi – Eu acho que o presidente fez uma bela escolha. O procurador Augusto Aras tem todas as condições de realizar um belo trabalho a frente da PGR. Tem capacidade intelectual, preparo jurídico, conhecimento da Constituição. Portanto, para a Bahia, foi uma honra ter um baiano comandando essa importante instituição brasileira. É claro que todos nós precisamos estar vigilantes na Câmara dos Deputados, observando os passos do próprio Supremo Tribunal Federal para que possamos reagir a qualquer tentativa seja de alteração da legislação ou com interpretações jurídicas que venham colocar empecilhos que outras operações possam acontecer no nosso país. O país precisa definitivamente ficar livre dessa chaga que é a corrupção.
Tribuna – Tem espaço para uma CPI da Lava Jato? Ou o senhor acha que o corporativismo e o temor vão imperar e o Judiciário não será investigado?
Paulo Azi – É uma CPI que está no âmbito do Senado da República. Eu ainda não tenho condições de opinar se efetivamente será implantada ou não. Existem aqueles que acham que a CPI pode trazer uma crise institucional afinal de contas é um poder que está fiscalizando outro. Por outro lado, tem muitos pontos que o requerimento que deu origem ao pedido da CPI que são consistentes. São pontos que efetivamente carecem de uma resposta clara do poder Judiciário. O poder Judiciário brasileiro é o poder que está praticamente acima dos outros poderes. Ninguém fiscaliza, ninguém cobra resultados. E isso é muito ruim para a própria democracia. Não sei se a CPI será implantada ou não, mas só o faço de isso estar sendo debatido já é um ponto para que todos nós possamos fazer esse tipo de reflexão.
Tribuna – Como avalia a reforma da Previdência que acabou de ser aprovada no Senado?
Paulo Azi – Foi uma reforma fundamental para o país. Qualquer reforma da Previdência em qualquer lugar do mundo é sempre política, porque afinal está se buscando diminuir um pouco os valores que as pessoas recebem quando forem aposentadas. E pedindo que essas pessoas trabalhem um pouco mais. Portanto, ela será sempre polêmica e impopular. O Congresso Nacional aperfeiçoou a proposta do presidente, procurou proteger os mais pobres, os mais humildes, os mais simples. Colocou uma carga de sacrifício maior nas categorias que ganham mais, fazendo com que se invertesse o atual modelo do sistema previdenciário do Brasil. Essa reforma é o primeiro passo para que o país possa voltar a ter um orçamento equilibrado em que as despesas públicas sejam coerentes com as despesas e a partir dai se possa construir um novo modelo econômico, para que o país volte a ter solidez econômica, ser respeitado e dar tranquilidade para quem vai investir no país. 
Tribuna – A gente vê uma expectativa muito grande agora para a votação da reforma tributária. Tem uma PEC na Câmara e outra no Senado. O que esperar dessa reforma?
Paulo Azi – Eu sou muito cético em relação à reforma tributária. Eu não creio, inclusive, que ela seja aprovada este ano. Na verdade, o que está em tramitação é mais uma proposta de simplificação tributária. Tem um emaranhado de leis que tratam dessa questão de tributos e as empresas são penalizadas com os custos para entender aquilo que está sendo cobrado. O que se busca neste momento e acho que de maneira correta é simplificar. E preparar um terreno para que momento em que a economia permita se busque uma redução da carga tributária, que hoje é uma das maiores do mundo. O Brasil tem uma carga tributária de 35%. Não há espaço para qualquer reforma que aumente. Não se iluda quando se fala em reforma todos os entes pensam em aumentar tributos e as empresas em diminuir. Tem que buscar o ponto de equilibro. O governo está em um momento em que não pode abrir mão das receitas porque já está com um rombo nas suas contas. E por outro lado as empresas já não suportam mais o aumento de tributos. Neste primeiro momento, o que se pode fazer é simplificar os tributos para as pessoas. E no segundo momento pode se pensar em uma reforma que vise, sobretudo, a redução da carga tributária do nosso país.
Tribuna – Qual será o impacto da reforma administrativa que o governo planeja?
Paulo Azi – Eu acho que é uma reforma importante, fundamental para o estado brasileiro. O estado brasileiro hoje é muito pesado e ineficiente. Mais de 60% de tudo que se arrecada é pra se pagar aposentadoria e salários, e sobre muito pouco para todas as outras ações e compromissos que o governo tem com a população. Chega um momento em que precisa se discutir as carreiras dos servidores públicos, tratar das questões de promoções, de reajuste para que possa ter ao mesmo tempo uma legislação justa com o servidor, mas também que tenha recursos para o estado investir.
Tribuna – Falando de Bahia, como avalia o governo de Rui Costa? Qual o erro e o principal acerto dele?
Paulo Azi – O governador Rui Costa não iniciou o segundo mandato. Não há nenhuma ação inovadora. A Bahia continua com índices vergonhosos na Educação e na Segurança Pública. E não se observa, não se conhece nada de novo que o governador proponha no sentido de alterar essa situação. E já sofre uma concorrência. No primeiro ano, já tem visto nomes como candidatos à sucessão. Isso é no meu entender é ruim para administração pública e para a própria imagem do governador. É difícil. É um problema que é dele e do seu partido. Não vejo a despeito de uma propaganda muito competente, que é prioridade do governo Rui Costa, como foi do governo Jaques Wagner, a gente não conhece qualquer ação nova. Eu desafio seja na área de Educação, de Saúde, ou de Segurança, que efetivamente mude os indicadores que estão entre as piores do Brasil.
Tribuna – Qual é a leitura que o senhor faz do quadro sucessório de Salvador em 2020? Bruno Reis se viabiliza?
Paulo Azi – Geralmente, a eleição municipal é pautada pelas questões municipais. E muito definida pela avaliação de quem está na cadeira tenha. E é por isso que nós temos muita tranquilidade que o nosso partido, que comanda a capital, vai fazer o sucessor. Primeiro porque vamos colocar um nome preparado, competente e todas as condições de administrar a cidade. E um nome que tenha o apoio e a confiança do prefeito de Salvador, que continua depois de sete anos um exemplo para o Brasil. Tenho certeza que quando chegar a eleição a população de Salvador vai reconhecer – como tem reconhecido – o sucesso dessa administração e vai apoiar o nome que irá apresentar. O nome de Bruno Reis é um nome que tem todas as credenciais para ser a figura que represente a segurança de ter um modelo de gestão que preze pela continuidade de tudo aquilo que o prefeito tem feito. Se for esse o escolhido, terá uma campanha bonita e será eleito.
Tribuna – Como observa a movimentação de Leo Prates, que hoje está no DEM, de se filiar ao PDT e ser candidato a prefeito?
Paulo Azi – O Leo é um companheiro promissor. É politicamente com muito talento. Tem todas as qualificações para pleitear qualquer cargo eletivo no nosso estado. É por isso que vários partidos ficam cortejando. Isso só mostra a competência dele.
Tribuna – Qual o tamanho do Democratas hoje e como pretende sair na próxima eleição?
Paulo Azi – Nós fizemos na última eleição 44 prefeitos. Estamos agora com um amplo processo interno, com atualização do nosso estatuto, e buscando definir pré-candidatos. Estamos em franco desenvolvimento para que a gente possa chegar em 2020 disputando na maioria dos municípios da Bahia. Temos uma prioridade muito clara que é os 50 maiores municípios da Bahia, mas claro buscar tendo candidatura na maioria dos municípios.
Tribuna – Qual a expectativa para 2022? ACM Neto é o candidato natural ao governo da Bahia?
Paulo Azi – Estamos muito longe disto. Mas é claro que o prefeito ACM Neto deixa a prefeitura de Salvador em 2021 com a maior aprovação que um prefeito já teve e isso dará a ele naturalmente a força política necessária para voos maiores. E o passo seguinte será a governador da Bahia. No momento certo, essa candidatura será colocada.

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